«Os arvoredos zumbiam como enxames distantes. Na negrura engaveladas p´la noite no interior dos matagaes, a cada topo se representavam vultos de lobisomens e más mulheres tresmalhadas, que avançavam, em negra dansa, até ás clareiras geadas, onde o luar e o códo formavam poças luzentes.
Os rolos d´agua vertida dos açudes, mordiscados de coriscos, ou todos luzidios e duma côr d´azeitona, eram como grados cobrões, de pele enfarruscada e nédia, que saíssem da repreza para mergulhar e se espojar no rio.
Á beira dos calços, as giestas ganhavam, num repente, parecenças com disparatados morcêgos que, d´asas abertas, esperassem para investir. P´las cristas e p´los tesos, os calhaus, compridos ou bogalhudos, com faíscas de luz nas aguas empoçadas, ensalviçavam como sapos desconchavados ou taludos lobos à espreita.
Nas chapadas de luz, nas serras descruadas, seixos e rebolos apareciam, à flor do chão, como ossos brancos d´esqueletos desenterrados por féras esfaimadas, esgadanhando com fúria.
Acinzentadas ou fuligentes, esvaídas p´lo luar ou aumentadas p´lo escuro, cobertas de querruvinhas e dentuças no bravejar do fraguedo e do mato, as serranias cresciam para o ceu, cheias da negra cisma de desabar sobre os campos.»
(António de Seves - no livro - Leomil - Moimenta da Beira - 1921
Olá Vivian, desde agora mesmo.
ResponderEliminarBom, se não for por mais nada, é engraçada a forma de dizer (ler) algumas palavras.
Sempre interessante...
Viviana, fique bem
Abraços.
Querida Rosa
ResponderEliminarEu aprecio muito este tipo de escrita.
Todas estas palavras e expressões que se deixaram de usar há muito...me fazem sorrir.
Um abraço, boa amiga
Viviana