Para a minha Mãe querida - esta rosa, que plantei, cuidei e amei. |
À moda de Kipling
Se, és capaz de sofrer e, sem queixa
suportar a mais dura ingratidão,
recalcando para o fundo do peito
amarga dor que te oprime o coração...
Se és capaz de, com prazer, deixar
perder teu corpo a graça e a esbeltez,
desfigurado, por não curto prazo,
na evolução normal da gravidez...
Se és capaz de, após um dia inteiro,
de trabalho duro, sem fim, sem termo,
acordada, passar a noite toda
velando o berço do filhinho enfermo...
Se és capaz de, mesmo mui faminta,
dando-te alguém um pão de trigo ou milho,
deixar de comer, de alimentar-te
para tudo oferecer ao caro filho...
Se és capaz de numa dura prova
de amor e perdão, receber feliz,
o filho que rebelde, um dia trocou
teu puro amor pelo da meretriz...
Se és capaz de, imitando Mónica,
a santa mãe que, cheia de carinho,
chorando, orou a Deus com muita fé
que lhe salvasse o filho - o Agostinho...
Se és capaz de, esperando no Senhor,
sem nenhum desalento, a alma alerta,
o coração envolto em esperança,
conservar, dia e noite, a porta aberta...
Se és capaz de, ao modo de Cornélia,
a mãe dos Gracos, dizer ás maldosas
línguas que, entre as ricas do mundo,
os filhos são as jóias mais preciosas...
Se és capaz de, a alma alanceada,
como Maria vendo o seu Jesus,
contemplar, sem quixumes, o teu filho
inocente levando a cruz...
Se és capaz de preparar um filho
para a vida, com carinho e enlevo,
de modo a dizer ele, como Lincoln:
- Tudo o que sou à minha mãe o devo...
Se és capaz de cumprir a missão,
com ternura fazendo tua parte,
que, sem ti, tudo seria pior,
como diz Napoleão Bonaparte...
Se és capaz, ante a dura sentença
de Salomão, a alma torturada,
renunciar ao próprio filho para
não vê-lo aberto ao meio pela espada...
Se és capaz de, em luta amarga
como Rispa - a dos filhos enforcados -,
guardar dias e noites seus cadáveres,
até fossem eles sepultados...
Se és capaz de, pelo que tu és,
ao carinho dos filhos fazer jus,
é porque maior é o teu sacrifício
e muito mais pesada a tua cruz...
Se és capaz de demonstrar, na História
da França, que seus melhores reis,
justamente os mais humanitários,
tiveram as melhores mães - os três:
Blanche foi mãe de Luiz o Santo;
Maria de Cleves, a de Luiz XII;
de Henrique IV é mãe Jeanne d `Albret...
Se és capaz de merecer, com justiça,
o comentário do menino ousado:
- Que é Deus que faz os bons, eu creio, é certo,
mas sei que as mães ajudam um bocado...
Se és capaz de, vendo soldados
marchando, embora um vá com passo incerto,
dizer, em alta voz, entusiasmada:
- Só o meu filho vai com passo certo...
Se és capaz de ser quem és, mulher,
que o próprio Deus te tem em alta estima,
e que os poetas, por mais que procurem,
jamais acharam, pro teu nome, rima...
E, porque és sublime, ó mulher bendita,
mostra terrena do amor eterno,
que transforma num céu de paz e amor
o mais trrível, tormentoso inferno;
então, só podes ser a mais amada,
a mais bela entre as mais belas,
exaltada por todos os poetas
e retratada nas mais lindas telas;
merecedora do mais santo afeto,
digna da mais justa gratidão;
presente estás em todas as saudades,
no escrínio de cada coração.
Quem és então, Mulher maravilhosa,
a mais amada e sempre preferida?
Só podes ser essa mulher preciosa,
a nosa Mãe, nossa Mamãe querida!
(No livro - Cintilações - de Amantino Adorno Vassão)
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