segunda-feira, 18 de junho de 2018

CANÇÃO PARADA - Um poema de Pedro Homem de Mello

O poeta e folclorista português - Pedro Homem de Mello.

CANÇÃO  PARADA

Palácios de oiro, jardins de cravos,
Nem os herdara, nem os quisera.
Procuro as ondas e os peixes bravos.
Para que servem jardins e cravos
Onde há mentiras de Primavera?
Abriu-se a noite como sacrário.
A lua deu-me chaves de prata.
Tenho elmo e gante. São de corsário.
Meus barcos leves são de pirata.
Berços? Esquifes? Baloiçar lento?
A morte e a vida vão devagar...
Meus barcos leves deu-mos o vento.
Berços, esquifes, baloiçar lento.
E círios brancos deu-mos o mar.
Tenho palavras. Não tenho ideias.

Ó melodias negras que sôlto!
Datas? Moradas? Cego, ignorei-as.
Para que servem tantas ideias
A quem se perde no mar revolto?
Faunos tombados no meu jardim!
Passei por eles sem lhes tocar...
Virão ceifeiros? Mas ai! de mim!
Murcha e renasce todo o jardim...
-  E a vida e a morte vão devagar!

(Pedro Homem de Mello)
No livro - Bodas Vermelhas

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