A Retrato da Sra. Richard Hoare e seu bebê ((1763) óleo sobre tela, e mede 132.5 x 101.6 cm.Obra de Joshua Reynolds (1723/1792dicionar legenda
MATERNIDADE
Continuei errante, peregrina, Na estrada em que seguia Desde moça e menina, E fui achar mais tarde, A flor mais rara De todas as que o Sol aquece e cria, De todas as que até então achara. Aquelas três flores que eu vira outrora Achavam-se fundidas numa só,~ E a flor erguia agora As suas folhas verdes dentre o pó. Sorria para o Sol, sorria para mim, P´ra o céu e para a Terra, Como a Bonança. Ó rara flor, quem és, assim?
Tão poderosa e forte Que ao pé de ti eu sinta confiança? - Sou a que nem a morte Desespera, Sou quem move montanhas poderosas, Quem dentre os cardos faz brotar as rosas, E das entranhas do Mal o Bem espera, Quem não desiste de amansar a fera, Quem nas tuas mãos frágeis pode pôr O poder de revolver o mar profundo, Quem converte em gigante uma criança. Dos homens sou o guia e sou o pão, Sou filha da Saudade e do amor, Brotei do aroma da Desilusão, Sou a força do Mundo, -Sou a Esperança.
E a Esperança ficou dentro do mundo, No coração da Terra, Vi-a crescer maravilhosamente. E foi de vale em vale, De serra em serra, A derramar o frescor no coração da gente, A combater a Fome, a combater a Guerra. E foi riso e foi Sol, foi Alegria, Foi a luz do luar, a luz do Dia,
Foi um beijo de amor e foi miragem, Como um fanal no nosso peito a arder. E foi crescendo, crescendo, Até se tornar em Mulher, Tal qual a nossa imagem. E assim, Por um mistério da Vida Que a nossa pobre mente não alcança Nem a história dos homens nos refere, A Mulher é a Esperança E a Esperança é a Mulher.
Mulher, em ti, Encarna-se a Beleza, o Heroísmo, Existe em ti Uma centelha da Eternidade, Um misto de holocausto e altruísmo, És a Maternidade!
Teus seios túrgidos, opulentos, Derramam leite criador. Teus flancos saudáveis, arquejantes, Ocultam o mistério da concepção. Tu darás o leite aos sedentos E hás-de gerar, primeiro no coração E depois na matriz, Uma outra humanidade de gigantes Mais feliz. Há-de nascer do teu amor fecundo E a embalarás nos braços E com desvelo lhe guiarás os passos E lhe encherás o peito desde o fundo De todas as mais nobres concepções Que em ti houver, Porque é a Semente da Mulher Que há-de salvar o Mundo!
Oh que esp´rança, que sonho, que grandeza, Uma criança que cresce para a Vida Entre os teus braços criadores, Mulher! E que tarefa enorme, desmedida, Dar ao Mundo um homem mais! Tu podes não ter pão Para lhe dar, Tu podes não ter lar E o teu coração Despedaçar-se em ais, Mas tens, decerto, a boca para o beijar Quando ele salta no teu colo. E os beijos que lhe dás, Mesmo com pranto e dor, Saciam-no de amor E enchem-no de paz. Tornam-no mais formoso E fazem-no crescer. Destino glorioso É o da mãe. Mulher! E quando o peito dele contra o teu auscultas, Quando o apertas nos braços, loucamente, Tu vives duplamente E sabes porque vives e sabes porque lutas, Pois é quando tu cumpres A missão Maternal, Que tu enches o mundo E és Mulher total!
Porque foi do Amor sem altruísmo Que a Desilusão nasceu, E tudo o que era alegre entristeceu... Depois foi a Saudade que irrompeu Num clamor de indómita ansiedade, E os três geraram a Esperança No fim da tempestade...
E tu, Mulher, és a Esperança.
Mulher, filha da Esperança, Mulher, mãe do Amor, Prepara entre os teus braços, Na criança, Um mundo cheio de Pão, De Paz e de Labor Onde não haja dor, Nem a Desilusão; Só tu podes fazê-lo. O Mundo pelo qual A humanidade anseia. E no teu gesto maternal Semeia Uma Vida melhor!
(Alsácia Fontes Machado)
No livro - APELO
EDIÇÃO DE UM GRUPO DE AMIGOS da AUTORA
Lisboa - 1952 |
2 comentários:
Olá Viviana
Bem haja por ter partilhado este bonito poema.Teve de o dividir em duas partes, mas ele nada perdeu por isso.
Vou utilisar como minha, a expressão dum amigo nosso, "este poema é um Monumento!"
Beijinho.
Dilita
Querida Dilita
É sem dúvida de uma grande profundidade e beleza!
"Um monumento"
Obrigada, boa amiga
Um abraço
Viviana
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