sexta-feira, 7 de março de 2008

Almeida Garret e Sintra


Oh! Cintra! Oh saudosíssimo retiro!
Onde se esquecem mágoas, onde se folga
De se olvidar no seio á natureza
Pensamentos que embala adormecido
O sussurro das folhas, c’o o murmúrio
Das despenhadas lymphas misturado!
Quem, descansado á fresca sombra tua,
Sonhou senão venturas? Quem, sentado
No musgo das tuas rocas escarpadas,
Espairecendo os olhos satisfeitos
Por céus, por mares, por montanhas, prados,
Por quanto há aí mais belo no universo,
Não sentiu arrobar-se-lhe a existência.
Poisar-lhe o coração suavemente
Sobre esquecidas penas, amarguras,
Ânsias, lavor da vida? – Oh grutas frias,
Oh gemedoras fontes, oh suspiros
De namoradas selvas, brandas veigas,
Verdes outeiros, gigantesca serras!
Não vos verei eu mais, delícias d’alma?

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