O Dr. Fernando Nobre recebendo flores numa escola onde foi falar do seu trabalho.Acabei de assistir na Televisão, a uma entrevista ao Dr. Fernando Nobre, dirigente da A.M.I. - Assistência Médica Internacional - ou seja, a versão Portuguesa dos Médicos sem Fronteiras.
Este Homem de 57 anos (intuítivamente escrevi Homem com letra grande! e vou deixar ficar, porque é verdade a cem por cento... corresponde) mas dizia eu, este Homem de 57 anos, Cirurgião Geral, com a especialidade em Urologia, conhece todos os países do mundo excepto a Birmânia.
Esteve em Acções Humanitárias em muitos, muitos países.
Foi um delicia ouvi-lo contar acerca da sua pessoa, da sua família, do seu trabalho e da sua vida.
Extraordinário!
A certa altura, o entrevistador confrontou-o com o facto de ele chamar "filhos" a todas as crianças e jovens; ao que ele respondeu que sim, que chama, que olha para eles como se fossem os seus próprios filhos! Tem quatro.
Contou, que logo a seguir á queda do Presidente da Roménia, Ceausescu, estava em missão num derminado lugar na Roménia, e olhando para uma porta, viu entrar duas crianças pequenas, irmãos, um menino e uma menina, loirinhos e de olhos verdes, como os seus filhos, de mão dada e famintos, que lhe pareceram os seus dois filhos mais novos.
Então pensou que os seus filhos poderiam ter tido a triste sorte de terem nascido num país governado por um louco como na Roménia.
Abro aqui um parêntesi só para dizer que não me surpreendi assim tanto por o Dr. Fernando Nobre chamar filhos a todas as crianças e jovens.
Também eu tenho esse hábito.
Já há muito, muito tempo que o faço.
Um dia, quando em serviço de Enfermagem me dirigi a um Bairro de lata (favela) na Amadora, vieram ter comigo duas crianças; vinham sempre muitas crianças ter com as enfermeiras de saúde pública que visitavam o bairro. A maior parte deles já eram nossos amigos, pois tantas vezes íamos ali.
Eles rodearam-nos e eu tratei-os por filhos, ao que um deles me respondeu:
"Você chamou-me filho? Disse que eu era seu filho?"
Eu disse: Sim, chamei-te filho porque gosto muito de ti e quero-te muito bem.
Ele respondeu: "Eu gostava que você fosse minha mãe."
Nunca mais me esqueci disto.
Voltando agora ao Dr. Fernando Nobre:
Inquirido sobre se se costuma emocionar com as situações que encontra nas suas missões, respondeu que não, que aí actua com toda a determinação, pois está muitas vezes em causa slvar vidas.
Mas disse que se emociona com facilidade, como por exemplo ao ver certas cenas de determinados filmes.
Foi o caso de um flme chamado "Àrvore de Natal"...
E quando começou a contar a história do filme, as lágrimas vieram-lhe imediatamente aos olhos e escorreram pela face.
Eu ontem vi o Dr. Fernando Nobre chorar...
Agora aqui entro eu outra vez:
Eu fui sempre muito emotiva; mas agora, talvez por a idade, por tantas experiências vividas, ou por um outro motivo qualquer, emociono-me muito mais .
Eu choro com muita facilidade.
Choro quando converso com o meu Deus.
Choro ao cantar-lhe um hino de louvor, pois canto com a alma.
Choro ao ver certas cenas de determindos filmes.
Choro ao fazer certas leituras, como aconteceu hoje ao ler um post da minha querida amiga Alice.
Choro ao contemplar um lindo pôr- do - sol, num entardecer.
Choro ao olhar uma flor, uma árvore, uma paisagem.
Choro quando olho para dentro de certas pessoas e vejo tanta beleza de caracter, tanta bondade, tanta sensibilidade.
Choro quando depois de ter tido a casa cheia de filhos e netos, e de cozinhar os melhores pratos e fazer um doce, e um bolo, para ter o prazer de os ver comer com tanta satisfação, e chega a hora de se irem embora, eles despedem-se, descem as escadas, entram nos carros e viajam para as suas casas, e eu olho sempre da mesma janela, que é esta aqui ao lado, e daqui de cima aceno-lhes e eles olham cá para cima e agradecem, agradecem, e mandam beijos para mim, e quando os carros arrancam e eles rumam para as suas casas, eu posso ver as mãozitas deles a fazerem-me adeus até que os carros desaparecem ao fundo da rua.
Aí, eu já estou cheia de saudades!
E choro.
E eles sabem que eu choro.
Antigamente, quando me emocionava e chorava, eu tentava difarçar, esconder, pois sabia que as pessoas não me comprendiam.
Agora, de há um certo tempo para cá, não me preocupo mínimamente que alguem me veja chorar, ou até de vos contar eu própria que choro.
Acho que é tão natural! Tão humano! tão próprio de quem tem sensibilidade!
Eu até gostava, porque creio que este nosso triste e desumano mundo, beneficiaria com isso, que houvesse por aí muitos Fernandos Nobres a chamar as crianças e jovens de filhos, e os homens e mulheres, sempre, de amigos, e a emocionar-se e chorar, pois creio que muito sofrimento seria minorado.
E sabem que mais?
Façam o favor de não ter vergonha de chorar porque chorar é humano.