quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Morrer por ideias de outros - uma crónica de Henrique Monteiro

O Jornalista Henrique Monteiro
De uma crónica  da autoria do jornalista Henrique Monteiro, publicada no Jornal Expresso do último sábado, retirei alguns excertos que considero importantes e oportunos, para os dias que vivemos, e, venho aqui partilhá-los com os amigos:

MORRER POR IDEIAS DE OUTROS

"A revelação pelo Expresso de que há portugueses  dispostos a morrer pelo chamado Estado Islâmico, bando terrorista que choca o mundo, trouxe-me á memória uma velha (1972) canção do francês Georges Brassens intitulada" Mourrir por des idèes" (Morrer por ideias).
O cantor, famoso nos anos 60 e 70, quando a juventude europeia  achava que devia ser maoista ou outra ista qualquer, mudar o mundo e, se necessário morrer por isso, cantava cinicamente uma letra fabulosa que ainda hoje se confirma ( são os idiotas úteis a dar a vida, nunca os líderes) ...

...É curioso como hoje vemos jovens europeus a aderir a uma causa tão sem nexo como é o jihadismo. Mas eu, que fui da extrema esquerda, tenho de reconhecer que o maoismo, o leninismo e outras aventuras, utilizando a política como causa e não como religião, não tinham resultados menos bárbaros. Não vejam aqui qualquer desculpa em relação ao bando de fanáticos que assola a Síria e o Iraque, mas confesso que hoje não desculparia o bando de fanáticos  que eu, e muitos como eu, fomos na juventude. É certo que muitos de nós o abandonaram ao conhecer o barbarismo, mas outros lá ficaram e lá estão...

... - olho para estes radicais -  para os europeus, únicos que ainda posso tentar compreender (porque os da Síria,  do Iraque e de outros lados e não os entendo)  - e vejo também uma reacção à nossa ausência de valores, de espiritualidade, ao nosso materialismo, à nossa vacuidade.  Estes jovens  radicais irão morrer por ideais transitórios, ao serviço de desígnios que nem conhecem. Se puderem, muitos largarão a causa e tornar-se-ão pessoas estimáveis. Sempre assim foi.E, enquanto os seus chefes mandam assassinar inocentes que apenas querem viver, preparamos alguém que  lá vá e morra... pelas  nossas ideias.
Que, em contraste,  são tolerantes, civilizadas,  pacíficas.
Esses morrerão por nós. Que havemos de fazer?"

Henrique Monteiro - No jornal Expresso, de 06/09/2014

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