quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Ainda os fogos e...os nossos Heróis Bombeiros

 Bombeiro na Madeira. Fonte da imagem:www.publico.p

«Além das vítimas, os bombeiros são os novos heróis nacionais. No auge da tragédia anual dos incêndios, o seu papel é determinante. Mas só 7% da sua atividade passa por apagar fogos. Há 30 mil em Portugal, mais de 90% são voluntários e destes só alguns recebem por isso: 1,75 euros à hora. Aos profissionais paga-se 500 euros por mês. É assim ser bombeiro em Portugal.
      
Renascer das cinzas. É um lugar comum dizê-lo, mas é para o que parecem estar de facto prontas as vítimas do fogo no Funchal.

 No Madeira, o balanço possível é este: três mortos e mil desalojados, mais 1.500 casas e hóteis ardidos.


  ESTOU CANSADO DAS INANIDADES QUE SE DIZEM SOBRE OS INCÊNDIOS

Diz o Jornalista José Manuel Fernandes -  no OBSERVADOR

Portugal gastou e gasta a maior parte do dinheiro em bombeiros e aviões para, quando chegam os grandes incêndios, se recordar de que quase tudo o resto que foi proposto e planeado ficou por fazer.
Quando começam os fogos de Verão há duas rotinas que se repetem. A primeira é a das inesgotáveis e repetitivas reportagens a mostrar populares e bombeiros queixando-se da “falta de meios”. A segunda é a dos responsáveis políticos a repetirem umas banalidades gerais sobre ordenamento e prevenção. Ou mesmo – como sucedeu agora com o Presidente da República e o primeiro-ministro – a dizerem disparates com o ar mais sério do mundo.

Vamos ver se nos entendemos. Primeiro: os fogos de Verão com a dimensão dos deste ano não são uma fatalidade estival, mas são uma fatalidade de um país que nunca teve uma política coerente e competente para os prevenir. Segundo: os fogos de Verão continuarão a sobressaltar-nos ciclicamente porque nenhum dispositivo de combate algum dia os dominará quando o terreno é propício à propagação das chamas e a meteorologia concorre para aumentar os riscos.
Todos se recordam dos grandes incêndios de 2003 e 2004. Menos se recordarão que nessa altura se realizou um estudo de enorme ambição do qual resultou Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios. E quase ninguém saberá como foi esse plano aplicado e que balanço podemos fazer dez anos passados da sua aprovação (pela Resolução do Conselho de Ministros nº 65/2006). O grau de ignorância é tal que Marcelo Rebelo de Sousa, arrastando atrás de si um enxame de microfones enquanto visitava uma zona ardida, sugeriu que devíamos ter “um esquema que envolva o Estado, municípios, proprietários”, ou seja, o esquema que esse plano desenhava há dez anos. E que António Costa tenha dito, depois de visitar a Autoridade Nacional de Protecção. Civil (para um “briefing operacional”…), que “é altura de, dez anos volvidos, não perder mais tempo para fazermos aquilo que é essencial fazer, a reestruturação da floresta de forma a termos uma floresta mais resistente, mais sustentável”, ou seja, concretizar aquilo que ele mesmo ajudou a que não se concretizasse...


...Infelizmente sinto que estou aqui a escrever este texto sem que isso sirva para muito, como não serviram os muitos que escrevi, no mesmo sentido e num horizonte temporal de 30 anos (já sou um velho jornalista…). Portugal não tem melhor meteorologia para evitar grandes fogos florestais, nem uma orografia que facilite a exploração florestal ordenada (ou o combate aos incêndios. Até aqui todos de acordo. Mas a Portugal faltaram sobretudo políticas correctas, capacidade de fazer as escolhas menos populares e de enfrentar lobbies poderosos como os dos bombeiros (e sei do que falo, pois até já fui dirigente de uma associação de bombeiros voluntários) e dos poderes locais. É por isso que é tão ridículo dizer que, dez anos depois, se deve fazer o que não se quis fazer há dez anos.

(Jornal O Obervador)

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