«António Borges, economista e professor universitário, e
ex-dirigente do PSD, morreu esta madrugada, aos 63 anos, vítima de
cancro do pâncreas. Apesar da gravidade da doença, esteve sempre a
trabalhar.
A doença foi-lhe diagnosticada em 2010, dias antes de
ter aceitado o convite para ser o número dois do ex-presidente do FMI,
Dominique Strauss-Kahn, em Washington.
António Borges nasceu no Porto a 18 de novembro de 1949
e fez grande parte da sua carreira profissional no sector financeiro e
ligado ao ensino. Ocupou a nível internacional cargos de relevância como
o de vice-presidente do banco Goldman Sachs, entre 2000 e 2008, e
reitor da escola de negócios francesa Insead, o que lhe valeu grande
reconhecimento internacional.
Foi consultor do departamento de Tesouro dos Estados
Unidos, da OCDE e em 2010 foi nomeado diretor do departamento europeu do
Fundo Monetário Internacional (FMI), cargo que ocupou apenas por um
ano. Presidiu também ao Instituto Europeu de Corporate Governance.
Licenciou-se em Economia pela Universidade Técnica de
Lisboa e fez o doutoramento em Economia pela Universidade de Stanford,
tendo ingressado no INSEAD em 1980. Em 1990, foi nomeado vice-governador
do Banco de Portugal. Deu aulas na Universidade Católica, na
Universidade Nova e na Universidade de Stanford. E integrou as
administrações de várias empresas portuguesas como a Sonae, Jerónimo
Martins, Citibank Portugal, Petrogal, Vista Alegre e BNP Paribas.
Militante do PSD, era muitas vezes apontado como um bom
candidato a primeiro-ministro de Portugal. Mas nunca chegou a integrar
nenhum governo, tendo sido vice-presidente do PSD quando Manuela
Ferreira Leite liderava o partido. No início de 2012 aceitou o cargo de
consultor do atual Governo para as privatizações, renegociações das
Parcerias Público-Privadas, reestruturação do sector empresarial do
Estado e acompanhamento da banca.
Era-lhe reconhecido grande à-vontade na exposição dos
seus pontos de vista, o que lhe valeu muitas críticas, nomeadamente nos
últimos anos e já com as funções de consultor do Governo. Apesar da
gravidade da doença, continuou sempre a trabalhar".
(/http://expresso.sapo.pt/)
Hoje, morreu uma grande amiga minha. Uma pessoa muito especial, da qual, querendo Deus, falarei aqui neste espaço amanhã.
Ontem, de madrugada, morreu em Lisboa o Dr. António Borges.
É um português, como eu, acerca do qual não sei muito, apenas aquilo que fui nele observando ao longo do último ano, que me possibilitou ter dele uma imagem positiva e agradável. Apreciei nele a sua serenidade, a sua educação, os seus valores, as suas ideias, a sua postura perante uma chuva de criticas, mal ele abria a boca, para dizer o que quer que fosse. Foi muito maltratado, do meu ponto de vista, por toda a esquerda portuguesa e por jornalistas e comunicação social, tão somente por expôr as suas ideias e defender os seus pontos de vista, dos quais não se desviava, mas defendia afincadamente. Foi um português que "chegou longe", onde mais nenhum chegou, quer cá dentro, quer lá fora, onde ocupou altos e importantes cargos, tanto quanto sei.
Foi um dos maiores economistas portugueses, que teve como seus pares, os melhores da Europa e do mundo.
Era católico, e acreditava na eternidade, segundo ouvi ontem do Dr. Marcelo Rebelo de Sousa. Mas, o que mais no Dr, António Borges me impressionou, foi o facto de, sabendo há cerca de três anos que tinha uma doença incurável - Cancro do pâncreas - ter aceitado um novo emprego, no Fundo Monetário Internacional, onde desenvolveu um trabalho notável por cerca de um ano. Manteve todas as suas responsabilidades profissionais, sempre a trabalhar com entusiasmo e alegria.Sorria frequentemente. Caminhava ligeirinho, subia e descia escadas como quem não está doente. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, viveu absolutamente desprendido da vida, estes tempos bem difíceis de doença. Chegou há pouco de Singapura, onde foi dar apoio a uma importante instituição criada por si. Ao voltar, seguiu directamente do avião para uma reunião com o Governo, onde era consultor. Já há muito que o seu rosto e o seu corpo denotavam o progressivo agravar da doença, no entanto, viajava de avião de um lado para o outro, sorridente e bem disposto. Como consultor na Fundação Champalimaud, estes últimos dias, ao sentar-se á secretária para trabalhar, o seu rosto caiu sobre a secretária, tendo sido levado para o hospital onde veio a falecer.
Trabalhou até ao fim.
Que grande homem!
Que grande português!
Que grande exemplo!
O país precisa de homens assim.
Desejo que Deus console, e conforte, os filhos, a esposa, os netos e restante família.
Nota:
Acabei de encontrar na Net, este artigo, escrito por Camilo Lourenço, para mim, o melhor comentador português... onde fala com o coração nas mãos, do Dr. António Borges e lhe presta uma sentida homenagem:
In Memoriam...Dr. António Borges
"Esta é a crónica mais difícil que já escrevi na
vida. De um lado está a amizade de longa data para com o melhor
economista que Portugal já teve; do outro o dever de isenção exigido a
um jornalista. Não sei se conseguirei ser isento. Provavelmente não. Mas
sei que o leitor me perdoará…
Durante 25 anos acompanhei a sua
carreira. Umas vezes mais perto do que outras. Fui o primeiro jornalista
a noticiar o seu regresso a Portugal, para ser vice-governador do Banco
de Portugal. Fui o primeiro a noticiar a sua saída, depois das
ingerências do governo, chefiado por Cavaco Silva, na independência do
banco central (uma das suas convicções inabaláveis). Foi a sua carta de
recomendação (soube-o mais tarde pelo director do curso que frequentei
nos EUA…) que se revelou decisiva para que eu fosse aceite na University
of Michigan.
A ele lhe devo muito do que aprendi sobre Economia desde os tempos de
estágio de Jornalismo. Não havia uma única troca de impressões em que
não aprendesse alguma coisa com ele. Às vezes era frustrante: chegava às
conversas com tanta convicção nas minhas ideias para ver, ao fim de
cinco minutos, as teorias reduzidas a pó… Era frustrante? Não. Era
apenas a confirmação do seu brilhantismo.
Ontem, quando recebi a notícia que esperava que nunca chegasse, dei
comigo a pensar no que aprendi com o António, uma das pessoas a quem
(com o Jorge Marrão, companheiro de a “Mão Visível”), fui buscar
contributos para o livro “Basta!”. Duas coisas: a liberdade de escolha e
a necessidade de tornar o Estado eficiente.
A ele devemos a revolução que conduziu o Banco de Portugal a uma
instituição independente do Governo. A ele devemos o fim da política de
desvalorização do Escudo, que culminou com a entrada de Portugal na
moeda única. A ele devemos (com as polémicas em que se viu envolvido) o
debate sobre a necessidade de reduzir o peso de um Estado que asfixia a
economia portuguesa.
Era, por vezes, descuidado nas palavras que utilizava? Sem dúvida.
Mas, convenhamos, muitas vezes essas palavras eram despudoradamente
utilizadas pelos seus inimigos políticos e por parte da classe a que
pertenço (a comunicação social) para provocar polémicas artificiais. A
questão da desvalorização salarial foi um bom exemplo...
O seu rigor com as coisas era obsessivo. Um dia, na sequência de um
erro que cometi numa reportagem, lembrou-me o rigor do trabalho que a
revista “Fortune” fizera com ele enquanto “dean” do INSEAD: “Às tantas
ligaram-me antes da reportagem sair só para saber se um pormenor, a que
eu não atribuía importância, era mesmo como eles tinham escrito”. Foi
uma forma simpática de me dizer que o jornalismo em Portugal precisava
de mais rigor e seriedade. E isto foi em meados da década de 90.
Imaginem as conversas sobre a qualidade do jornalismo actual…
Muita gente me perguntou, nos últimos anos, porque o defendia tanto.
Simples: era de uma seriedade inabalável. Numa das últimas conversas
tive mais uma prova dessa seriedade. Ao falar-lhe do meu próximo livro,
toquei no tema “carácter” como atributo fundamental da cultura de um
povo. Foi o suficiente para me contar (e à Liliana Valpaços, da Matéria
Prima Edições) o episódio de uma visita à “baixa” de Lisboa: “Estacionei
e descobri que não tinha moedas para o parquímetro. Como tinha pressa
decidi arriscar. Quando voltei, apesar de não ter multa, mas como já
tinha moedas, fui ao parquímetro pagar o valor do tempo que tinha
utilizado”. Antes que eu o interrompesse (confesso que lhe ia dizer “Que
parvoíce!”) terminou: “A pessoa que estava comigo não queria acreditar.
Respondi-lhe que moralmente não podia ter outra conduta”.
O António não era uma pessoa consensual? Não. Nunca o poderia ser:
quem tem convicções tão fortes ou é amado… ou é odiado. Nunca lhe ouvi
palavras desagradáveis para quem o criticava por convicção de ideais. Os
outros, os que lhe destilavam ódio visceral, não o incomodavam.
Ao fim de 25 anos de convívio coleccionei episódios que, se
revelados, chegariam para mudar a opinião que muitos, que não o
conheciam, tinham dele. Mas nunca os poderei revelar. Tinha a secreta
esperança de que fosse ele a fazê-lo num livro, escrito a duas mãos, que
eu e a minha editora o convencemos a escrever. Um livro para analisar o
que Portugal tem de fazer para dar o salto do desenvolvimento.
Esse livro, infelizmente, já não verá a luz do dia. Nem o livro nem
os artigos para o "Negócios", para os quais o Pedro Santos Guerreiro me
"autorizou" a convidá-lo a escrever (e que aceitou). Talvez um dia volte
a falar com ele sobre o livro. Na outra Vida, em que ele tanto
acreditava. Até sempre, António".
http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/in_memoriam_antonio_borges.html
25 Agosto 2013,
22:30 por Camilo Lourenço |
camilolourenco@gmail.com)
Olá! Maninha querida
ResponderEliminarAgora não posso, tenho que fazer e com horas marcada, mas não posso ir á vida sem deixar uma palavra. Fiquei chocada com a notícia da sua morte, achava-o muito magro e pálido, mas não sabia que estava doente. Fiquei a saber que era muito crente, o que gostei muito…Fiquei a saber que, como dizes, esteve á 15 dias, sozinho, apesar de doente, a Singapura, no regresso vai directo do avião para uma reunião, e logo a seguir trabalhar para a Fundação Champalimaud, aonde caiu sem uma pinga de força, e partiu como sabemos, ÚNICO, E GRANDE!!!... Maltratado até á medula.
Ainda bem que postaste o artigo de Camilo Lourenço. Apreciei muito
Beijinhos