Na ribeira que secou
Bebia o gado que eu tinha;
Quando chegava à noitinha,
A voz das águas chamava,
E o rebanho que pastava
Deixava os tojos e vinha.
Eu próprio molhava as mágoas
Na pureza da nascente;
Metia as mãos docemente
Na limpidez da frescura,
E as caricias da corrente
Davam-me paz e ternura.
O gado, farto, bebia;
E eu deixava-me correr
Naquele suave prazer
Que me levava consigo...
Eu não tinha que fazer,
E o gado tinha pescigo.
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A noite, então, vinha mansa
Cobrir a lã das ovelhas;
Era um telhado de telhas
Furadas ou embutidas
De luzes muito vermelhas
Por todo o céu repartidas.
E aquela viva irmandade
Do rebanho e do zagal
Era ali tão natural
Que apagava dos sentidos
A saudade do curral
Feita de sono e balidos.
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Mas a ribeira secou.
Não sei que praga lhe deu
Que no leito onde correu
Há pedras e maldição...
E o meu rebanho morreu
De sede e de mansidão.
Coimbra, 20 de Maio de 1943
Coimbra, 20 de Maio de 1943
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Miguel Torga
No Livro - Miguel Torga
Obra Completa
No Livro - Miguel Torga
Obra Completa
Lindo, mas triste.
ResponderEliminarUm abraço
Manuela
Boa noite maninha querida tudo bem?
ResponderEliminarMais um poema de Miguel Torga. Este é tão lindo!...Tão do meu gosto…Até á a ribeira que secou, Que pena! Não gosto mesmo nada do último verso, no entanto há ali a leitura que cada um de nós lhe quiser dar, eu tenho a minha. Há tanta coisa que seca! Até a riqueza de um país, e depois…É como o último verso do poeta.
Tem, minha querida, tenhamos todos, uma noite tranquila.
Olá, querida Manuela
ResponderEliminarO poeta era triste...
Muito triste.
Mas tinha uma alma extremamente sensível.
Compreendo-o bem...
um abraço, amiga
Viviana
Olá maninha Esperança
ResponderEliminarMiguel Torga é o meu poeta preferido.
Transmontano de coração...ainda me lembra um pouco o nosso querido pai.
Um beijo
Viviana