«Um dos aspetos mais marcantes e singulares da espiritualidade cristã é a
verdade de que todos os que foram regenerados pelo Espírito divino e
que receberam a nova vida como dádiva do bom Deus recebem uma nova
identidade e são integrados na nova família, onde encontram novos
irmãos, novos amigos, enfim, um novo espaço de partilha de cuidados e
de afetos.
O extraordinário em tudo isto é o facto de, nesse novo ambiente de vida e
de culto, se destacarem mais os aspetos que os membros desta nova
família desfrutam em comum: o mesmo Deus e Pai, o mesmo Espírito
santificador, o mesmo Senhor e Salvador, o mesmo evangelho, a mesma fé, a
mesma esperança.
Na experiência da nova vida em comum, as diferenças não são, nem
anuladas, nem ignoradas; contudo, as semelhanças e tudo aquilo que os
membros da família partilham em comum são destacados e sobrevalorizados.
Tudo o que ganhava relevo, no que diz respeito aos padrões do mundo,
como a diferença de classes, de género, de nacionalidade, é suplantado
por um espírito de comunhão, de respeito mútuo e de aceitação, onde
todos são encarados como irmãos, santos e amados do Deus da graça.
Infelizmente, existe no âmago da personalidade humana uma apetência e um
desejo doentio de sobrevalorizar mais as diferenças do que aquilo que
se partilha em comum.
Pelo contrário, a Bíblia estabelece uma única divisão entre os humanos:
aqueles que amam e temem ao Senhor, por um lado, e os impenitentes (ou
ímpios), que desprezam a graça, por outro.
Desafortunadamente, mesmo no ambiente da própria Igreja, a nova família
de Deus, a tendência para destacar o que é diferente continua a estar
presente. Muitas vezes, os interesses e as inclinações pessoais egoístas
colocam obstáculos que impedem o usufruto dos benefícios comuns que nos foram outorgados pela maravilhosa graça de Deus.
Não é por acaso que o apóstolo Paulo, ao escrever aos coríntios, os
exorta (com rogos) a concordarem no seu modo de falar, isto é, que
procurassem ter um discurso consensual. De igual modo, desencorajou-os
de forma a não semear um ambiente de dissensões e de rixas, que só
produzem estagnação espiritual e esterilidade evangelística.
Em vez de promoverem egos exaltados e divisões, os coríntios são
incentivados a desenvolver um espírito de unidade mental, que não ignora
as diferenças, mas que procura convergir os interesses pessoais para o
bem comum de toda a família de fé.
Todo o esforço para promover o equilíbrio no relacionamento de cada
membro da família cristã com os demais irmãos é prova de maturidade
espiritual, reveladora do caráter cristão que promove a paz entre os
santos (2 Coríntios 13:11).
Partindo de uma das metáforas prediletas do apóstolo Paulo, com a qual
compara a Igreja a um corpo vivo, podemos afirmar, sem reserva, que,
embora ele distinga os membros do corpo uns dos outros quanto ao
cumprimento das suas funções, o que o apóstolo procura destacar é a
interdependência existente entre os mesmos e a sua relação com a
“cabeça”, que é Cristo (1 Coríntios 12: 12, 20, 25; Romanos 12:5,6).
Resta-nos, portanto, escolher o caminho indicado pelo Senhor, e seguido
pelos apóstolos, que contribui para o crescimento de cada membro, para a
edificação da igreja, como um todo, e para a promoção do bem comum de
toda a família de fé.»
Soli Deo Gloria!
Pastor Samuel Quimputo - Igreja Evangélica. Baptista de Sete - Rios - Lisboa
Sem comentários:
Enviar um comentário