sexta-feira, 10 de julho de 2009

Recordações da tia Brígida


Estação de Leiria - onde tantas vezes estive quando era criança.
Conhecia cada porta destas como a palma da minha mão.

Hoje quando ía-mos no carro a caminho da praia, por qualquer motivo falou-se da cidade de Leiria, onde eu vivi dos sete aos dezanove anos.
Num ápice, vieram á minha memória muitas lembranças e recordações
As casa onde vivi, os caminhos que palmilhei, tantas pessoas que conheci ... e tantas coisas que fiz e presenciei...
Foi aí, que me lembrei da tia Brígida.
A tia Brígida era uma mulher do campo, na casa dos setenta anos, viúva há muito tempo, e que tinha um filha casada que vivia em Lisboa na zona de Campolide.
A tia Brígida, como quase todas as mulheres da idade dela não sabia ler nem escrever, e para além de trabalhar no campo, dedicava-se a fazer tapetes e esteiras de junco, que entrançava e depois cosia pegando uns aos outros para depois vender na feira.

A casinha dela era uma casinha de madeira, muito graciosa e muito bem construída.
A porta da "casa de fora",( sala) geralmente estava aberta, e dava para o caminho ladeado de lindas oliveiras, caminho bastante comprido, por onde eu passava para ir e vir da minha casa.
Eu tinha na altura uns oito ou nove anos, e corria por aquele caminho tão rápida quanto uma gazela.
Ao passar á porta da tia Brígida eu começava a andar mais devagar, pois gostava muito de a ver sentada no chão da casa de fora, rodeada de molhos de juncos, tapetes e esteiras, entrelaçando os juncos tão rápido e duma maneira tão ágil, que me espantava e me encantava.
Um belo dia quando ali passei ela chamou-me lá de dentro,e fez-me sinal para entrar na casa dela.
Então pediu-me se eu não me importava de lhe escrever as cartas para a filha que estava em Lisboa, e ao mesmo tempo se não me importava de lhe ler as cartas que chegavam.
Claro que eu me disponibilizei logo para o fazer e ela ficou muito contente.
Foi depois perguntar á minha mãe e ao meu pai se eles não se importavam que eu lhe escrevesse e lhe lesse as cartas..
Como seria de esperar os meus pais não se opuseram.
Aquele convite feito por ela, cau-me muito bem... e posso dizer que foi um trabalho que eu fiz com imensa alegria e com muito gosto.
Então era assim:
Ela estava sentada no chão, muito direitinha, a tecer os tapetes, e ao mesmo tempo ia -me ditando o que eu deveria escrever.
Eu sentava - me a uma mesinha mesmo ali ao lado dela, virada para ela, e com a minha melhor caligrafia escrevia o que ela me ditava.
Recordo que todas as cartas começavam da mesma maneira:
"Meus queridos filhos e netos"...
E depois, lá se seguia o registe de tudo quanto ela queria contar e queria saber...
Quando chegava a resposta, que até não demorava muito...lá me chamava ela para eu lhe ler a carta.Eu lia pausadamente e ela lá ia ouvindo toda acontente.
Recordo que eu me sentia muito bem comigo mesma por fazer aquilo.
E os meus pais que eram muito amigos dela tambem ficavam contentes.

È verdade! A propósito, o que será feito das cartas que eu escrevi há quase sessenta anos?
Será que os netos e os bisnetos da tia Brígida guardaram alguma?

4 comentários:

  1. Recordar é viver.

    Bom fim de semana pra vc amiga.

    beijooo.

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  2. Vivi:

    Com certeza alguém deve ter guardado estas relíquias...

    Interessante ver que já menina gostava de ajudar aos outros.
    Foram momentos de plantio na sua vida que até hoje você acaba colhendo...

    bjs

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  3. Ana linda

    È bem verdade amiga.

    Um beijo e o desejo de uma excelente semana.

    viviana

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  4. Carminha querida

    Eu creio que desde bem pequenina o amor de Jesus já estava no meu coração....

    Que benção!

    Ter tido tamanha oportunidade de o conhecer e aceitar.

    Por tal, sou imensamente agradecida ao Pai.

    Um beijo

    Viviana

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