O jornalista José Miguel Gaspar |
Li, no Observador, depois confirmei no Jornal de Notícias, e confesso que o testemunho deste homem - Jornalista, me tocou de tal maneira, que não resisti a partilhá-lo aqui neste espaço com os amigos.
Ora leiam
«Quando domingo de manhã muito cedo vim do Porto para Pedrógão Grande,
não avisei a minha mãe, nem o meu pai, não lhes disse que vim a voar.
Fiquei, claro, com remorsos, mas só ontem lhe liguei, a meio da manhã,
assim que acordei. Quando ela atendeu, e atendeu logo, quase sem deixar
tocar, em vez de me chamar como me chama sempre, num querido diminutivo,
ela só disse, e imediatamente, numa voz que vi logo que já lhe vinha a
fugir, "ó meu filho, ó...", e eu engasguei--me logo, não consegui dizer
nada, estava despregado a chorar. Mas chorei como se me mordesse, chorei
para dentro, sem a deixar ver, esganado, até ouvi os meus dentes
apertados a ranger.
Mas ela já sabia, conhece-me há 48 anos, sabia que eu tinha que vir, e
já me tinha lido, a mim e à Helena, os nossos textos vinham ontem no JN a
abrir - "sim, mãe, ela está bem, mãe, não, mãe, ela não veio, ela está
aí, está tudo bem, mãe, a sério, a sério que está tudo bem, mãe, então"...
...O telefonema foi curtinho, isso é anormal, muitas vezes falamos meias
horas, é sempre à noite, quando eu chego tarde para jantar, quando chego
cedo ela espanta--se, mas ontem não, não conseguia, não lhe disse mais
nada, não lhe disse, claro que não, que ando aqui sempre quase a chorar,
mas não é por mim, mãe, eu estou bem, é por eles, mãe, ninguém merece
morrer assim, mãe, tantas pessoas que morreram a arder.»
(José Miguel Gaspar - Jornalista - http://www.jn.pt/ - 20-06-2017)
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