Tarde Demais - Um poema de Graciete Pio

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          TARDE DEMAIS

Naquela porta ainda ninguém passou,
E quando alguém pretende enfim entrar,
Soprou o vento a porta se fechou...
Tarde demais para a segurar!
Certo filho cresceu sem restrição,
Imagem deformada nos espelhos,
Hoje curte a revolta na prisão...
Tarde demais para lhe dar conselhos!

O combóio apitou, depois partiu
Sem dar tempo ao rapaz para embarcar;
No último segundo lhe fugiu...
Tarde demais para o apanhar!
A data, o assunto se esqueceu
E esse esquecimento foi fatal;
A oportunidade se perdeu...
Tarde demais para ter outra igual!

Naquela hora má, desatinada,
A palavra foi dita sen pensar
E foi ferir alguém que a não esperava...
Tarde demais para a recuperar!
Num dia de calor aconteceu:
A flor murchou, depois veio a secar;
Nem a sombra da noite lhe valeu...
Tarde demais para a poder regar!

O descontrole a ira está na rua,
O homem de a conter não é capaz;
A guerra começou e continua...
Tarde demais para falar de paz!
Que atitude cretina e cobarde
De desprezo e ofensa ao ancião;
O velhinho morreu, agora é tarde...
Tarde demais para pedir perdão!

O mundo é e será falsa promessa,
Apenas traz a dôr, desilusão...
O passado não volta, não regressa;
Futuro é ponto de interrogação!
Só existe o presente, o agora,
Com toda a força o deves agarrar...
Se não o prendes ele vai embora
E voa para nunca mais voltar!

E tu? Vives de forma pura e sã,
Sem te importar o que o outro pense?
Repara: Não é teu o amanhã,
Nem mesmo o agora te pertence...
Deixa que Deus dirija o teu viver,
Entrega-LHE o caminho onde vais,
P'ra que um dia não venhas a dizer,
Agora é tarde já, tarde demais!

(Graciete Pio - no Livro - Perfume do Céu)