Tu choraste por Lázaro, Senhor.
Eu o compreendo.
Ele foi teu amigo,
foi um homem bom,
tu sentias a falta dele.
Mas que te aflijas por Jerusalém,
que chores pela cidade idólatra:
Perdoa, Senhor -
eu não o posso compreender!
Merecem eles as tuas lágrimas -
estes sacerdotes ávidos de poder,
estes mercadores ladinos,
este povaréu lascivo?
Bem conheces a escritura, Senhor:
Mesmo Abraão
deixou de interceder por Gomorra,
ao perceber
que nem dez justos havia
entre os seus habitantes!
Salva, Senhor, se assim quiseres,
o punhado de justos
porventura existentes
na cidade perversa!
Manda-os fugir de Sodoma!
Abandona os ímpios
ao juízo merecido!
Faze o teu fogo
consumir a cidade maldita!
Ou pretendes ser o único justo
dentro de seus muros'
Queres mesmo entrar nesta Sodoma?
Queres que o fogo consuma
a ti, o justo,
em lugar dos ímpios'
Senhor -
tu continuas andando!
porás realmente os teus pés
nestas ruas contaminadas?
Ó mestre:
Eles te envolverão
em suas tramas e intrigas...
Queres mesmo que te acompanhemos,
que nos aflijamos por Jerusalém,
que nossos corações se comovam,
iguais ao teu coração?
Dá-nos, então,
o dom das lágrimas!
Dá-nos, além do nosso amor fraternal,
o amor
aos que ainda não são irmãos,
que tu, Senhor,
de olhos videntes,
já agora reconheces,
amando-os,
mesmo que te rejeitem;
Só assim poderemos seguir-te
ao entrares na cidade.
Amén, Senhor;
dá aos teus discípulos todos
o dom das lágrimas!
(Lindolfo Weingartner)
No livro - Prática da Esperança
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