sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O Velho e seus Filhos - Curvo Semedo



 O Velho e seus Filhos

Um velho sábio, e prudente,
Vendo-se vizinho á morte,
Chama três filhos que tem
E fala.lhes desta sorte:
« Eia, vede, amados filhos,
« se quebrais por força ou jeito
» Este emblema» e tira um molho
De varas de vime feito.
Ao filho mais velho o dá,
Que se propõe a parti-lo;
Mas por mais forças qu'emprega,
nunca pôde consegui-lo.
Pega-lhe o filho segundo,
Destro e valente rapaz,
Que parti-lo não consegue
Por mais esforço que faz.
Entregam-no ao mais pequeno,
Que blasona de mui forte.
Torce, dobra-o, cora e sua,
E deixa-o da mesma sorte.
«Fracos moços!», diz o pai,
« Vossa fraqueza celebro!
» Vede como desta idade
» Essas varas todas quebro.»
Depois, desatando o molho,
Pronto as varas dividindo,
Com toda a facilidade
Uma a uma as vai partindo.
E diz: « Vede neste exemplo,
Filhos do meu coração,
Os desastres da discórdia
» E as vantagens da união.
» Partir não podeis, ó moços,
» as varas estando unidas;
»Mas depois de separadas
» são por fracas mãos partidas.
» Se unidos vos conservardes,
» Assim, ó filhos, sereis,
» E aos baldões impios da sorte
» Sem custo resistireis;
» Mas se algum dia a desgraça
» Vos chegar a desunir,
» Qualquer de vós aos seus golpes
» Não podereis resistir.»
Assim o velho proclama
Esta brilhante doutrina,
E ao fim de pouco tempo
Sua carreira termina.
Os filhos choram-lhe a morte
Com lamentos deploráveis!
Porém, lembram-se mui pouco
Dos seus conselhos saudáveis.
Porque danoso interesse
Em partilhas o envolve,
E um credor, e ouro credor
Os bens paternos dissolve.
Depois, vomitando injúrias,
Uns contra os outros litigam,
E os ministros com prisões
E com multas os castigam.
Pobres por fim, noite e dia
Com pranto e queixas amaras
Recordam, mas sem remédio!,
O sábio exemplo das varas.

Curvo Semedo - Numa tradução das Fábulas de La Fontaine



2 comentários:

Rosa disse...

Olá Viviana.
Já conhecia a história,não escrita desta forma.
É uma grande lição para nós.



Viviana, Abraços de amizade.

Viviana disse...


Querida Rosa

Lembro-me de o meu pai, quando eu bem pequenita...ma contar.

E a minha mãe, de uma cultura tão diferente e de terras tão distantes...ma contar também.

Interessante.
Um beijo
Viviana