quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Isto não pode ser assim...
Casas do Alentejo
Na manhã do sábado passado, em apenas duas horas da minha vida...tiveram lugar quatro acontecimentos que me marcaram profundamente.
O primeiro e, por ordem, foi o caso do Ti António da Luisa relatado há dois dias.
O segundo liga-se com o primeiro, mas não falarei dele hoje, ficará para noutro dia.
O terceiro segue-se ao segundo, mas tambem ficará para outra altura.
Hoje decidi falar-vos do quarto.
Chegadas á casa da aldeia, abrimos as portas e janelas- fechadas há uns dez dias-para o sol e o ar entrarem, pois era a primeira manhã de sol depois de várias semanas de muita chuva, vento e frio.
Depois, eu fui varrer as folhas no jardim dinte da casa, e a Teresinha foi varrer as folhas no pátio atrás da casa.
Eu acabei e disse para a minha irmã: olha, vou apanhar um pouco de salsa para ti e para mim.
A salsa cresce por todo o lado junto ao portão que dá para o pátio.
Há aí um pequeno carreiro por onde passam as pessoas que moram numas casinhas lá atrás.
Nesta altura, por causa do inverno ele está enlameado e escorregadio.
Quando me aproximo, vejo á minha frente caminhando, a Ti Ana, uma velhinha que mora há pouco tempo em casa de um filho lá atrás, e que é tão pequenina, tão pequenina, que eu creio que não deve ter um metro de altura.Magrinha, tão magrinha, que deverá, quando muito, pesar uns trinta kilos.
Calçava umas galochas (botas de borracha)e vestia uma saia preta com roda, e trazia a envolver-lhe os ombros e as costas, um xaile ou uma espécie de capa, um lenço atado debaixo do queixo e um chapéuzinho preto por cima do lenço.
Vejo-a, caminhando á minha frente e digo-lhe: A senhora tenha cuidado para não escorregar e cair pois o chão está muito enlameado.
Só aí ela deu por mim e voltando-se para mim disse:
"Eu estou a ter cuidado."
Virada para mim, parecia mesmo uma menina pequena, com um rostinho pequenino e uma expressão infantil.Comoveu-me.
Perguntei-lhe: Como vai a senhora?
Esta frase dita com muito carinho, foi como se fosse uma chave que abriu por dentro o coraçãozinho dela, que estava tão cheio, tão cheio, capaz de rebentar.
Com lágrimas caindo daqueles olhinhos pequeninos, já sem brilho, ela disse-me:
"Aconteceram-me duas coisas muito tristes.
A primeira, foi que morreu a minha filha - e aqui começa a soluçar - em casa de quem eu estava em Almada."(uma cidade do outro lado do Rio Tejo)
Então contou-me toda a história da filha dela que faleceu há 4 meses.
A segunda, é que eu queria muito estar na minha casinha no Alentejo, que está fechada e eu estou aqui em casa do meu flho que foi operado ao coração e está de cama muito doente.
Eu disse: então a senhora gostava muito de ir para a sua casinha no Alentejo? "era a coisa que eu mais queria"disse ela."Já lá não vou há tanto tempo! Era lá que eu queria estar e era lá que eu queria acabar os meus dias.
Se Deus me desse dinheiro para eu poder pagar a uma mulher lá, para tomar conta de mim..."
E aqui, as lágrimas pingavam dos olhos a quatro e quatro...
Eu disse-lhe:
Quem me dera poder arranjar-lhe esse dinheiro para a senhora ir hoje já, para lá!
Então abracei-a e disse-lhe:Deixe-me dar-lhe um beijinho porque eu gosto muito de si.
A senhora é muito bonita! Tem uma cara tão linda! essas rugas ficam-lhe tão bem!
Então vi-a esboçar um sorriso e disse-me: "muito obrigada."
Lá se foi, andando e chorando.
E eu lá fui tambem, andando e chorando e pensando: Não pode ser, isto não pode ser assim.
Isto está errado, Não aceito, não posso aceitar que esta velhinha de noventa e dois anos, praticamenete no fim da vida, chore e sofra desta maneira com toda esta enorme tristeza que carrega no seu cansado coração.
Este velhinha, nesta altura da sua vida, precisava, e devia...de sorrir, de se alegrar, de ser carinhosamente tratada e cuidada e devia poder viver os seus últimos dias, gozando a sua casinha e desfrutando do seu saudoso canto, lá na terra onde nasceu, no Alentejo.
Que mundo é este?
Que civilização é esta ?
Que cultura é esta?
Onde os idosos levam o tempo chorando e sofrendo!
Algo está profundamente errado, algo precisa de mudar com urgência.
Tb acho que não pode continuar assim,é muito triste ver uma pessoa com essa idade sofrer assim,qdo deveria gozar de uma tranquilidade.
ResponderEliminarFiquei triste.
Um gde abraço amiga.
beijooo.
Embora não há nada que você possa fazer, fazes bem em não conformar, essas suas lágrimas de inconformismo seguramente chegam até Deus, que tem as nossas lágrimas todas guardadas em seu odre.
ResponderEliminarDoce Amiga!Não devia ser,mas é assim:na maioria dos casos a medida que as pessoas vão envelhecendo vão sendo esquecidas.Esquecidos são seus sentimentos,suas dores,suas vontades.Não deveria,mas é assim...
ResponderEliminarBeijos entristecidos...Sonia Regina.
Tem troféu lá no blog pra você!
ResponderEliminarBeijos!Sonia Regina.
É impressionante como o nosso país trata as pessoas, em especial os velhos e não tenhamos medo de dizer,
ResponderEliminar"OS VELHOS", os velhos são importantes, velhos é uma palavra bonita, é a última etapa da nossa vida se lá chegarmos, e temos que tratar os nossos velhos com a dignidade que eles merecem.
É tempo de dizer basta.
Quereria dizer bonita história, mas não posso,porque não é bonita, é triste.
Mais uma importante partilha minha amiga.
Beijos
Isabel
Isso é que são casas à antiga portuguesa!...
ResponderEliminarBeijoca
Mais uma "história" que incomoda, que nos deixa tristes.
ResponderEliminarQue nos faz reflectir em como a vida por vezes se torna injusta para alguns.
É natural que a ti Ana queira estar no seu "ninho" para terminar os seus dias.
Ainda que ele seja pequeno, ou grande, frio ou pobre...é o seu ninho, que a conhece e conhece o que foram as suas alegrias, tristezas talvez, desejos e aspirações...
Pensar que o mesmo nos pode acontecer já assusta.
Fico com tristeza da ti Ana.
Viviana, para si uma noite de felicidade.
Beijos
Tem selinho la pra vc.
ResponderEliminarFim de semana de luz.
beijooo.
Olá Ana linda,
ResponderEliminarÈ a triste realidade, amiga.
Que cada um de nós faça o que puder...
um beijo
viviana
Querida Bete,
ResponderEliminarObrigada, boa amiga.
Palavras lindas!
um beijo
viviana
Querida Sónia,
ResponderEliminarSim, a realidade é esta, amiga.
Que Deus nos ajude a não fazermos o mesmo.
Tudo quanto esteja nas nossas mãos...para melhorar...que o façamos cpm alegria.
Um abraço, doce amiga.
viviana
Obrigada querida Ana.
ResponderEliminarJá fui buscar.
È lindo.
um beijo
viviana
Querida Isabel,
ResponderEliminarO seu coração terno e sensível
capta e entende todo esse sofrimento...
"OS VELHOS", os velhos são importantes, velhos é uma palavra bonita, é a última etapa da nossa vida se lá chegarmos, e temos que tratar os nossos velhos com a dignidade que eles merecem."
Que expressão linda!
Sinto assim igualzinho, amiga.
Um beijo
viviana
Olá Poeta Vieira Calado,
ResponderEliminarSempre sorrio ao vê-lo aqui, bom amigo.
Diz bem, "isto é que são casas á antiga portuguesa."
Belíssimas, por sinal!
Um abraço
viviana
Querida Rosa,
ResponderEliminarÈ verdade.
Esta situação incomoda-nos...
Entristece-nos.
O que pensará o nosso querido Mestre, disto?
um abraço, boa amiga.
viviana