O poeta e escritor português - Miguel Torga. |
E sem um gesto, sem um não, partias!
Assim a luz eterna se extinguia!
Sem um adeus, sequer te despedias,
Atraiçoando a fé que nos unia!
Terra lavrada e quente,
regaço de um poeta criador,
ias - te embora antes do sol poente,
Triste como semente sem calor!
Ias, resignada, apodrecer
À sombra das roseiras outonais!
Cor da alegria, cântico a nascer,
Trocavas por ciprestes pinheirais!
Mas eu vim, deusa desenganada!
Vim com este condão que tu conheces,
E toquei essa carne macerada
Da vida palpitante que mereces!
Porque tu és a Mãe!
Pariste um dia aos gritos e aos arrancos,
E parirás ainda pelo tempo além,
Mesmo sem madre e de cabelos brancos!
És e serás a faia que balança ao vento
E não quebra nem cede!
Se te pediu a paz do esquecimento,
Também a força de lutar te pede!
Respira, pois, seiva da duração,
Nos meus pulmões até, se te cansaste;
Mas que eu sinta bater o coração
No peito onde em menino me embalaste.
( Miguel Torga - No livro - Diário I)
Lindo! lindo! lindo!, como só Torga sente. Sentia, e transmitia em palavras.
ResponderEliminarObrigada amiguinha.
Beijinhos.
Dilita
ResponderEliminarQuerida Dilita
Tem razão, amiga
Torga é Torga...
A sua poesia é belíssima!
Continua a ser o meu peta preferido
Um abraço
Viviana