sábado, 14 de novembro de 2015

AÇORES - Um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen


AÇORES

Há um intenso orgulho
Na palavra Açor
E em redor das ilhas
O mar é maior

Como num convés
Respiro amplidão
No ar brilha a luz
Da navegação

Mas este convés
É de terra escura
É de lés a lés
Prado agricultura

É terra lavrada
Por navegadores
E os que no mar pescam
São agricultores

Por isso há nos homens
Aprumo de proa
E não sei que sonho
Em cada pessoa

As casas são brancas
Em luz de pintor
Quem pintou as barras
Afinou a cor

Aqui o antigo
Tem o limpo do novo
É o mar que traz
Do largo o renovo

E como num convés
De intensa limpeza
Há no ar um brilho
De bruma e clareza

É convés lavrado
Em plena amplidão
É o mar que traz
As ilhas na mão

Buscámos no mundo
Mar e maravilhas
Deslumbradamente
Surgiram nove ilhas

E foi na Terceira
Com o mar à proa
Que nasceu a mãe
Do poeta Pessoa

Em cujo poema
Respiro amplidão
E me cerca a luz
Da navegação

Em cujo poema
Como num convés
A limpeza extrema
Luz de lés a lés

Poema onde está
A palavra pura
De um povo cindido
Por tanta aventura

Poema onde está
A palavra extrema
Que une e reconhece
Pois só no poema

Um povo amanhece

(Sophia de Mello Breyner Andresen - 1976)
No livro - Obra Poética II - Círculo de Leitores

2 comentários:

Manuela Pacheco disse...

Nunca fui aos Açores e infelizmente a lado nenhum!

Mas o poema é lindo e rima como eu gosto.
Beijos e bom fim de semana, aqui no parque de campismo está um dia radioso de sol!
Manuela

Viviana disse...

Querida Manuela

Ai! que bem que se deve ter estado nesse lindo lugar... estes dias!
Imagino... com tanto solzinho.
Um abraço amiga
Viviana