sexta-feira, 12 de abril de 2019

CANTO DA PRIMAVERA - Um poema de Soares de Passos

Uma bela flor, fotografada  num jardim de Sintra

CANTO DE PRIMAVERA

Eis surge a quadra florida,
A quadra dos amores,
Vertendo almos fulgores
Do seio juvenil.
Tudo revive ao hálito
Que a natureza aquece;
Tudo rejuvenesce
À  luz do ameno Abril.

Os bosques odoríferos
Se cobrem de verduras:
Nos montes e planuras
Renasce a tenra flor;
Dos perfumados  zèfiros
As músicas suaves
Se juntam das mil aves
Os cânticos d´amor.

Salve, estação esplêmdida,
Que à terra dando vida,
A tudo dás prazer!
Minha alma em doces extases
Festeja a tua vinda,
E se ergue à luz infinda,
Manancial do ser.

D´onde, ó calor benéfico,
Derivas teu alento?
E d´onde o movimento
Que dás à criação?
Do foco sempre vívido
Que anima a natureza
Por toda a redondeza
Da terra, e da amplidão.

Como nos campos fúlgidos
Espalha essas estrelas,
Assim as flores belas
Nos campos terreais:
Quão belo ó Providência,
É teu poder fecundo
Enchendo o vasto mundo
D´alentos  imortais!

Debalde o imenso vórtice
Retoma quanto gera:
Tudo se regenera
No perenal crisol,
E tudo canta harmónico
O Ser que, das alturas,
Aos gelos dá verduras,
Às sombras novo sol.

Cantai ó aves módulas,
Cantai em coro ledo!
Murmúrios do arvoredo,
Cantai a Jeová
Campinas aromáticas,
Erguei-lhe os mil perfumes
Das flores em cardumes
Que a Primavera dá!

Abriu-se o tabernáculo
Da terra florescente;
Todo sorri fulgente,
Todo respira amor:
Ressoem nele os cânticos
De mística harmonia,
Dizendo noite e dia:
- Hossana ao Criador!

(Soares dos Passos - no livro - Poesias)

Nota sobre o autor:
António Augusto Soares de Passos nasceu na cidade do Porto em 27 de Novembro de 1826 - filho de Custódio José Passos e de D. Ana Margarida do Nascimento Soares de Melo.
O poeta, faleceu, vitima de tuberculose, na manhã do dia 8 de Fevereiro de 186o, aos 34 anos.


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