segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Vejam que lindo!

Encontrei, li, achei muito belo!
Trouxe para partilhar com os amigos.
Com permissão.

As Suas Mãos Pequeninas

Para não ser sempre a mesma coisa, almoçámos num restaurante que desencantámos à última hora, com pouco gasóleo no depósito. Ela, encurvada na cadeirinha de rodas, baralhando memórias; nós à volta dela, em cadeiras de madeira desconfortável. O empregado era esforçado e bem disposto. O bitoque estava tenro e bom.
De frente para ela, cortei-lhe o bife. Sempre que o faço, lembro-me de quantas vezes ela o fez por mim, quando as minhas mãos pequenas não sabiam brandir faca e garfo. Tomou o usual batalhão de comprimidos de múltiplas maleitas. Comi depressa, como sempre. Enquanto deixava que o tempo passasse, com pessoas à minha volta interessadas no telejornal do almoço, ajudei-a ao longo de longos minutos a empurrar arroz para a colher. Uma pitada de arroz com bocadinhos de carne, mais uma batata frita. Primeiro pensava que não o queria, mas afinal apenas deixou o ovo estrelado empastado de gema para o fim, tal como eu fazia.
A Vandinha ficou para trás, com o cartão, a pagar. Eu fui empurrando a cadeirinha em direcção ao carro. Arrumei-o melhor, para poder chegar melhor à porta do passageiro com ela. Estava um Sol confortável de Inverno. Ela pediu-me um beijinho. Enganando a vontade de chorar, joguei às escondidas à volta dela. Em vez de um dei-lhe muitos com xicorações e ela ria-se, desdentada. Rimos muito, os dois.

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