Cabral do Nascimento
«Era uma vez um menino
Em seu jardim a brincar.
(Brincar, brincar, não brincava,
Sempre, sempre a meditar!)
Os outros vinham de longe
E a correr, para o levar.
(Correr, correr, não corria,
porém ficava a sismar.)
Na tarde de ouro se ouviam
Seus gritos enchendo o ar.
(Ele gritar, não gritava,
Mas calava-se a pensar.)
O mundo andava de roda
e tudo á volta a girar!
(Ele no entanto,cantava
Só a ver, a comtemplar .)
E tudo quanto se via
E tudo quanto passava,
Nos seus olhos se detinha,
Na sua alma ficava.
Tenho sido espectador
E toda a vida serei.
Estar de fora da dor,
Aquém do palco, do riso,
Longe da arena do mundo!
È insensatez? È juízo?
È bom? È mau? Não no sei.
Mas quanto drama profundo,
Devagar, devagarinho,
Sem voz, sem gesto, sem cor,
Se infiltra tão de mansinho
Na alma do espectador?
(Cabral do Nascimento)
1897 - 1978)
Muitas vezes sob o pseudónimo Mário Gonçalves, e em colaboração com a sua mulher, Maria Franco Machado, traduziu para português vários nomes importantes da literatura inglesa, norte-americana e francesa, entre outros, R. L. Stevenson, George Eliot, G. H. Wells, Henry James, Pearl S. Buck…
Nasceu a 22 de Março de 1897, no Funchal. É filho de João Cabral Crowford do Nascimento e de D. Palmira Cabral do Nascimento.
Fez o curso primário e secundário nesta cidade até 1915.
Entre 1915 a 1922 frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa e de Coimbra.
Em 1923, já no Funchal, ensinou na Escola Industrial e Comercial.
Em 1931 foi nomeado primeiro director do recém-formado Arquivo Distrital do Funchal.
Em 1937, fixou residência em Lisboa e ensinou nas escolas Ferreira Borges e Veiga Beirão até se aposentar, em 1958.
Em 1943 obteve o prémio Antero de Quental.
Faleceu a 2 de Março de 1978, em Lisboa.
Fernando Pessoa elogiou a sua primeira obra,"As Três Princesas Mortas num Palácio
em Ruínas" (1916), na revista "Exílio", considerando-o como "um poeta digno" do movimento "Orpheu
passo a dizer bom dia, minha amiga! sem tempo, por uns dias, mas para ler cabral do nascimento, um poeta diferente!
ResponderEliminarbem escolhido e que bom teres trazido este "menino", em era uma vez!
beijinhos
Olá, Viviana!
ResponderEliminarConhecia Cabral do Nascimento como tradutor de obras conhecias de autores estranjeiros! Como poeta não lhe conhecia qualquer obra, pelo que agradeço à Viviana o dar-me a conhecer atrvés deste belo poema!
Minha santa ignorância! Mas ninguém é perfeito!
Um abraço e obrigado!
Renato
Olá Gaivota, linda da Nazaré
ResponderEliminarDescobri O poeta Cabral do Nascimento, estes dias.
Graças aos "Oitocentos anos de Poesia Portuguesa", editado pelo Círculo dos leitores, do quam somos sócios desde há mais de 40 anos!
Este livro é um regalo para os olhos e um bálsamo para o espírito.
Tenho-o sempre aqui junto de mim.
Um abraço
viviana
Olá Renato, meu bom amigo
ResponderEliminarEu só conheci o Poeta Cabral do nascimento, agora.
È o que vale ter bons livros á mão!
Nestes "Oitocentos anos de Poesia Portuguesa"...pode imaginar a quantidade de autores que encontro...
Uma riqueza.
Creio que nestes 44 anos de casados, onde investi em mos mais, foi na alimentação e LIVROS.
Não há espaço para mais nenhum.
E temos uma sala-biblioteca!
Imagine.
Tenha um lindo dia
um abraço
viviana