Ó minha alma, espera silenciosa somente em Deus,
porque dele vem a minha esperança.
Só ele é a minha rocha e a minha salvação;
é a minha fortaleza; não serei abalado.
Em Deus está a minha salvação e a minha glória;
Deus é o meu forte rochedo e o meu refúgio.(Salmo 62:5-7)
«O
autor desta carta foi um missionário muito abençoado pelo Senhor em Telugo, na
Índia. Muitos, pela sua instrumentalidade foram trazidos do paganismo para a luz do Evangelho de Cristo. O Senhor, porém,
não permitiu que o seu servo continuasse a servi-lo, pois uma vez atacado de
lepra foi obrigado a regressar para a Inglaterra, onde durante 15 anos sofreu
num leito de enfermidade, privado de ter parte no serviço que tanto amava e
isolado dos seus entes queridos. Vamos a sua carta publicada em Leituras
Cristãs de 1920/1921.
"Há quase quinze anos
que não o vejo, de forma que apreciei imensamente a sua carta. Tenho tido que
suportar uma pesada cruz, mas alegro-me em poder dizer-lhe que a graça do
Senhor tem sido suficiente para mim em cada passo desta jornada.
Ao
princípio, não me podia conformar com a minha sorte, pois eram grandes os
planos que tinha formado para o futuro. No meu campo de trabalho na Índia havia
muitas almas que estavam se convertendo
ao Senhor, e já em pensamento antecipava o gozo de batizar alguns milhares.
Eu
tinha orado ao Senhor, dizendo: "Senhor, permite-me que seja Teu servo,
cheio do Teu Espírito, e que a Ti dedique todo o meu pensamento, toda a minha
energia, toda a minha vida". Ele respondeu-me, mas em vez de permitir que
O servisse como eu planejava, separou-me para sempre desse trabalho.
Jazendo aqui no hospital na
Inglaterra, e quando os primeiros horrores da perspectiva do prolongado sofrer
se apoderaram de mim, pensava muitas vezes que o Senhor me tinha esquecido e
desamparado, que de mim tinha ocultado Sua face. Mas não era assim. Quanto mais
dores tenho tido de suportar, mais fácil se me tem tornado suportá-las, e agora
regozijo-me a todo o momento no meu Salvador.
Eu sei
que já não pode faltar muito tempo para me encontrar com Ele, mas, enquanto
estou no corpo, não posso conservar-me em silêncio. Preciso dar o meu
testemunho, preciso falar do Seu grande amor por mim, e já escrevi uma tese
para ser lida no Congresso Missionário na Índia, sobre: "Como desempenhar
bem o nosso lugar na vida".
O irmão me pergunta como
estou. Já perdi a vista e a voz; não tenho pés nem artelhos, não
tenho
braços; mas o meu coração não está morto. Ainda me sinto movido de comiseração e de
desejo. Ainda anelo pela extensão do Reino de Cristo sobre a terra, e isto mais
do que nunca.
Não posso ler nem escrever,
mas as bondosas enfermeiras chegam-se para me ler e escrevem-me também o que
lhes posso ditar. Tenho tudo quanto preciso e não estaria mais confortável se
estivesse na minha própria casa.
Enquanto
viver, espero preparar outros para o trabalho na Índia, e ainda que me encontro
morrendo lentamente, não devo deixar de continuar a fazer alguma cousa que contribua
para a extensão do Reino do Redentor depois do meu passamento.
Estou certo que o irmão se
lembrará de mim nas suas orações para que eu possa ser humilde, paciente e fiel
até ao fim. Presentemente não sei o que seja ter dúvidas, e se eu ainda possuísse
a minha voz havia de cantar todo o dia. Em certas ocasiões sinto-me tão feliz
que suspiro partir para o meu lar celeste e habitar com o meu Bem Amado para
sempre.
Que o
Deus de todo o conforto o conforte e lhe conceda a Sua graça, inundando-o com a
luz da Sua presença de maneira que dia a dia o irmão seja transformado de
glória em glória na Sua imagem, é a oração do seu irmão no Reino de Cristo.
John E.
(Achei por bem publicar esta carta, quando muitos desistem por pequenos problemas, e fazem deles uma montanha).»
Orlando Arraz Maz
(No blogue: http://arrazmaz.blogspot.pt)
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