O Jornalista Henrique Monteiro |
MORRER POR IDEIAS DE OUTROS
"A revelação pelo Expresso de que há portugueses dispostos a morrer pelo chamado Estado Islâmico, bando terrorista que choca o mundo, trouxe-me á memória uma velha (1972) canção do francês Georges Brassens intitulada" Mourrir por des idèes" (Morrer por ideias).
O cantor, famoso nos anos 60 e 70, quando a juventude europeia achava que devia ser maoista ou outra ista qualquer, mudar o mundo e, se necessário morrer por isso, cantava cinicamente uma letra fabulosa que ainda hoje se confirma ( são os idiotas úteis a dar a vida, nunca os líderes) ...
...É curioso como hoje vemos jovens europeus a aderir a uma causa tão sem nexo como é o jihadismo. Mas eu, que fui da extrema esquerda, tenho de reconhecer que o maoismo, o leninismo e outras aventuras, utilizando a política como causa e não como religião, não tinham resultados menos bárbaros. Não vejam aqui qualquer desculpa em relação ao bando de fanáticos que assola a Síria e o Iraque, mas confesso que hoje não desculparia o bando de fanáticos que eu, e muitos como eu, fomos na juventude. É certo que muitos de nós o abandonaram ao conhecer o barbarismo, mas outros lá ficaram e lá estão...
... - olho para estes radicais - para os europeus, únicos que ainda posso tentar compreender (porque os da Síria, do Iraque e de outros lados e não os entendo) - e vejo também uma reacção à nossa ausência de valores, de espiritualidade, ao nosso materialismo, à nossa vacuidade. Estes jovens radicais irão morrer por ideais transitórios, ao serviço de desígnios que nem conhecem. Se puderem, muitos largarão a causa e tornar-se-ão pessoas estimáveis. Sempre assim foi.E, enquanto os seus chefes mandam assassinar inocentes que apenas querem viver, preparamos alguém que lá vá e morra... pelas nossas ideias.
Que, em contraste, são tolerantes, civilizadas, pacíficas.
Esses morrerão por nós. Que havemos de fazer?"
Henrique Monteiro - No jornal Expresso, de 06/09/2014
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