sexta-feira, 29 de julho de 2016

MOTE - Um poema de Frei Agostinho da Cruz


MOTE

«Antre as cousas mais fermosas
Busca a   mais fermosa delas;
Mais que o Sol, Lua, e estrelas,
Mais que lírios, e que rosas.

Busca a Suma Fermosura,
Que tudo faz, tudo cria;
Só dAquela te confia,
Que sempre dos sempre (1) dura:
Se vires cousas fermosas,
Como são Sol, Lua, e estrelas,
Passa tu por cima delas,
Pisarás lírios e rosas.

Não te envolva o pensamento
No gosto da vida humana;
Que (2) a folha que o vento abana
Não se defende do vento.
Há cousas muito fermosas,
Muito claras, muito belas,
Uma só  muito mais que elas,
Mais que lírios, mais que rosas.

Quanto mais fermosa for
A cousa que podes ver,
Verás que não o pode ser
Sem ser mais o Criador.
Se vires lírios e rosas, 
O Sol, a Lua,  as estrelas,
Busca no Criador delas
Outras muito mais fermosas

Quem tudo fez para nós
Fazer-nos quis para si.
Põe os teus olhos em ti,
Verás Quem os em ti pôs:
Que lírios vistes, que rosas,
Que Sol, que Lua, que estrelas,
Que não venhas a ver nelas
O Senhor das mais fermosas?»

(Frei Agosinho da Cruz - 3/5/1540 - 14/5/1619 -
no livro-Poesias Selectas-
 - Colecção Portugal
    Augusto C. Pires de Lima )

(1) Por todo o sempre.
(2) porque.

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