Não pude deslocar-me a Setúbal para prestar a minha ultima homenagem áquele que foi um grande português, um grande homem, um grande historiador, o maior comunicador que conheci, um homem bom. Gostaria de lá ter estado mas não pude. No entanto, procurei seguir de perto, pelas notícias e pela televisão a forma como decorreu o seu funeral.
Esperava eu, naturalmente, que fossem muitos os detentores de cargos públicos, como o Presidente da República, o Primeiro Ministro, o Secretário de Estado da Cultura, outros ministros, a Presidente da Assembleia da República, os representantes dos vários partidos políticos com assento parlamentar, os representantes da Igreja Católica, os homens e mulheres indinheirados, deste país, os responsáveis da televisão, onde ele colaborou por cerca de 40 anos, e as autoridades locais e regionais que marcassem a sua presença.
Mas, o que vi eu? Vi um grande homem, para mim, o melhor de todos os Presidentes da República - Sr. General António Ramalho Eanes e a sua esposa - Drª Maria Manuela Ramalho Eanes, que sabem estar á altura dos acontecimentos.
Vi um comentador político - Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, o qual ao ser inquirido pelos jornalistas sobre a ausência de tanta "gente" que seria suposto lá estar, pelos lugares que ocupam, tentou justificar como melhor pode, inclusivé argumentando que "Estamos em Setúbal", como quem diz: Fica longe de Lisboa, como se toda essa gente não tivesse disponível carros e motoristas, pagos pelos contribuintes.
Tenho visto "essa gente" a correr para o funeral de tantos, tantos, que nem de longe, com todo o respeito e consideração... fizeram obra e deixaram obra, como o Dr. José Hermano Saraiva.
Para mim, o que levou á sua ausência, foi o facto do Dr. José Hermano Saraiva, ter "servido" Portugal e os portugueses, duma forma notável, em que se deu a si próprio para fazer o país andar para a frente, inclusivé no combate ao analfabetismo, noutro regime anterior ao "25 de Abril".
Quero lembrar o que creio firmemente: As pessoas valem por o que são, por elas próprias, por a obra em que se empenharam, por a "herança" que deixam para a posteridade, e não pelos cargos que ocuparam, não por o nome de família, não pelo dinheiro que têm ou pelo partido em que militaram.Por elas, elas proprias.
Não compareceram por medo, por recearem ser conotadas com o "fascismo" do regime anterior.
Que tristeza! Que pobreza de espírito!
Porem, consolou-me ver a Igreja do Convento de Jesus, cheínha, a abarrotar de gente humilde, de gente do povo. Esses sim, estiveram presentes para agradecer, para reconhecer e dizer um último adeus, áquele homem que soube dar-se e entregar-se á Patria e ao povo português.
Para mim, a ausência do Primeiro Ministro e do Secretário de Estado da Cultura, foi a maior falha cometida desde que este governo tomou posse.
Desiludiram-me.
Sem dúvida, minha senhora, as ausências de personalidades públicas representativas do Estado Português, do funeral duma individualidade com as facetas de homem de cultura, grande divulgador da História de Portugal e das terras portuguesas e das suas gentes, constituem, antes de mais, um ato de cobardia e de baixeza moral.
ResponderEliminarSabemos que o Prof. Hermano Saraiva (por acaso natural de Leria) esteve intimamente ligado ao regime de Salazar, tendo sido o Ministro da Educação que teve de enfrentar a crise académica de 1968/69. Que talvez a pudesse ter enfrentado doutra forma. Mas é muito cómodo criticar a forma que se adotou no passado, estando nós a viver todo o circunstancialismo em que vivemos o Presente, à luz de outro tipo de informação curtida pelo próprio tempo.
Por isso, concordo plenamente com o excelente texto que aqui deixou plasmado, preto no branco.
Os meus parabéns.
António Nunes