sábado, 9 de julho de 2016

Há, não só seres humanos, mas também animais mutilados, que precisam de ajuda


  Entardecia. 
  Ás 18 horas, em Portugal, no mês de Julho, o "Sol ainda vai alto" (como diria a minha saudosa mãe).
Eu tinha acabado de sair, com a querida irmã Florinda, da casa do filho Zé, onde estivemos  "a dar um jeito".

   Descemos a rampa  de braço dado, pois apoiando-me num braço, sobretudo numa descida, sinto-me mais segura, dada a evolução  célere da minha artrite.

    Chegadas à beira  da estrada principal, a irmã Florinda atravessou-a e foi esperar o autocarro na paragem. Eu, sentei-me num banco à sombra de uma linda "Falsa Pimenteira", plantada no passeio, onde me sento com frequência para descansar, ou apanhar um pouco de ar fresco e sol.

Mal acabei de me sentar, pousaram  à minha frente duas pombas, ou melhor, um pombo e uma pomba.
Como gosto tanto de aves imediatamente"meti conversa" com eles. Para meu espanto, pararam mesmo diante de mim, como quem espera receber alguma coisa. Percebi imediatamente, que estariam à espera de uma "migalhitas", ou coisa do género.Tinha comigo a minha alcofinha de junco, mas lá dentro não havia nada que lhes interessasse. Nem sequer tinha dinheiro, pois habituei-me a andar sem o porta-moedas, dado que o pastor Leal, meu marido,  anda sempre com dinheiro e eu habitualmente saio com ele e, logo, para o cafézinho ou qualquer coisita conto com o porta-moedas dele.

   De repente,  ao olhar para a pomba, apercebi-me de que se equilibrava apenas numa patinha, a esquerda. Entretanto movimentou-se e, reparei que estava mutilada. Só tinha  a perna, não tinha a patinha, ou seja, não tinha a parte palmar. Tive tanta compaixão por ela que de imediato os olhos ficaram rasos de água. Achei, entretanto, que tinha que fazer alguma coisa por a pombinha e o seu companheiro. Aí...pus em acção o que eu habitualmente digo aos outros: "É só preciso usar a cabecinha e o cérebro que Deus nos deu."
Foi o que fiz. Levantei-me, decidida, e entrei no café do clube recreativo, logo ali ao lado, onde por sinal nunca costumo entrar.


Atendeu-me o senhor que estava trás do balcão e de imediato perguntou: "É uma bica'". Eu disse que não, que não era. Disse-lhe então: posso pedir~lhe um favor? Ele um pouco surpreendido ficou à espera de saber qual era o favor, e a seguir a eu ter~lhe explicado sobre a pombinha mutilada, que estava com fome, pedi-lhe se me podia dar "umas migalhinhas" ou um bocadinho de pão para as avezinhas. Expliquei-lhe que não tinha dinheiro comigo, e então, ele, com um ar um tanto estranho, foi à copa, ali ao lado do balcão, e voltou trazendo um pedacinho de pão, que me ofereceu com um sorriso.
Respondi-lhe: obrigada! Que Deus lhe pague.

E lá saí toda contente ao encontro das pombas que pareceram ter entendido o meu gesto e continuavam ali ao pé do banco. Imaginem por um instante, o meu sentimento, ao partir o pão em pedacinhos e dar-lhos a comer... Estavam mesmo esfomeadas! Comeram tudo.

Entretanto, chegou junto de mim um senhor idoso, de canadianas, que assistiu sorridente ao meu feito. Disse-me que "já as conhecia" (ás pombas) e que habitualmente trazia no bolso alguma coisa para elas.
Eu respondi-lhe: eu não costumo trazer nada, mas a partir de hoje, vou passar a  meter na alcofinha  qualquer coisa para  lhes oferecer, a elas ou a  outras,  pois pombas com fome é o que não falta por aí.

Uma vez em casa, comentei o sucedido com o Jorge e com o filho Zé; questionei-os sobre o motivo da ausência da zona palmar da patinha direita, ao que o Jorge respondeu, que possivelmente terá sido atacada por "um inimigo" que lhe terá abocanhado a patinha e lha terá  arrancado.
Pensei: com é que se curou da ferida? decerto não foi ao veterinário.

Hoje, de manhã cedo, quando o dia nascia, olhei desta janela aqui, para o local do "encontro" de ontem...e uma vez mais, ao relembrar a pombinha, os olhos encheram-se de lágrimas.

Concluí: em qualquer lugar e em qualquer altura, é possível, infelizmente, encontrar não só seres humanos mutilados, mas também animais.
Creio, que precisamos de estar prontos e disponíveis para ajudar uns e outros.
É isso que espera de nós o Deus-Criador.

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