Vitorino Nemésio - poeta, romancista, cronista, académico e intelectual açoriano. |
OS CARDOS
Ai que plantaram cardos por suspeita
No meu jardim de rosas de algum dia!
Quem é que azedos em meu vinho deita?
Um triaga tal, quem na engolia?
E o búzio de sonhar, de boca estreita,
Onde a maré da minha infância ardia?
Seu musgo é já verdete. A vida espreita
E arruina tudo o que a nossa alma cria.
Aceitarei os cardos para rosas:
Meu sangue estimulado as dá de si
Como todas as coisas preciosas.
E o vinho azedo e quente o tenho ali
Para as noites mais frias e saudosas -
Que outro não quero mais, se o já bebi.
(Vitorino Nemésio - no livro - Poesia - 1935-1940)
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