O poeta português - Pedro Homem de Melo. |
CIRCUNSTÂNCIA
Somos o fato escuro que vestimos .
Somos a casa imóvel que habitamos.
Os montes onde vimos nívios cimos.
E os jardins onde vemos verdes ramos.
Somos o nome que nos dão, herdado
Ou falso, igual à tela que vendemos,
Somos o barco, a proa, o mastro, os remos,
As luzes da ribalta e do mercado.
Escravos de hoje, pálidos, vencidos!
A sorte grande, ai Deus! como a ganhar?
Temos a côr mutável dos vestidos,
O olhar do vento e o hálito do mar...
Ó beira rio estreita das arcadas
Que nos promete o que depois recusa!
Somos a rua proibida, escusa
E o contacto das, mãos, quando ignoradas...
Ao ler no espelho o manto que era seu
Mas cujo arminho lhe assentva mal
(Retrato mudo, diz-me: - Quem sou eu?)
Foi que o príncipe, então reconheceu
A sua antiga condição real...
Somos baptismo, enterro, casamento
E o que pudermos amanhã roubar!
E antes de força, amor ou pensamento
Somos o vento
E o hálito do mar...
Pedro Homem de Melo - no livro - Bodas Vermelhas
Olá Viviana.
ResponderEliminarFantástico poema.
Muito certo, somos, afinal, a soma dos nossos actos, das nossas decisões e escolhas...
Viviana, tenha um bom final de tarde.
Abraços.
Que bom que gostou, Rosa.
ResponderEliminarTambém gostei, bem assim como o Jorge, meu marido, que foi aluno do poeta num escola secundária no Porto.
Pedro Homem de Melo foi um grande poeta, muito cantado por a grande Amália.
Está, no entanto, muito esquecido, que é uma pena e um desperdício.
Um abraço
Viviana