Como já aqui o afirmei por várias vezes, sempre aguardo expectante pelo Domingo, para me juntar aos meus irmãos em Cristo, na Casa de Oração, para com imensa e grata alegria...adorar e cultuar o meu DEUS!
Para mim, é sempre uma festa, "ir á igreja".
Pudera! Há quase setenta anos que o faço.
Creio que poderão contar-se pelos dedos de uma mão, as vezes que em todos estes anos eu não fui e, sempre, por motivo de força maior.
Quando me sento no banco, agradeço, agradeço, agradeço...por poder estar ali.
Eu sei, a exemplo de tantos outros, que chegárá o dia em que isso não acontecerá.
Ontem, o Pastor Leal, pregou sobre a passagem bíblica que se encontra no Evangelho de S. Lucas Cap. 7 versículos 11 a 16, que versa a ressurreição do filho da viúva de Naím, por Jesus.
Ele falou de tal modo do AMOR imenso e ímpar do Mestre, que foi buscar, para melhor compreensão dos ouvintes, "O suave milagre de Eça de Queiróz."
E, ao citá-lo, emocinou-se...
Então, lembrei-me que o tinha lido em criança no livro da Instrução primária.
Fui "buscá-lo" e partilho-o hoje aqui convosco:
O Suave Milagre
...Ora entre Enganim e Cesareia, num casebre desgarrado, sumido na prega dum cerro, vivia a esse tempo uma viúva, mais desgraçada mulher que todas as mulheres de Israel. O seu filhinho único, todo aleijado, passara do magro peito a que ela o criara para os farrapos da enxerga apodrecida, onde jazera, sete anos passados, mirrando e gemendo. Também a ela a doença a engelhara dentro dos trapos nunca mudados, mais escura e torcida que uma cepa arrancada. E, sobre ambos, espessamente a miséria cresceu como o bolor sobre cacos perdidos num ermo. Até na lâmpada de barro vermelho, secara há muito o azeite. Dentro da arca pintada não restava grão ou côdea. No Estio, sem pasto, a cabra morrera. Depois, no quinteiro, secara a figueira. Tão longe do povoado, nunca esmola de pão ou mel entrava o portal. E só ervas apanhadas nas fendas das rochas, cozidas sem sal, nutriam aquelas criaturas de Deus na Terra Escolhida, onde até às aves maléficas sobrava o sustento!
Um dia um mendigo entrou no casebre, repartiu o seu farnel com a mãe amargurada, e um momento sentado na pedra da lareira, coçando as feridas das pernas, contou dessa grande esperança dos tristes, esse Rabi que aparecera na Galileia, e de um pão no mesmo cesto fazia sete, e amava todas as criancinhas, e enxugava todos os prantos, e prometia aos pobres um grande e luminoso Reino, de abundancia maior que a Corte de Salomão. A mulher escutava, com olhos famintos. E esse doce Rabi, esperança dos tristes, onde se encontrava? O mendigo suspirou. Ah, esse doce Rabi! quantos o desejavam, que se desperançavam! A sua fama andava por sobre toda a Judeia, como o sol que até por qualquer velho muro se estende e se goza; mas para enxergar a claridade do seu rosto, só aqueles ditosos que o seu desejo escolhia. Obed, tão rico, mandara os seus servos por toda a Galileia para que procurassem Jesus, o chamassem com promessas a Enganim; Sétimo, tão soberano, destacara os seus soldados até à costa do mar, para que buscassem Jesus, o conduzissem, por seu mando, a Cesareia. Errando, esmolando por tantas estradas, ele topara os servos de Obed, depois os legionários de Sétimo. E todos voltavam, como derrotados, com as sandálias rotas, sem ter descoberto em que mata ou cidade, em que toca ou palácio, se escondia Jesus.
A tarde caía. O mendigo apanhou o seu bordão, desceu pelo duro trilho, entre a urze e a rocha. A mãe retomou o seu canto, mais vergada, mais abandonada. E então o filhinho, num murmúrio mais débil que o roçar de uma asa, pediu à mãe que lhe trouxesse esse Rabi, que amava as criancinhas ainda as mais pobres, sarava os males ainda os mais antigos. A mãe apertou a cabeça esguedelhada:
- Oh filho! e como queres que te deixe, e me meta aos caminhos, à procura do Rabi da Galileia? Obed é rico, e tem servos, e debalde buscaram Jesus, por areais e colinas, desde Chorazim até ao país de Moab. Sétimo é forte, e tem soldados, e debalde correram por Jesus, desde o Hebron até ao mar! Como queres que te deixe? Jesus anda por muito longe e a nossa dor mora conosco, dentro destas paredes, e dentro delas nos prende. E mesmo que o encontrasse, como convenceria eu o Rabi tão desejado, por quem ricos e fortes suspiram, a que descesse através das cidades até este ermo, para sarar um entrevadinho tão pobre, sobre enxerga tão rota?
A criança, com duas longas lagrimas na face magrinha, murmurou:
- Oh mãe! Jesus ama todos os pequeninos. E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto queria sarar!
E a mãe, em soluços:
- Oh meu filho, como te posso deixar? Longas são as estradas da Galileia, e curta a piedade dos homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce Rabi. Oh filho! talvez Jesus morresse... Nem mesmo os ricos e os fortes o encontram. O Céu o trouxe, o Céu o levou. E com ele para sempre morreu a esperança dos tristes.
De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou:
- Mãe, eu queria ver Jesus...
E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança:
Aqui estou!
(Eça de Queiróz) Contos
Sabe que já nem me lembrava deste texto, apesar do Eça ser um dos meus autores favoritos.
ResponderEliminarLindo!
Alegra-me muito que o Pr. Leal o tenha referido e se tenha emocionado.
Deus abençoe a vossa vida, ministério e a igreja onde servem.
Shalom!
Olá Viviana.
ResponderEliminarComove-nos mesmo, ainda que não tivesse sido exactamente assim.
Mas o que nos quer dizer, e é bom não esquecer, é que o Bom Deus sempre está presente, sempre nos escuta.
E suaves "milagres" Ele os faz (diariamente)para connosco.
É preciso estarmos atentos, e querermos vê-los.
Mais uma vez, um post que me fez lembrar as longas e escaldantes estradas da Galileia, as casas(só de nome) encalhadas nas rochas,deixando-nos adivinhar a dureza da vida.
Gostei Viviana
Beijos
Querida Mimi
ResponderEliminarÉ realmente um texto maravilhoso!
Li as suas palavras ao Pastor Leal...que sorriu e agradeceu.
Obrigada, boa amiga e comadre, por tudo
Que Deus a abençoe também...e á sua linda família
Um abraço grande
Viviana
Nota:
A Sara chegou ontem do Algarve e ficou toda contente com o seu presente.
Respondeu logo.
Conheço o livro, tenho cá...e gosto muito dele.
Querida Rosa
ResponderEliminarLi o seu comentário ao Jorge.
Ele sorriu ao ouvir...
Foi precisamente essa a mensagem focada por ele...a certeza da presença constante e oportuna do bom Deus...pronto para nos ajudar, em qualquer circunstâcia.
Um grande abraço
Viviana
Que bom que seu pastor mencionou Eça, que legal!
ResponderEliminarEça...
ResponderEliminarO eterno Eça.
O meu escritor português de eleição.
Beijinhos
Maninha muito querida de coração doce e bom!!!...
ResponderEliminarAlguém de United States veio ler O Suave Milagre de Eça de Queirós, e, porque me lenbra da D. Helena Lewis e dos filhos, vou sempre ver o que escolhem do teu Blogue. É tão bonito!!!...E é admirável como Eça de Queirós conhecia naquele tempo antigo, este texto Bíblico, gostei tanto de ler!!!...Emocionei-me!
Olha irmãzinha, com o passar dos anos, cada vez admiro mais os belíssimos textos escolhidos para encimar as crianças.
Hoje sobe uma coisa que até me fez sentir mal, mas de contentamento, por Deus ter feito tanto!!!...Pela criança que deu a esta Zé-ninguém.
Eu vou te telefonar para te contar
Beijinhos para ti e para todos os que por aqui passarem.