segunda-feira, 26 de maio de 2014

MÃE - Um poema de Alfredo Brochado

   
O poeta e escritor Alfredo Brochado
   











MÃE

Dantes, quando a deixava, 
As férias já no fim, 
Ela vinha à janela 
Despedir-se de mim. 

Depois, quando na estrada, 
Olhava para trás, 
Deitava-me ainda a benção 
Para que eu fosse em paz. 

Dali não se movia, 
À vidraça encostada, 
Até que eu me perdia 
Já na curva da estrada. 

Hoje, se olho, calo-me 
E baixo os olhos meus! 
Já não vem à janela 
Para dizer-me adeus! 

Chove, e a chuva é fria. 
Noite! Nos montes distantes 
O Inverno principia. 
Um Inverno como dantes. 

Ao redor do lume aceso 
Todos ficamos a olhar... 
Todos não, não somos todos, 
Porque há vazio um lugar. 

Esse lugar era o dela, 
Que ninguém mais preencheu. 
Mesmo com vida, na terra, 
Era uma estrela no céu. 

(Alfredo Brochado, in "Bosque Sagrado")

Nota:


Eu faço como esta mãe fazia.


                Biografia


   «Alfredo Monteiro Brochado era filho do Dr. Alberto Vicente da Cunha Brochado e de D. Eulália da Conceição Monteiro Brochado, nasceu na freguesia de S. Gonçalo, Concelho de Amarante a 3 de Fevereiro de 1897. 
Obteve os seus estudos superiores, em Direito, pela Universidade de Coimbra. Desempenhou funções superioras no Tribunal da Relação de Lisboa. Na imprensa escrita, foi redactor da revista literária "Gazeta dos Caminhos de Ferro" e articulista no "O Primeiro de Janeiro", "Diário de Lisboa", "Diário Popular", "República", "Semana Portuguesa", "A Águia", "Ilustrações o Século Ilustrado" e na "Seara Nova". Como títulos literários refere-se, em 1921, "O Sangue de Heróis, uma Ode, que foi escrita propositadamente para a Sessão de Homenagem ao Herói Desconhecido, em Amarante, sendo recitada pelo próprio, em 10 de Abril de 1921. 
Participou na antologia "Poetas de Coimbra", uma edição do Salão dos Estudantes de Coimbra, na Casa das Beiras, no ano de 1939 e na outra obra de poesia, intitulada "Os Cem Melhores Sonetos", compilado pelo poeta de nacionalidade espanhola Fernando Maristany e no "In Memorian de Leonardo Coimbra". 
Em 1949 foi lançado um livro póstumo "Bosque Sagrado - Poemas" , com as suas criações poéticas distribuídas por 126 páginas, contendo um retrato de Alfredo Brochado, o prefácio de autoria de Teixeira de Pascoaes e uma notícia redigida por Manuel Mendes. 
Em 1952 foi editado uma outra obra literária denominado "Diálogo Antigo", uma edição de 500 exemplares. 
Faleceu em 16 de Maio de 1949, em Lisboa e ocupou por último o cargo de Chefe de Secretaria da Procuradoria-geral da República».


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