O grande Missionário escocês - Robert KalleyUltimamente, tem-me vindo com frequência á memória, um belo Hino que cantávamos muitas vezes no Culto doméstico , em casa dos meus queridos e saudosos pais, e tambem na amada Igreja Baptista de Leiria, onde cultuávamos o Senhor, que é o Hino número 491 do Cantor Cristão, entitulado: "Como há-de ser?"
De tanto o cantar, praticamente sei-o de cór, mesmo tendo em conta que é um hino bastante longo,com sete estrofes...
Por tudo isto, e tambem como preito de homenagem ao seu autor - o grande Missionário escocês Robert Kalley, um homem admirável, cuja vida é um testemunho fé e uma inspiração... decidi publicar aqui hoje não só o hino, mas tambem um pouco da história da vida do seu autor
Para além deste Hino, Kalley escreveu muitos outros.
«Descubram Edimburgo e encontrarão a sua New Town, o reflexo do crescimento desta cidade escocesa no séc. XVIII. Junto ao rio Water of Leith, repousa o Dean Cemetery e diversas personalidades da história da Escócia.
A personalidade que aqui me trouxe terá referências limitadas na história dos seus conterrâneos, mas entre os protestantes portugueses e brasileiros, Robert Reid Kalley, tornou-se figura incontornável.
O livro de registos do cemitério atesta a data de falecimento, 18 de Janeiro de 1888. O seu corpo seria aqui sepultado três dias depois, após culto celebrado pelo missionário Hudson Taylor. A morada da sua quinta mostra o endereço em português, “Campo Verde”.
O túmulo está em local recôndito e incrustado numa parede amuralhada. A pedra tumular, assente verticalmente, apresenta a seguinte inscrição:

“TIL HE COME”
IN TENDER AND REVERENT MEMORY OF ROBERT REID KALLEY, M. D.
BORN 8TH SEPTEMBER 1807 AND FELL ASLEEP 17TH JANUARY 1888
A SERVANT OF GOD IN MADEIRA, BRAZIL AND OTHER LANDS
HIS DELIGHT WAS IN THE LAW OF THE LORD AND IN HIS LAW HE MEDITATE DAY AND NIGHT WHOSE FAITH FOLLOW CONSIDERING THE END OF HIS CONVERSATION
JESUS CHRIST THE SAME YESTERDAY, AND TODAY, AND FOR EVER
ERECTED BY HIS LOVING AND SORROWING WIFE SARAH POULTON KALLEY WHO REJOINED HIM THURSDAY 8TH AUGUST 1907
(LAID TO REST BESIDE HIM 12TH AUGUST)
HEIRS TOGETHER OF THE GRACE OF LIFE I PETER 3:7
Duas placas dedicatórias, provenientes das igrejas portuguesas e brasileiras, ladeiam o túmulo com as seguintes inscrições:
1 - "M"
TO THE BELOVED AND HONOURED MEMORY OF THEIR FATHER IN THE GOSPEL DR. KALLEY FROM THE MADEIRENSES CHURCES “SCATTERED ABROAD” IN 1846 BY ROMISH PERSECUTION1838 TO 1888THE NAME OF JESUS WAS MAGNIFIED2- “B”
A TRIBUTE OF LOVE AND GRATITUDE TO THEIR FIRST TEACHER AND PASTOR DR. KALLEY
FROM CHURCHES FOUNDED BY HIM IN RIO DE JANEIRO AND PERNAMBUCO BRAZIL
1855 TO 1888
THE SON OF GOD JESUS CHRIST WAS PREACHED
Estas inscrições não conseguem contar toda a história de Robert Kalley. Foi médico, professor e pastor entre os portugueses madeirenses. Fundou um hospital e escolas primárias de acesso gratuito para crianças e adultos. Foi também um propagador da fé evangélica ao serviço da Igreja Livre da Escócia (de matiz presbiteriana) e, por seu intermédio, organizou em 1845 a primeira igreja protestante portuguesa. Pela sua palavra pregada, cerca de 2000 madeirenses recém conversos presbiterianos tiveram de abandonar a ilha para Trindade e Tobago, Estados Unidos, Havai e Brasil, dada a perseguição religiosa que lhes foi movida.
Após expulsão da ilha da Madeira, iniciou nova acção evangelizadora no Brasil e ali seria igualmente pioneiro do Protestantismo brasileiro. Destaque-se também o facto de ter sido uma personalidade estimada pelo Imperador do Brasil, D. Pedro II.
É uma vida cuja obra está para além deste túmulo. Daí que, para além da possível visita a Edimburgo que possam prestar ao Dr. Kalley, se sugira a leitura de “Madeirenses Errantes” do jornalista Ferreira Fernandes, “Vidas Convergentes” de Eduardo Moreira e “Robert Reid Kalley - O apóstolo da Madeira” de Michael P. Testa«
(
http://pioneiroprotestante.blogspot.com/2008/07/o-tmulo-de-robert-kalley-dean-cemetery.html)
Hino 491 -Cantor Cristão
Como há de ser, conclusa a longa lida,
Finda a peleja da paixão mortal,
Quando, avistando além da escura vida
A porta do prazer celestial,
Dos pés varrida a última poeira,
Do rosto enxuto seu final suor,
Deixarmos esta cena passageira,
Entrando ao santo lar de eterno amor?
Como há de ser, nos céus por Deus banhados
Dos raios da divina e excelsa luz,
Oh, que alegria! Isentos de pecados,
Estarmos nós diante de Jesus!
E pela vez primeira em harmonia
Com os santos cidadãos dos altos céus,
Unindo-nos, sem medo, à companhia
Que cerca o trono do supremo Deus?
Como há de ser, com sentimento ouvindo
O coro dos remidos do Senhor,
As áureas harpas, sempre retinindo
Louvores ao Cordeiro, ao Salvador;
E quando, dentro de átrios espaçosos,
Entoarmos gratos salmos, sem cessar,
E, como incenso, os hinos fervorosos
Subirem junto ao celeste altar?
Como há de ser, quando o Juiz chamar-nos:
"Benditos, vinde, para os céus entrai!"
E o Salvador dignar-se revelar-nos
A glória em que ele habita com o Pai?
Ali, não tem, jamais, a morte entrada,
Nem dor nem pranto estorvam o prazer.
A vista não se ofusca, e em volta nada
Pode a ditosa festa entristecer?
Como há de ser, quando a pasmosa história
Da triste e indigna vida que findou,
Com lucidez se espelhe na memória
Todo pecado ou mal que então passou,
O nosso apreço de Jesus aumente,
E da clemência deste Benfeitor;
E de contínuo a gratidão se alente
Por seu insigne e milagroso amor?
Como há de ser? Oh, nunca foi pensado,
Por mente ou coração humano aqui,
O bem-estar por Deus determinado
Para os que entrarem com triunfo ali!
Avante, irmãos! Avante no caminho
Que nos conduz ao gozo tão real!
Se aqui nós temos um quinhão mesquinho.
Marchamos para a glória divinal.
Robert Kalley