sábado, 2 de abril de 2011
"Pôr um chapão"
Acho que "o chapão" até nem ficou muito mal.
Hoje em dia, é frequente encontrar junto aos contentores do lixo sacos com roupa ainda em muito boas condições. Refiro-me não só a roupa de vestir como também roupa de cama e outra. Dá-me ideia que as pessoas se fartam de andar mais do que algum tempo com a mesma roupa e deitam-na fora, sem qualquer problema.
Não terão decerto dificuldade em comprar outra e mais outra.Creio tratar-se de um problema novo que surgiu com este tempo "de modernidade" que estamos a viver. Pois bem, antes, as coisas eram bem diferentes; mesmo as pessoas com mais posses económicas não deitavam a roupa fora desta maneira. Eu, pelo menos não me lembro e tenho setenta anos.Pelo contrário, as peúgas e as meias eram "passajadas", os buraquinhos que surgiam nos vestidos, saias ou blusas eram "cerzidos" - já agora o significado de cerzir: "Coser um tecido de modo que não se notem as costuras" - . Havia pouca gente que sabia cerzir, por isso haviam as cerzideiras, que eram perfeitas de agulha e até levavam caro por cerzir um buraco.
Havia também, e não só nas camadas mais pobres, quando em roupas menos finas, havia buracos, que já não dava para coser ou cerzir, o costume de "pôr um chapão", que era nem mais nem menos colocar um bocado de tecido igual ou o mais parecido possível, sobre o buraco e coser de modo a tapá-lo. Usava-se muito nas roupas de trabalho dos homens e também na roupa das mulheres e na roupa de casa. Quando eu era criança todas as mulheres e raparigas sabiam "pôr um chapão". A minha mãe punha-os muito bem; ainda os vejo lá por casa na aldeia.
Estes dias ao apanhar a roupa estendida verifiquei que as calças de pijama do Zé, entre as pernas estavam "esgaçadas", quer dizer, tinham um buraco que já seria difícil de coser normalmente, pois iria por certo romper-se outra vez. Olhei o casaco do pijama que estava em boas condições e tive pena de me desfazer do pijama, até porque o Zé gosta muito dele, pois é confortável. Foi então que me lembrei de experimentar a ver se ainda sabia "pôr um chapão". Procurei um pedaço de um tecido o mais parecido possível, neste caso digamos que não era azul nem branco como o pijama, mas era verde-claro, que foi o que se arranjou.
Meti mãos á obra munida de toda a paciência do mundo e toca a costurar. Não saiu mal de todo, e o Zé continuou a usar o pijama.
Quando acabei a obra dei por mim a rir, e a pensar: Nestes tempos de crise que correm por Portugal, por a Europa e um pouco por todo o mundo, era capaz de ser interessante e económico se o pessoal por aí começasse a "pôr chapões" na roupa em vez de, como agora, a deitar nos contentores do lixo.
Aproveito para informar os que porventura não saibam que há uma organização por aí que coloca contentores próprios para recolher roupa ainda em boas condições para distribuir por quem precisa. Procure na sua rua ou no seu bairro. Eu tenho um aqui mesmo ao pé da porta.
10 comentários:
Eu sempre faço uma faxina em meu guarda-roupa, separo as que não uso mais e dou a quem precisa, sempre fiz assim.
O que não serve para nós, serve para muitos...
Um gde abraço amiga e um fim de semana de muita luz.
beijooo.
e fizeste muito bem, minha amiga! remendar ainda é possível!
por aqui temos sempre quem ainda precisa de roupas que deixam de servir ou de se usar, nunca nada vai para o contentor...
bom fim de semana
beijinhos
Ok, já me ri bastante com o "chapão", termo que desconhecia pois sempre chamei remendo.
Quanto ao tecido ser parecido, quer dizer, será na cor ou nas riscas? Cuidado porque se a moda pegar como nova tendência, tem que exigir direitos e pôr o Zé como modelo.
Oh minha amiga, deixe que isto são só parvoíces de brincadeira. Está muito bem e eu toda a vida tenho feito arranjos e remendos. Nem queira saber.
Beijos e boas costuras.
Obrigada pelo comentário ao meu blog "Jejum e Abstinência". Com certeza que o pode partilhar com quem quiser.
Um bom fim de semana
Olá Viviana
Sempre a surpreender :))
Tem jeito, parabéns.
Ó Viviana, mas hoje em dia já nem chapão é necessário, as peças usam-se mesmo rotas, e dizem que são de marca (mesmo que feitas na China)
Sinais dos tempos, mas que não duvido, volte a ter de ser necessário.
Amiga, tenham uma boa noite e amanha um bom Domingo.
Beijos
Querida Ana linda
Eu também faço isso duas vezes no ano: Primavera e Outono.
Fiz há três dias.
Um abraço
viviana
Querida Gaivota
És do meu tempo, amiga; embora um pouco mais nova.
Olha, eu até gosto de costurar e coser a roupa.
Agora, tenho pouquinha para coser.
Um abraço, amiga
Viviana
Querida Mimi
Eu sei que a minha comadre é boa de agulha!
Prendada, mesmo.
Fiquei contente de se ter rido á minha custa.
A gente precisa mesmo é de rir.
Beijos
viviana
Querda Hélia
Nada tem que agradecer.
Apreciei mesmo.
Obrigada por a disponibilidade em ceder-me o texto.
Um grande abraço
viviana
Querida Rosa
Andava há uns tempos para colocar este post.
Surgiu agora a oportunidade.
Foi uma "gracinha"
Acha então que tenho jeito? a minha amiga especialista no assunto...
Tadinha de mim...procuro sair-me bem.
Um grande abraço
viviana
Enviar um comentário