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Oração do Milho
«Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.
Meu gão, perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada. Ponho folhas e haste e se me ajudares Senhor, mesmo planta de acaso, solitária, dou espigas e devolvo em muitos grãos, o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo. E de mim, não se faz o pão alvo, universal.
O Justo não me consagrou Pão da Vida, nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.
Sou de origem obscura e de ascendência pobre. Alimento de rústicos e animais do jugo.
Fui o angú pesado e constante do escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante. Sou a farinha econômica do proletário.
Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paiois.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.
Sou o carcarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.
Sou a pobreza vegetal, agradecida a Vós, Senhor, que me fizeste necessária e humilde
SOU O MILHO»
Nota:
Hoje, ao entrar na minha Livraria preferida - A Bertrand do Forum Sintra - onde vou com frequência para regalar os olhos com todos aqueles livros, e sentar-me, comodamente, num recanto apropriado, descobrindo poemas belos de autores conhecidos ou não - encontrei um interessante livro de uma grande mulher que eu admiro muito - Cora Coralina - escritora brasileira de renome - Poema do Milho. Claro que o trouxe comigo e é dele este poema que acima publico com muito gosto.
1 comentário:
Obrigada, meu bom amigo.
Considero uma benção e um privilégio tê-lo como amigo.
Um beijo
Viviana
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