quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O meu pai, as casas, e o culto doméstico

Era nesta salinha, para onde abre a porta,  que tinha lugar o culto doméstico. Ainda está sobre a mesa a Bíblia e o Hinário do pai. Faleceu há 39 anos.
                       
Hoje, de manhã cedo, (6.30h) quando me preparava para ter com Deus - o -Pai, o meu momento devocional, segurando a Palavra Sagrada - a Bíblia, nas minhas mãos, e, elevando os olhos para o "céu", ainda escuro e enevoado, comecei por agradecer ao Senhor o facto de eu conhecer esse livro precioso, desde bem pequenina, e, de cada vez mais o amar e gostar de o ler e nele reflectir.
Foi nesse momento, ainda preparatório, que procurei na minha mente o registo das primeiras memórias do culto doméstico, na nossa casa, dirigido pelo grande e fiel servo de Deus, que foi o meu querido e saudoso pai. "O filme, foi rodado", nas várias casas onde vivi desde que de mim me lembro como pessoa.Comecemos por a casa de Vilela - Cabeceiras de Basto, terra do meu pai e lugar aonde nos dirigimos quando, em Lisboa desembarcámos  do  paquete "Cabo de Boa Esperança", no longínquo ano de 1944. Recordo a casa, recordo o lugar, porém não encontro "registos" do culto doméstico, mas não duvido que os houvesse. Neste momento não posso, mas "tirarei isso a limpo" logo que possa contactar com a maninha Esperança, que, com mais três anos do que eu, se lembrará por certo.
A partir de Vilela, rumámos para Leiria, onde vivi dos sete aos 19 anos, e aí sim, na primeira casa onde morámos - a casa da eira - está perfeitamente registado o momento, o lugar e até a disposição(lugar) de cada um no culto. A seguir, fomos para a casa da "tia Guilhermina" - que era mesmo ali quase em frente, e como a senhora embarcou para o Brasil - de onde nunca regressou (que eu saiba) a família alugou-nos a casa. Aí, recordo perfeitamente os cultos domésticos; tinham lugar na cozinha á volta de uma grande mesa antiga.
Mais tarde, fomos morar para a casa do "ti Manel Trinta", também não muito longe dali. Os cultos eram realizados numa grande sala ampla.
Depois, voltámos para  a casa da "tia Guilhermina" e os cultos eram feitos no mesmo lugar de antes.
Mais tarde,  os meus pais e irmãos vieram para Maceira - Pero-  Pinheiro - onde ainda temos "a casa da aldeia". Ali em Maceira, os meus pais viveram em três casas. A primeira eu  não cheguei a conhecer(só mais tarde depois de eles de lá sairem) porque eu fiquei em Leiria.
Da segunda, que era bem pertinho da actual, recordo os cultos lá em casa. E, para além dos cultos  domésticos, começaram a fazer-se cultos evangelísticos, com muitos e variados pregadores, tais como o grande Missionário e teólogo Dr. Russel Shedd e  o  Dr. Samuel Faircloth.
Dessa casa passámos para a actual logo ali duas casas  adiante. Pois bem, nesta casa estão bem registados os cultos  domésticos.  Na mesa, que ainda hoje lá está, encontra-se a  Bíblia do pai  e o hinário, em cima. Bíblia e hinário, que depois do pai partir "foram adoptados" pela mãe.  Está cheia de anotações feitas tanto pela mãe como pelo pai. Há muitas páginas do hinário dobradas no canto. sinalizando os hinos que a mãe mais gostava de cantar.Ninguém desdobra, ninguem altera nada. Queremos que fique assim como eles deixaram.

 Ali,  viveram-se momentos muito, muito belos de louvor e adoração ao Senhor. Já com os netos .
Durante muitos, muitos anos, vieram ali muitos pregadores anunciar a Palavra Sagrada.

Depois, depois, veio- uma grave e prolongada doença -  ao pai, que enquanto pôde sempre dirigiu o culto com a família. Era tal a ligação do pai com a Palavra Sagrada, que na véspera de partir para o céu,  me pediu,  com a  voz já  pouco audível...que abrisse a Bíblia e lesse, para ele e para todos quantos naquele  quarto  do hospital, estavam, as bem-aventuranças, no Ev. de S. Mateus cap. 5:1 a 12. Nessa madrugada o Senhor o chamou para junto de si.
Assim, desde que lembro de mim, e até o pai poder, sempre, sempre, ele cultuou o Senhor  em família. Casa a casa, terra a terra,

O pai partiu, e a mãe deu continuidade ao trabalho evangelístico, na sua casa.
Já eram tantos... que havia duas reuniões: Uma primeiro, dirigida pelo então jovem, (hoje pastor) Jorge Ligeiro, só para as crianças que seriam mais de vinte. E outra a seguir, dirigida pelo pastor Jorge Leal, para os adultos. Tínhamos um pastor de Cabo Verde -  pastor João Filipe Gonçalves, que acompanhava  os hinos e cânticos com o "acordeão". Era muito bonito.
E, foi quando já não cabiam todos na sala,  que foi alugada uma casa onde foi organizada  a primeira Missão Baptista em Maceira.
A mãe era  uma pessoa fabulosa. Já viúva, qualquer pessoa que lhe batesse à porta, entrava e  era-lhe oferecido um chá e um biscoito; era  lida uma porção da Palavra Sagrada, e   elevada a Deus uma prece, em favor dessa pessoa e em glorificação do Senhor. A Bíblia estava sempre ao seu lado, para ser usada sempre que necessário.

Quando  abro a  porta e  entro na sala, ao ver a  mesa e tudo no mesmo lugar, forçosamente, revivo..aqueles deliciosos momentos.

 Hoje, de manhã cedo, ainda escuro, recordei tudo isto, quando me preparava mentalmente, espiritualmente e fisicamente, para ter o meu momento devocional com o meu Deus e Senhor
.
Ah! mas é tamanha a gratidão ao Senhor por tudo isto!...
Que abençoada fui e sou.
A Ele toda a Glória, Honra,  adoração e Louvor, hoje, e para todo o sempre.


6 comentários:

Maria disse...

Lindo, lindo!
A Viviana sabe como gosto de memórias; é tão bom não deixar morrer as nossas vivências e transmiti-las aos outros.

Grata!
Eu que, fui testemunha presencial, nesta última casa...
Foi muito bom conhecer e ser recebida várias vezes por esses grandes servos de Deus - José e Nena.

Que Deus abençoe a descendência linda que deixaram.

Shalom!

Rosa disse...

Olá Viviana.

Linda e sentida descrição das suas vivências em família (de sangue e de fé)

" A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família".

( Leon Tolstoi )


Viviana, tenha uma boa noite feliz e tranquila.
Eu estou de saída para o ensaio do coro, que é uma forma (bela, para mim) de louvar a Deus.

Abraços.

Viviana disse...

Querida Mimi

Eu sei...eu sei boa amiga o quanto aprecia manter vivas as coisas importantes...
Eu também sou assim.

Sofro, quando me apercebo que "Coisas...e pessoas... tão lindas" vão caindo no esquecimento.

Que cada um faça o que pode...

O meu abraço bem carinhoso
Viviana

Viviana disse...

Querida Rosa

Obrigada, amiga doce e linda.

Gostei muito deste pensamento:

" A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família".

É bem verdade!

O meu abraço "à Eduarda"

Viviana

gibajuba disse...

Que lindo, Viviana, realmente você é uma pessoa muito abençoada, obrigada por compartilhar conosco momentos tão preciosos e especiais.
Beijos Julia.

Viviana disse...

Olá, Júlia

Muito prazer em recebê-la neste espaço.

Sim, na verdade, sinto que sou mesmo muito abençoada

Toda a glória para o Pai Celestial
Um abraço
Viviana