segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A leitura diária do Evangelho pode mudar a vida, diz Gabriel Magalhães

Wook.pt - Espelho Meu

Casualmente,  encontrei em cima do louceiro da cozinha, quando o limpava, um pequeno marcador de papel, a folha de Janeiro de um daqueles pequenos calendários que habitualmente colocamos na nossa secretária de trabalho.

Neste caso, foi o Jorge, meu marido, que ali o deixou.
Quando lhe peguei  reparei no pequeno pensamento escrito:

"A alma exige coragem, vai exigindo cada vez mais coragem, até nos pedir toda a nossa coragem."
   ( Autor - Gabriel Magalhães) 


 Como "gostei" do pensamento, o passo seguinte foi pesquisar sobre o autor, e encontrei isto:

 Gabriel Magalhães, professor de Literatura Espanhola na Universidade da Beira Interior (Covilhã) e de Filologia Hispânica e Portuguesa na cidade espanhola de Salamanca, é um profundo conhecedor das duas culturas.
Tem vários livros publicados, entre eles ESPELHO MEU.

Oferecemos seguidamente alguns excertos de "Espelho meu", estreia de Gabriel Magalhães no campo da espiritualidade.

Levar Jesus a sério

Uma das coisas mais curiosas que acontece aos cristãos é lerem os Evangelhos e relativizarem aquilo que foi por eles lido. Dizem: «Isto é simbólico: não se deve entender à letra.» Ou então afirmam: «Estas palavras do Senhor são exageradas. Exigem uma santidade radical de que eu não sou capaz. Estava bem arranjado se me comportasse deste modo!» E é como se o Novo Testamento se transformasse numa hipérbole moral, num exagero da virtude, que um ser humano normal e razoável não deverá pôr em prática.
Quando isto acontece, é terrível. Tornamo-nos uma coisa dupla: passamos a ser pessoas falsas, enganadoras. Lemos uma coisa, defendemos publicamente essa mesma coisa, mas depois fazemos outra, procedendo de um modo oposto àquele que se configura nas nossas convicções oficiais. Tornamo-nos, na verdade, uns grandes hipócritas. Procedemos assim por «realismo»: porque o mundo não se compadece com os «idealismos» evangélicos.

Contudo, quando começamos a avançar por este caminho «pragmático», «calculista», quase sempre descobrimos que não somos felizes, e que nunca mais encontraremos a paz. O tal nosso «realismo» só nos conduz a anos e anos de angústia, de inquietação, de tensa incerteza. De um modo geral, porém, mesmo que a sua infelicidade seja evidente, os homens não costumam voltar atrás na sua ponderação primeira, não confessam a si mesmos: «Se calhar, o caminho evangélico, que parecia tão disparatado, seria aquele que me daria a felicidade.»

Quanto a mim, hoje em dia eu sei que isso é assim: que devemos levar o Evangelho rigorosamente a sério; que devemos incorporar nos nossos comportamentos diários aquilo que dizem as palavras sagradas. Ao princípio, parecer-nos-á que nos estamos a atirar de uma ponte para um vazio incerto, mas, com o tempo, a nossa felicidade, a nossa serenidade, a nossa paz irá crescendo de um modo intenso: maravilhoso e irreversível. (...)


Por conseguinte, o que Jesus nos diz, ao dar-nos conselhos radicais, não é o que se costuma interpretar: «Sede palermas e sofrei, sofrei estupidamente.» Não é nada disso. É precisamente o contrário disso: «Sede felizes, tão felizes que possais chegar a um ponto em que, confundidos com o Espírito, nada vos importem as ofensas dos outros.» Deste modo, o Salvador tem razão: mais uma vez Ele tem razão. 

E aqui duas últimas reflexões se impõem. Primeira: o ódio ou o ressentimento constituem sempre manifestações de falta de fé. Na verdade, nós só acreditamos que alguém nos pode fazer mal se pensarmos que Deus não nos ampara completamente. Se tivermos fé, se nos sentirmos intensamente ajudados por Deus, o mal que o outro nos procura fazer só desperta em nós piedade - e preocupação pela infelicidade que, na maldade desse nosso irmão, se revela


Contudo, esta reação generosa e amante só é possível se sentirmos, se tivermos a certeza da presença efetiva do amor de Deus nos nossos dias. Se não tivermos essa certeza absoluta, já esse mal que nos é feito nos parece perigoso. E essa sensação de perigo tem como consequência o nascer do ódio e do ressentimento. Como não acreditamos mesmo em Deus e no seu poder de amor, acreditamos então no poder do mal, e no modo como esse poder pode ensombrar a nossa vida.
E é assim que o ódio nasce: como um  prolongamento, um eco no nosso interior do mal que nos é feito. Podemos até dizer que o ódio que sentimos pelo mal é uma das maiores vitórias do mal em nós. Preservar o nosso interior de qualquer reflexo do mal que nos fazem deve constituir sempre a primeira preocupação da nossa vida quando s enos deparam situações malignas.

Segunda reflexão: devemos, pois, levar Jesus a sério, mas tendo alguma paciência connosco. Nem sempre somos capazes da melhor atitude: por vezes, demoramos a instalar na nossa vida um determinado comportamento. Mas, no fundo, nós estamos vivos precisamente para fazermos esta aprendizagem. Nós estamos vivos simplesmente para aprendermos a viver - e, quando essa aprendizagem estiver concluída, teremos posto o pé na nossa eternidade. Viver é isso: corrigirmo-nos pouco a pouco até que, na nossa brevidade, se instale a nossa eternidade.

(Gabriel Magalhães)
In Espelho meu, ed. Paulinas
© SNPC | 05.02.13


( http://www.snpcultura.org/espelho_meu.htm)
    

Nota pessoal:

Já pedi ao meu filho "livreiro", o favor de me conseguir um exemplar.

3 comentários:

Paulo Costa disse...


Estimada Viviana,

Não imagina como fiquei feliz quando me deparei com este seu post sobre o livro "Espelho meu", do Prof. Gabriel Magalhães, pelo qual sinto uma enorme admiração e gratidão. Tive a indescritível honra e o imenso privilégio de o conhecer pessoalmente há cerca de 3 anos aquando da sessão de apresentação do seu livro na Biblioteca Municipal da Covilhã. Como já tinha lido o livro, antes de se iniciar a sessão de apresentação, tive a preciosa oportunidade de trocar algumas impressões com o autor e pedir-lhe uma dedicatória. É uma pessoa muito simples, humilde, atenciosa e sensível.
Como sabe, eu resido na Covilhã, sendo o Gabriel Magalhães professor na Universidade da Beira Interior (Covilhã), já tive oportunidade de me cruzar com ele algumas vezes, sobretudo durante a apresentação das suas obras literárias.

"Espelho meu", foi o primeiro livro que li dele e considero-o um dos meus livros favoritos. Costumo relê-lo com muita frequência. Entretanto, já li mais 3 livros dele. Um romance e dois ensaios. Recomendo-lhe: "Como Sobreviver a Portugal - continuando a ser português» (http://www.wook.pt/ficha/como-sobreviver-a-portugal/a/id/15975107).

Se quiser, pode ler mais alguns trechos do "Espelho meu", através dos seguintes links do meu blog "Conhecer e seguir Jesus":

http://seguirjesus.blogspot.pt/2013/04/espelho-meu-leitura-diaria-do-evangelho.html
http://seguirjesus.blogspot.pt/2013/03/calculismos.html
http://seguirjesus.blogspot.pt/2015/06/recomecar.html
http://seguirjesus.blogspot.pt/2013/03/blog-post.html

Espero que, em breve, o livro chegue às suas mãos para poder tocar o seu coração.

Um grande abraço do seu irmão em Cristo,

Paulo Costa

Viviana disse...

Olá, Paulo, meu bom amigo e irmão em Cristo

Que grata surpresa o seu comentário!...

Muito obrigada.
Obrigada por a informação acerca do Professor Gabriel Magalhães.
Que interessante o facto de o Paulo o conhecer pessoalmente.
Também por o Paulo já ter lido o livro.
Sabe que, quando na pesquisa que fiz, descobri que ele era Professor na Universidade da Covilhã, lembrei-me de si?
Porque tenho presente que o Paulo vive lá.

Obrigada também por se ter alegrado com o texto que publiquei.
Veja só...tudo a partir de um simples "marcador" de um calendário, deixado por o meu marido na cozinha.
Ah! mas o nosso Deus faz coisas... que nos fazem sorrir.

Obrigada também por as possibilidades de leitura que me deixou. Terei muito gosto em ler, creia.
O meu filho João já está a providenciar no sentido de me fazer chegar o livro.

Um grande abraço, meu bom amigo

Bênçãos sem fim, dos céus, sobre o Paulo e a sua família
Viviana

Paulo Costa disse...

Olá Viviana,

De facto, as surpresas de Deus são desconcertantes!

Espero que em breve possa desfrutar da leitura deste e de outros livros do Prof. Gabriel Magalhães. O "Espelho meu" é um livro especial, pela sua autenticidade, simplicidade, beleza, poesia e profundidade. Nas suas linhas encontramos diversas revelações autobiográficas.

Um grande abraço fraterno, com muita estima e admiração.

Paulo Costa