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Este é o primeiro abacateiro que eu plantei, carregadinho de frutos. |
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A minha mãezinha foi morar no céu há 12 anos.
Quando ela estava connosco e eu a visitava na sua casinha na aldeia, procurava levar-lhe sempre algo que ela apreciasse. Gostava muito de frutos tropicais, e eu, um belo dia levei-lhe um abacate. Ela tinha por hábito não deitar fora as sementes. Geralmente dizia-me :"Viviana, minha filha, pegue este caroço e faça um buraco no chão abaixo do passeio e coloque lá esta semente." Claro, que eu obedecia à sua ordem e semeei o abacateiro, que hoje, está carregadinho de frutos, como se pode ver na foto acima.
Aprendi a saboreá-los, e hoje, "pelo-me toda" por um, bem madurinho.
Como poucas pessoas da família os apreciam, acabam sobrando muitos para mim, o que é uma festa.
Tal como a mãe, não deito fora as sementes, mas lavo-as e guardo-as para as semear, por aí...
Já nem sei bem os recantos em que os semeei, algumas vezes com os netos.
Habitualmente, saio todos os dias, a caminhar um pouco e, levo sempre comigo algumas sementes e um instrumento para abrir o buraquinho.
Há algumas semanas atrás, saí com o Jorge e, naquele dia lembrei-me de ir em sentido contrário, isto é, em vez de seguir em frente, caminhei por trás da minha casa; a ideia era ver, uma vez mais, antes de "morrerem"...umas belíssimas flores brancas, que nasceram numa encosta à entrada do bairro.
Atravessámos a rua, e, de repente, estávamos à porta da esquadra da polícia de Mira-Sintra. Circundando o edifício existe um terreno que está muito bem aproveitado, com várias árvores, arbustos e flores.
Reparei então, num espaçozinho, entre um damasqueiro e uma macieira, onde me pareceu que um abacateiro ali, ficaria muito bem enquadrado.
Ocorreu-me então, pois nada estava planeado, entrar na esquadra e pedir autorização para semear "a dita cuja" árvore, ali.
Disse para o Jorge esperar um pouco enquanto eu ia falar com o sr. guarda de serviço. Pelo semblante dele, vi o seu espanto.
Logo que entrei, um simpático guarda perguntou-me o que desejava. Eu disse: É só para perguntar se posso semear uma árvore ali no vosso jardim . Ele respondeu: " Para isso tem que falar com o Sr. Comandante. Ele está ocupado, pode esperar um pouco"? Disse que sim e fiquei à espera.
Confesso que fiquei espantada com o grande movimento de guardas que entravam e saiam da esquadra. Não demorou muito e estava junto de mim, o Sr. Comandante, que simpaticamente, me perguntou o que eu desejava. Perguntei-lhe então, se ele me permitia semear um abacateiro no seu jardim. Ele, surpreendido, pois seria natural que pensasse que eu vinha apresentar algum problema... sorriu e disse: - " Plantar um abacateiro!?
Ora, nós já temos tantas árvores aí, que eu não sei se se arranjará espaço para mais uma...."
Disse-lhe que já tinha reparado num espaçozinho que era capaz de ser adequado.
Saiu connosco, e sempre muito sorridente e bem disposto, foi mostrar-nos e contar a história de cada das árvores e arbustos que ele...ali plantara. Ele é o plantador e cuidador.
Falou-nos da sua terra, Trás - os - Montes, dos seus pais, das suas gentes...com uma alegria contagiante.
Por fim, abriu o portão, e foi buscar uma enxada de pontas, e, tão contente...começou a abrir a cova, bem funda... no espaço que eu sugerira; e, olhando-me, disse-me: "Eu faço a cova e a senhora semeia." Não consigo definir o que senti naquele momento. Ele de um lado da cova, eu do outro, e o meu marido ali ao lado... Segurei nas mãos três belas semente de abacate, que tinha comido na véspera... e com tanta alegria, sorrindo, deixei-as cair uma a uma na funda cova. Eu disse: Semeio três, porque se uma não nascer, nascerá a outra, ou a outra.
Logo a seguir, o Sr. Comandante da esquadra da Polícia de Mira-Sintra, pegando na enxada, cobriu-as com terra, cuidadosa e carinhosamente.
Eu, disse a frase que digo sempre quando semeio alguma coisa: Boa sorte! Eu depois venho ver-vos e cumprimentar-vos.
O Sr. Comandante disse, fitando-me : "Prometo que vou cuidar muito bem dela!"
Agradeceu a nossa visita, e convidou-nos para um dia ir-mos à esquadra almoçar com ele.
Eu fiquei muito feliz!
Que o Deus - Criador, me permita, não só ver o abacateiro feito árvore... mas poder saborear os seus frutos.