segunda-feira, 17 de novembro de 2008
O caco
Eu fui criança já faz muito tempo.
Mais ou menos há cerca de sessenta anos.
Nessa altura, os tempos eram outros, bem diferentes dos que vivemos hoje.
Hoje,qualquer criança, que nem precisa de ter pais ricos...tem montes de brinquedos, ás vezes... o quarto cheio de brinquedos mesmo.
Na altura não. A generalidade das crianças inventava e construía os seus próprios brinquedos, a partir de coisitas que encontrava por o caminho ou pelos campos.
Eu não era excepção.
Fazia "casinhas" no chão de uma eira, ou num canto do pátio, num degrau de uma escada, ou até no meio do caminho.
Qualquer lugar servia para a gente brincar.
Recordo que as panelas e tachos eram as caixas de pomada de calçado, vazias.
O armário da loiça, era uma pedra mais lisinha que encontrava; as sardinhas, eram as folhas de oliveira; os queijos, eram o fruto das malvas, descascados, e os pratos, eram bocadinhos de cacos que encontrava meios enfiados na terra. Eram pedacinhos de um prato ou de uma travessa ou tigela, partidos.
Sempre que encontrava um caquito "novo" ficava toda contente.Ia logo mostrá-lo ás amigas e ficava toda vaidosa, ao constatar que ninguem tinha um caco igual ao meu.
O tempo foi passando e eu fui crescendo, e aos poucos, "as casinhas" foram ficando para trás... e cada dia novas responsabilidades me eram atribuidas, como por exemplo: a escola, apanhar erva para os coelhos, regar a horta, ajudar a mãe em casa, ou ir fazer recados, para a mãe ou para alguma vizinha.
O tempo dos cacos passou.
Mas, e considero isto muito curioso, ao longo da vida e dos tempos, continuei a gostar tanto de cacos coloridos, que ainda hoje quando passeio por aí ou vou caminhar, sempre que avisto um caquito caído no chão a espreitar da terra, os meus olhos batem logo nele e tenho uma vontade enorme de o apanhar e ficar a olhar bem para ele, a observar as cores e o feitio do desenho pintado.
Quando isso acontece, o meu pensamento voa direitinho para as casinhas da infância e os tempos de menina.
Um dia destes, ao colocar um prato no armário da loica, tive a consciência de que ele ficava em situação eminente de queda... mas, lá ficou assim.
No dia seguinte, ao abrir a porta do armário com mais força, o prato escorregou e, num instante estava partido em dezenas de bocadinhos, espalhados no chão da cozinha.
Fiquei arreliada comigo mesma, pois eu fui culpada de se ter partido um belo prato de pirex branco com umas listinhas azul, verde e salmão, junto aos bordos, que fazia parte de um conjunto de meia dúzia, de um "jogo" que a minha nora Teresa e o meu filho Miguel, me ofereceram num natal há alguns anos atrás.
Lá resmunguei comigo própria, arreliei-me e fui buscar a pá e a vassoura para apanhar os cacos e colocar no lixo.
Aí, mesmo no meio da arrelia, "bateu-me" uma lembrança na cabeça, e voei seis dezenas de anos trás... e ao ver-me diante de uma fartura de cacos tão lindos, abaixei-me, peguei num, e de repente tive a sensação esplêndida de ser uma menina ainda, e ter tantos cacos lndos para brincar!
Fiquei assim por alguns momentos a olhá-los; já não estava arreliada, já não me importava com o facto de ter partido o prato; dei por mim tão calma, tão serena, tão feliz.. por ter diante de mim todos aqueles bocadinhos de um prato partido, branco com listinhas azul, verde e salmão...
Apanhei um caquito do chão, mirei-o longo tempo, e guardei-o como uma doce recordação e lembrança, das casinha do meu distante tempo de menina.
Depois de o fotografar, coloquei-o numa caixinha de recordaçõe, como se tivesse o mesmo valor de todas aquelas coisas que há tantos anos eu ali guardo.
De vez em quando, no meio do meu lidar, lembro-me do caco e vou vê-lo; tiro então uma doce conclusão:
Afinal, eu, viviana, de ssessenta e sete anos...continuo a ser a mesma criança que há dezenas de anos atrás, brincava ás casinhas e com os cacos.
Que feliz me sinto por ainda ser essa criança.
Formulo então um desejo:
Que eu seja sempre criança até ao fim dos meus dias.
20 comentários:
Que lindo caquinho compartilhaste conosco!
Viviana, suas histórias são mimosas por demais, um gosto.
Então, que vc seja sempre uma criança.
Que Deus te conserve assim,
Beijinhos...
Obrigada querida Bete.
Estas histórias são "bocadinhos de mim"!
Um beijo
Viviana
Lia linda,
minha querida amiga.
È mesmo isso que eu quero.
Obrigada
Um beijo
viviana
e com cacos se fazem vidas!
também quero continuar bem desperta a criança que ainda existe dentro de mim, mais ainda agora com os mues netos!
beijinhos
De tudo se fazia um brinquedo, e éramos mais felizes.
Amiga Viviana, quando poder passe pelo meu blog, deixei-lhe lá a explicação por causa da música.
Acho que deve ter sido o que lhe expliquei, mas experimente para ver se é de facto isso que aconteceu.
Beijinho
Isabel
Olá Viviana
Lembranças ternurentas
Como já aqui o disse, são a roupa com que vamos vestindo a vida, com que vamos vestindo o dia a dia.
São lembranças "como estas" que fazem aparecer saudades e sorrisos em nossos rostos.
E com quase nada éramos felizes.
Hoje com quase tudo, encontramos crianças e jovens mal humorados e insatisfeitos, como se andassem constantemente de mal com a vida.
Hoje os seus "cacos" chamam-se "magalhães"...que não os deixa "viver" e ser crianças.
Viviana, continue a ser criança :))
Tenha uma boa noite.
Beijos
Viviana,nossa vida é mesmo feita de pedacinhos de tudo:cacos,papéis,coisinhas que só para nós têm significado porque atreladas às mais doces lembranças e às mais lindas,como as suas.
Muito lindo o seu texto,um beijo carinhoso,Sonia Regina.
Como é bom a gente continuar com o espírito de criança.
Quero que nunca acabe essa criança existente em nós.
Aguardo nos meus blogs.
Beijinhos de luz!
Vivi:
A nossa criança sempre dá um jeito de sobressair... e isto é muito bom
dá à nossa vida um encanto maior...
Só não vá se acostumar a quebrar as suas coisas para aumentar a coleção, hein??? eh! eh! eh!
bjs
Que continue sempre assim, com essa criança dentro de si! :)
Um abraço!
Nota: Mandei um beijo especial pelo Jorge! Ele deu-lhe? heheheh
Olá linda Gaivota,
È isso mesmo. Continuar a manter bem viva a criança que há dentro de nós.
Diz bem!
A mais e mais...para sermos iguais aos nossos netos!
Um bejo amiga
Viviana
Olá querida Isabel, era mesmo assim!
de tudo se fqzia um brinquedo!
E com que alegria brincávamos depois com ele!
Obrigada pela informaçã. acerca daS músicas.
Já fui lá e consegui ouvir bem.
Lindo, muito lindo!
obrigada amiga.
Um beijo
Viviana
Olá querida Rosa,
È verdade!
Quanta coisa linda e simples para recordar!...
`Tem razão.
Com tantas e tantas coisas...os jovens e crianças, nos dias de hoje...não conseguem manifestar satisfação nem felidade!
O nosso mundo está doente.
Muito doente!.
um beijo, amiga linda
Viviana
Olá querida Sónia,
È mesmo.
A nossa vida é feita de "cacos", de pedacinhos de papel...e de tantas coisinhas simples que nalgum momento da nossa vivência... foram importantes para nós.
Obrigada pelas suas palavras amáveis e encorajadoras.
Um abraço, amiga linda
viviana
Olá querida Ana Maria,
Concordo consigo. Sem esta "linda criança" que vive dentro de nós... como seria a nossa vida!?
Eu nem sequer consigo imaginar!
Mantenhamo-la viva!
Logo, logo eu irei dar um saltinho aos blogues amigos, incluindo o seu.
Um abraço carinhoso.
Viviana
Olá querida Carmen,
Eu sei que me entende!
A minha amiga é uma dessas pessoas lindas onde se manifesta com frequência a "sua criança", encantadora!..."
Sabe, tive tanta pena de partir aqulele prato!
Era lindo!
Lindo e necessário para quando tenho muita gente comendo cá em casa...
Vou até ver se encontro um igual no Hiper-mercado.
Não, eu não estou mesmo nada interessada a partir mais nenhum!
Um beijo amiga e colega...linda
Viviana
Olá querida Vilma,
Eu sei que a minha amiga nesse seu sorriso doce e lindo...manifesta tambem a sua linda criança interior...
E isso é muito bom.
Vamos ambas continuar assim.
O Jorge mal entrou e casa, deu-me o seu recadinho e o seu beijo.
Obrigada,do coração.
Que o bom Pai a abençoe a si e á sua linda família.
um beijo
Viviana
Bem que esse caco me parecia familiar...
Beijinhos,
Anabela
Olá querida Anabela,
Que engraçado!
Fez-me dar uma boa gargalhada!
È bem possível que a Anabela tenha comido nele várias vezes...
Um beijo
Viviana
Enviar um comentário