Professor Dr. António Damásio
«Radicou-se nos Estados Unidos em 1975 e aí desbravou caminho nas neurociências das funções superiores. É um dos cientistas mais proeminentes da actualidade na sua área.
Quando o júri do Prémio Pessoa anunciou em 1992 que as personalidades distinguidas nesse ano eram António Damásio e a mulher, Hanna, os seus nomes pouco diziam à maior parte dos portugueses. Mas, por essa altura, os dois neurocientistas portugueses, que estavam radicados nos Estados Unidos desde 1975, eram já bem conhecidos naquele país e, sobretudo, na comunidade científica internacional ligada às neurociências. Nesses quase 20 anos de vida e de trabalho fora do seu país, o casal Damásio já havia começado a desbravar caminho na investigação neurológica das funções superiores, como a linguagem, a memória e as emoções, e o papel pioneiro de Hanna Damásio nas tecnologias de imagiologia cerebral que estavam a desenvolver-se rapidamente mostrara-se decisivo nessa caminhada.
Das emoções aos sentimentos, e finalmente à possibilidade de estudo da consciência e do que nela se gera, como o juízo moral, a consciência social ou a criatividade e a sua experiência mais profunda e perene, que é a arte, tudo isto António Damásio convocou ao seu trabalho de investigação e de reflexão nas neurociências. E de tudo isso nos foi sucessivamente falando, na sua linguagem elegante e fluida - como a linguagem de um romance - nos seus livros.
Foi em 1975 que António Damásio partiu definitivamente para os Estados Unidos, mas o seu trabalho como neurocientista já se tinha iniciado muito antes, em Lisboa, no Centro Egas Moniz, no Hospital de Santa Maria, onde dirigiu o Laboratório da Linguagem e onde, juntamente com o neurocirurgião João Lobo Antunes, fez trabalho pioneiro com doentes de Parkinson. Juntos publicaram então artigos sobre esse trabalho. Conheciam-se bem desde os bancos da universidade.
"Na faculdade [de Medicina de Lisboa] já se distinguia pelos seus interesses culturais, que iam muito para lá da medicina. Gostava de cinema, de música, de pintura e escrevia. Era invulgarmente cosmopolita para a sua geração", recorda João Lobo Antunes, que com ele firmou então uma sólida amizade. "Eu era na época director do jornal Encontro, da JUC [Juventude Universitária Católica], que tinha bastante prestígio, e ele fazia crítica cinematográfica para lá."
Era já a escrita, dimensão essencial da sua vida, a par da investigação, dos doentes que o ajudaram a desvendar os segredos cerebrais das emoções e da consciência e, claro, da arte e da leitura e do exercício permanente da curiosidade, que está na base de tudo.
Em 1994, Damásio publicou o Erro de Descartes - Emoção, Razão e Cérebro Humano nos Estados Unidos (publicado em Portugal pela Europa-América, no ano seguinte), e o êxito global foi ime- diato. Foi considerado um dos dez livros do ano pelo New York Times . Damásio repetiu a proeza com a segunda obra, O Sentimento de Si, em 2001. Depois disso, escreveu mais dois livros, Ao Encontro de Espinosa (2003) e, no ano passado, O Livro da Consciência, no qual discute também, as implicações sociais e filo- sóficas das suas descobertas.
Distinguido com inúmeros prémios internacionais, entre os quais os prestigiados Príncipe da Astúrias, em 2005, e o Honda, da Honda Foundation, do Japão, em 2010, Damásio é talvez o mais proeminente neurocientista da actualidade e, certamente, o mais lido no mundo. Nesse sentido, é também o mais popular. Afável, e atento, mantém sempre em público, no entanto, um perfil discreto»
Filomena Alves
Artigo parcial D.N. - Gente 18/6/2011 |
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