terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Um poema de Antonio Gedeão
Rua Escura -S. Gregório
Mãezinha
A terra de meu pai era pequena
e os transportes difíceis.
Não havia comboios, nem automóveis, nem aviões, nem misséis.
Corria branda a noite e a vida era serena.
Segundo informação, concreta e exacta,
dos boletins oficiais,
viviam lá na terra, a essa data,
3023 mulheres, das quais
45 por cento eram de tenra idade,
chamando tenra idade
à que vai do berço até à puberdade.
28 por cento das restantes
eram senhoras, daquelas senhoras que só havia dantes.
Umas, viúvas, que nunca mais (oh! nunca mais!) tinham sequer sorrido
desde o dia da morte do extremoso marido;
outras, senhoras casadas, mães de fiilhos…
(De resto, as senhoras casadas,
pelas suas próprias condições,
não têm que ser consideradas
nestas considerações.)
Das outras, 10 por cento,
eram meninas casadoiras, seriíssimas, discretas,
mas que por temperamento,
ou por outras razões mais ou menos secretas,
não se inclinavam para o casamento.
Além destas meninas
havia, salvo erro, 32,
que à meiga luz das horas vespertinas
se punham a bordar por detrás das cortinas
espreitando, de revés, quem passava nas ruas.
Dessas havia 9 que moravam
em prédios baixos como então havia,
um aqui, outro além, mas que todos ficavam
no troço habitual que o meu pai percorria,
tranquilamente no maior sossego, às horas em
que entrava e saía do emprego.
Dessas 9 excelentes raprigas
uma fugiu com o criado da lavoura;
5 morreram novas, de bexigas;
outra, que veio a ser grande senhora,
teve as suas fraquezas mas casou-se
e foi condessa por real mercê;
outra suicidou-se
não se sabe porquê.
A que sobeja
chama-se Rosinha.
Foi essa que o meu pai levou à igeja.
Foi a minha mãezinha.
(António Gedeão)
Bom Dia, Vivizinha!
ResponderEliminarMuito lindo este poema que nos deixa nesta manhã!
E a imagem ficou perfeita!
Os poemas de António Gedeão são muito bonitos. Em meu blog eu tenho "Pedra Filosofal", que acho maravilhoso também!
Desejo à amiga uma semana abençoada!
beijinho carinhoso,
Neli
Adoro os poetas que escrevem desse jeito doce e fazem a gente achar que a vida é também doce. Assim também são Mario Quintana e Manuel Bandeira. Um beijo pra ti, Viviana.
ResponderEliminarConfesso que não conhecia este poeta...
ResponderEliminarMas amei este poema...
Um poema estatístico... e épico, e terno
bjs
Olá minha querida maninha.
ResponderEliminarHoje estou com pouquinho tempo.
Este poema, descreve outros tempos, agora já não é assim:
quando éramos pequenas, ainda se faziam serões em volta da braseira, havia tempo para fazer o enxoval; fazendo rendas, e lindas bainhas abertas, bordando os monogramas, tricotando etc. etc.
Era um sossego, e a vida ia correndo devagar... hoje é tudo uma correria... já nem sequer usamos essas coisas com rendas e bordados, pois dá muito trabalho a passar a ferro.
Havia tanto para dizer!!!...Por exemplo: os rapazes passavam vezes sem fim por baixo das nossas janelas, atiravam pedrinhas e até se cantavam serenatas. Embora sejas mais nova, contigo também aconteceram estas coisas...
Um xi
Muito bonita esta imagem Viviana, e também a maneira como Gedeão expõe o poema como se fosse um recenseamento da população.
ResponderEliminarNão conhecia, é muito engraçado e bonito ao mesmo tempo.
Beijinhos
Isabel
Oi Viviana !! que alegria minha poder conseguir um tempinho aqui no meu trabalho e encontrar palavras tão lindas aqui !!
ResponderEliminarmilhoesde beijos pravc
carinho
Alice
Querida Neli,
ResponderEliminarConheço e gosto muito da Pedra Filosofal.
Creio que é o mais conhecido de todos os poemas deste autor.
Está musicado tambem.
Um beijo miga linda
viviana
Lindo poema em mais um belo poste amiga.
ResponderEliminarBjs grandes e uma boa noite para ti,
Nuno
Olá querida Lulih,
ResponderEliminarComo eu gosto da obra de Mário Quintana e Manuel Bandeira!...
Têm coisas muito belas.
Foi muito bom encontrar aqui a minha linda amiga.
Desejo que tenha uma noite tranquila.
Um abraço
viviana
Querida Carmen,
ResponderEliminarEste poeta, que morreu há alguns anos atrás...era professor de Matemática do ensino Secundário.
Foi professor do meu marido, quando adolescente.
Giro, não é?
Um bijo amiga linda.
viviana
Olá minha lnda maninha Esperança,
ResponderEliminarTambem achei muito engraçado este poema.
Não o conhecia e o Jorge tambem não.
Ele lembra-nos outros tempos, como dizes, em que era tudo muito diferente.
Saudades!
Uma boa noite para ti e para o João Pedro.
Beijihos
Viviana
Querida Isabel,
ResponderEliminarSim, é ao mesmo tempo, engraçado e bonito.
Tambem não o conhecia.
Uma noite tranquila, amiga linda
viviana
Querida Alice,
ResponderEliminarAi, mas que alegria encontrar aqui uma amiga tão linda!
Que contentamento!...
Um abraço carinhoso, amiga do coração.
viviana
Olá Nuno, meu bom amigo
ResponderEliminarObrigada por o seu constante incentivo.
Um grande abraço
viviana
antónio gedeão, de seu nome rómulo de carvalho, com poemas lindíssimos, o mais conhecido "a pedra filosofal", mas este à sua "mãezinha", toca aqui dentro...
ResponderEliminarbeijinhosssssssssssss
Olá Gaivota linda,
ResponderEliminarSim, Rómulo de Carvalho!
Foi professor de matemática do meu marido, há muitos, muitos anos atrás...
Ele tinha uma alma linda!
Uma extrema sensibilidade.
Um abraço, boa amiga
viviana