quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Um poema de Miguel Torga - XI - de Poesia Completa - I

A terra
O mar ( Foto pessoal) Magoito.
O sol (foto pessoal) Mira-Sintra

Mas a terra está  sã!
O mar é o grande mar de outrora,
o sol, como no Quaternário, amadurece!
E o sentido de tudo,
mudo,
nem no fundo das noites adormece!

O mundo acorda como no princípio!
Eternamente casta e delicada,
a luz vai-se despindo do seu véu;
e , nua, 
mostra o seu corpo astral da cor da  Lua,
e os seus olhos astrais da cor do céu.

A vida, deslumbrada, vê.
E não há goivo triste,
nem camélia a sorrir,
que não olhe o milagre e não lhe dê
o que restava ainda por abrir.

Depois, o fruto, que concentra em si
a doçura do ser,
liricamente cai.
Mas no dia que vem,
a eterna terra, a velha terra-mãe,
leveda o fruto e o rebento sai.

(Miguel Torga - no livro - Poesia Completa - I)

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