Retrato da Sra. Richard Hoare e seu bebê ((1763) óleo sobre tela, e mede 132.5 x 101.6 cm. Obra de Joshua Reynolds (1723/1792
No meio evangélico, o mês de Maio é o mês da Família. Por esse motivo, decidi, ir publicando neste espaço alguns temas sobre o assunto.Começarei hoje, apresentando a primeira parte, (o poema é longo) de um belo poema da autoria da poetisa Alsácia Fontes Machado, que se encontra no seu livro - APELO
MATERNIDADE
Quem és, flor rubra, cintilante, De pétalas de fogo, a palpitar, Que eu vejo a cada passo, Na estrada por onde vago Cheia de cansaço, Que as aves beijam e que beija o mar? Quem és? E a flor, Mais rubra e mais brilhante, Sorriu-me, aliciante E disse: - Olha em redor. Vê, tudo quanto existe, Dos vermes aos cristais, Do bosque aos areais, O dia alacre e a noite escura e triste,
O homem, e o condor, As pedras e os sóis, Tudo o que vês, enfim, Nada se faz sem mim: Eu sou o Amor!
Mais adiante, achei, Dispersas pelo chão, As pétalas cinzentas Duma outra flor desconhecida. Eram pétalas tristes, maceradas, Sangrentas, Desmaiadas, Da cor das vestes do Senhor dos Passos. Juntei-as numa mão, Senti-as a tremer, a soluçar Entre os meus braços. Mas quem és tu, então? Ó desolada flor? Acaso és a paixão? Serás a Dor? E á voz do meu carinho As pétalas chorosas, soluçantes, Responderam baixinho: Nós somos a flor da solidão, A que não tem corola nem esteio
A que não tem abrigo nem anseio, Aquela para quem o céu e o chão É ressequido e duro, A que não tem já sonho nem futuro: - Sou a Desilusão.
E estrada em que eu seguia sem parar, Nas leis do meu Destino, Levou-me a umas ruínas. As pedras resvalavam devagar, Por entre cardos riam as boninas E as sombras dos ciprestes, Ao luar, Riscavam nas arestas mais agrestes Figuras de fantasmas. Fiquei ali parada, A meditar. Tudo ali era estranho e delirante, Tão perto e tão distante Que eu estava perturbada... De súbito notei por entre as pedras Admirável flor que eu nunca vira. Tinha cor do poente Nas tardes outonais, Que ia das ametistas á safira, Do róseo das auroras aos corais... Toquei-lhe levemente. - Que intensa claridade Se desprende de ti! Não sei quem possas ser Aqui, na soledade, Vivendo nas ruínas, esquecida. Que maravilha vim achar aqui! - Escuta e vai dizê-lo á Humanidade: - Sou a Saudade!
Nota: Continua na próxima segunda-feira |
2 comentários:
Viviana querida
Que bonita esta poesia!
Obrigada pela partilha.
Fico a aguardar a prometida continuação.
Beijinho.
Dilita
Querida Dilita
Sem dúvida.
Esta senhora, que era das Caldas da Raínha, e que o meu marido conheceu bem... era uma verdadeira poetisa.
Que sentimentos tão profundos e tão belos...
A mim, tocam-me muito.
Tive pena de a não conhecer...só de nome
Um grande abraço
Viviana
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