sábado, 21 de janeiro de 2012

In memoriam - Poeta Rui Costa


O advogado e poeta Rui Costa

O advogado e poeta Rui Costa foi encontado morto no Porto.

«O poeta e advogado Rui Costa, que estava desaparecido desde o princípio do mês, foi encontrado morto esta quinta-feira na foz do rio Douro, na Afurada, Vila Nova de Gaia, disseram à Lusa esta sexta-feira fontes policiais.

Fontes policiais assinalaram à agência Lusa que o corpo encontrado na Afurada é o de um homem que caiu ou se terá atirado da ponte da Arrábida no dia 4.

O jovem poeta venceu o prémio de poesia Daniel Faria, com o seu livro “A Nuvem Prateada das Pessoas Graves”, editado em 2005 pela Quasi Edições.

Numa entrevista publicada no site http://www.pnetliteratura.pt/, Rui Costa defendeu o poder de resistência do livro face ao crescente primado da tecnologia e da mensagem instantânea.
“O livro sólido, com peso de papel manchado de tinta, continuará a ter sentido enquanto usarmos as mãos que ainda temos”, declarou.
Ao seu interesse pela Literatura aliava o gosto pelo Direito, licenciando-se nesta área pela Universidade de Coimbra (1996) e exercendo advocacia durante seis anos, em Lisboa e em Londres.

Destacou-se igualmente na área da saúde, obtendo um mestrado em Saúde Pública pela Institute of Health Sciences and Public Health-University of Leeds (2004) e dando aulas na Escola Superior de Saúde do Vale do Ave.»
(http://www.publico.pt/Cultura/)

Quanto eu lamento e quanto me entristece a sua morte...
39 anos! Quase todos passados a estudar, a aprender, e a interiorizar conhecimento, que em princípio seria para "distribuir" e partilhar com os outros.
Tenho um filho da idade dele, que por sinal é escritor, e creio perceber o peso da dôr dos seus pais e da sua família. Para eles o meu abraço de encorajamento.

Li alguns dos seus poemas e neles creio ter conseguido aflorar um pouco da sua alma de jovem poeta.
Trata-se de poesia moderna, contemporânea, com um estilo e uma forma diferente da poesia que eu estou habituada a ler, mas confesso que me apaixonei por ela.
Creio que vou comprar o livro.

Aqui está um dos seus poemas:

A nuvem prateada das pessoas graves

Nem sempre se deve desconfiar das pessoas

graves, aquelas que caminham com o pescoço inclinado para baixo,

os olhos delas a tocar pela primeira vez o caminho que os pés confirmarão

depois.

Às vezes elas vêem o céu do outro lado do caminho que é o que lhes fica por baixo

dos pés e por isso do outro lado do mundo.

O outro lado do mundo das pessoas graves parece portanto um sítio longe dos pés

e mais longe ainda das mãos

que também caem nos dias em que o ar pode ser mais pesado e os ossos

se enchem de uma substância morna que não se sabe bem o que é.

Na gravidade dos pés e da cabeça, e também dos olhos, com que nos são alheias

quando as olhamos de frente rumo ao lado útil do caminho que escolhemos, essas

pessoas arrastam uma nuvem prateada que a cada passo larga uma imagem daquilo

que foram ou das pessoas que amaram.

Essas imagens podem desaparecer para sempre se forem pisadas quando caem no

chão.

A gravidade dos pés e da cabeça, e também dos olhos, dessas

pessoas, é, por isso, uma subtil forma de cuidado.

Rui Costa, in A Nuvem Prateada das Pessoas Graves (Edições Quasi)

4 comentários:

  1. Linda a sua homenagem.

    Beijo e bom fim de semana.

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  2. Ola Viviana. Tambem sentirei muita pena se os livros que tantos nos dizem possam desaparecer. lamentar, sim estas situacoes onde pessoas desparecem deste modo.
    beijinhos Viviana, para si e sua familia

    fernanda

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  3. Obrigada, Manuel.

    È verdadeira e sentida.

    Este caso perturbou-me dursante vários dias...

    Um abraço
    viviana

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  4. Olá Fernanda

    Eu sei, eu sei o quanto os livros representam para si...

    Para mim também...

    Um abraço

    viviana

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