O poeta português Sebastião da Gama. Fonte da imagem: http://www.snpcultura.org/ |
DO MEU AMOR
Chamem por mim
(se não chamarem também vou),
chamem por mim
os leitos secos dos rios,
que este rio que sou
irá correr por eles...
Ai florinhas da margem, quase murchas!
Ai rebanhos que morrem pelas margens!
- Eu corrrerei mansinho como a Tarde...
Heis - de parir ainda, ovelhas brancas!
Heis - de ainda dar mel, florinhas tristes!
Menina feia, com pena
de se chegar à janela
(pena de si que já sabe
que não vão olhar pra ela)
anda, vem-te mirar no rio que passa!
Um instante que seja , terás graça;
serás feliz
se depois a saudade te lembrar
que ao menos por um dia foste bela.
Como um lago entomado, azul e brando, irei
onde boca ou raíz me grite sede.
Já não posso conter esta corrente calma:
trago nos meus sentidos almas vagas
de andorinhas,
que meigamente estrebucharam neles
e morreram
e pedem que as liberte...
Por isso vou, mas vou sem fúrias caudalosas.
Vou, como a Tarde cai ou como o lago se entorna;
como o voo subtil duma gaivota
que não fica onde esvoaça
mas põe o ar mais fino e mais macio
- a ver se deixo nas coisas,
não o respeito tímido e distante
que se tem p´los que foram muito grandes,
mas uma espécie de saudade
igual áquela que nos vem
por uma Irmã pequena que morreu,
ou pela Mãe que não se conheceu
e de quem tudo, tudo ( e até a sua falta)
fala...
(Sebastião da Gama - no livro - Serra - Mãe)
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