sábado, 1 de novembro de 2008
O PoetaTeixeira de Pascoaes nasceu há 131 anos
O Poeta Teixeira de Pascoaes nasceu faz amanhã 131 anos (2/11/1877).
Descobri-o faz pouco tempo, e desde então elegi-o como meu poeta preferido, ao lado de Miguel Torga.
Não o publico aqui com mais frequência, dada a extensão dos seus poemas.
Hoje mesmo publicarei aqui apenas uma pequena parte de um famoso poema -A Elegia da Solidão, a fim de que os amigos que por aqui passarem, possam conhecer um pouco mais deste homem que marcou a história da Poesia Portuguesa.
Teixeira de Pascoaes
A 2 de Novembro de 1877, nasceu em Amarante Teixeira de Pascoaes.
Dois anos mais tarde, a família muda-se para a Casa de Pascoaes situada na freguesia de São João de Gatão, nos arredores de Amarante. Será neste solar setecentista que Teixeira de Pascoaes habitará a maior parte da sua vida e onde virá a morrer, a 14 de Dezembro de 1952.
As primeiras colaborações poéticas de Pascoaes, no jornal A Flor do Tâmega, datam de 1894 e Embryões, o seu primeiro livro e o único que será repudiado pelo autor, é publicado um ano mais tarde, aos 18 anos.
Em 1896, Teixeira de Pascoaes matricula-se no curso de Direito, na Faculdade de Coimbra, publicando durante esses anos, entre outros livros, Belo, À Minha Alma, Sempre e Terra Proibida.
Em 1906, no Porto, Teixeira de Pascoaes começa a exercer advocacia, profissão de que se ocupa apenas até 1913, ano em que abandona a cidade e fixa definitivamente a sua residência em São João de Gatão. Durante os anos de vivência no Porto, Pascoaes havia publicado, por exemplo, Vida Etérea, Senhora da Noite e Marânus.
Os anos de 1912 a 1921 são marcados pela direcção da revista literária A Águia, órgão do movimento da Renascença Portuguesa, pela publicação do seu primeiro livro em prosa, Verbo Escuro, do ensaio A Arte de Ser Português, de O Bailado, entre outras obras. 1928, data de publicação de Livro de Memórias, marca a transição de Teixeira de Pascoaes da poesia para a prosa e o início de uma série de biografias: São Paulo (1934), São Jerónimo (1936), Napoleão (1940), O Penintente - Camilo Castelo Branco (1942) e Santo Agostinho (1945).
Em Portugal, a obra de Pascoaes é lida com entusiasmo e admiração pela elite intelectual da época, desde Pessoa a Sá-Carneiro, Mário Cesariny e Alexandre O’Neill, António Maria Lisboa e Eugénio de Andrade, Pedro Oom e Mário Henrique Leiria.
Durante este período muitas das obras de Pascoaes são dadas a conhecer a leitores estrangeiros, tornando-se o escritor português mais traduzido e sendo louvado por escritores como García Lorca e Unamuno.
- ELEGIA DA SOLIDÃO -
a Fernando Maristany
O incendio do sol-pôr exala um fumo rôxo
Que ás cousas vela a face...
A macerada flôr da solidão renasce;
O seu perfume é fria e branda magua,
Bruma que já foi agua...
Todo sombra e luar esvoaça o môcho;
Uma nuvem enorme, ao longe, no poente
Desvenda o coração que se deslumbra
E abraza intimamente...
O silencio a crescer, é onda que se espalha...
Sente-se vir o outomno; é já noitinha, orvalha...
Nos êrmos pinheiraes gemem as _noitibós_
E vultos de mulher, sumidos na penumbra,
Passam cantando, além, com lagrimas na voz...
Ó tristeza do mundo em tardes outomnaes!
Longinqua dôr beijando-nos o rôsto...
Crepusculo esfumado em intimo desgôsto,
Bôca da noite acêsa em frios ais...
Aparição soturna, vaga imagem
Do mêdo e do misterio...
Que solidão escura na paisagem!
Tem phantasmas e cruzes,
Tem ciprestes ao vento e moribundas luzes,
Como se fosse um grande cemiterio.
Olho em volta de mim, cheio de mêdo... Tudo
É morta indiferença, espectro mudo!
É o Verbo original arrefecido
Em fragaredos brutos convertido;
Extinto _Fiat Lux_, cadaver que fluctua
No ceu nocturno e fundo...
As almas que partiram d'este mundo
Voltam na luz da lua.
São phantasmas em neve amortalhados,
Eternamente tristes e calados...
São sonhos esvaidos, nevoa fria,
Perfis de fumo e de melancolia...
Vagas formas de imagem ilusoria
Que a lua merencoria
Molda em penumbra e cêra
Na noite transparente de chimera.
E todavia eu sinto
Um acordar de instinto,
Um palpitar de viva claridade
Em cada cousa obscura...
O aroma d'uma flôr quem sabe se é ternura?
A noite não será phantastica saudade?
A deusa que semeia estrelas no Infinito
E corôa de lagrimas divinas
A extatica tragedia das ruinas,
Toda em versos de marmore e granito?
Misteriosamente
Sobe da terra um sonho transcendente;
Emanação de mistica tristeza,
Como o fumo d'um lar
Que tem, junto do fogo, alminhas a rezar.
Mas, ai, a Natureza,
Reservada e offendida, afasta-se de nós!
E na sua mudez arrefecida
Congela a minha voz...
Um silencio mortal separa-me de tudo!
E como a sombra tragica da vida,
Vou pelo mundo além;
Enorme espectro mudo,
Monstruosa presença de ninguem!
Vivo sósinho e triste, assujeitado
Ao meu phantasma errante e desgraçado,
Em ermos de abandono;
Ermos de Portugal,
Onde a alma do sol divaga com o outomno
N'um sempiterno idilio sepulcral.
Sou nada, e quero ser!
Quero ser tudo, e eu! Quero viver
A vida misteriosa...
Interrogo o silencio e a noite rumorosa
De sombras e segredos...
Contemplo comovido os astros e os penedos,
E fico a ouvir as fontes n'um eterno
Queixume que ergue a voz durante o negro inverno!
Passo horas a aspirar o aroma d'uma flôr;
Sombra que eu vejo em pétalas de côr
Esparsas, ondeantes,
Nas virgens claridades madrugantes.
E a pura sensação que me domina,
É qual longinqua Apparição divina
Que me seduz e afaga...
E de estrela em estrela é alma que divaga...
Quantas vezes me sento á beira d'um abismo,
Sobre escarpados blócos;
E em mim perdido scismo...
E ouço apenas cair nos tenebrosos fundos,
As lagrimas de luz que vêm dos outros mundos
E a neve do silencio em negros flócos.
Absorvo-me na noite e no misterio;
Erro, ao luar, em êrmo cemiterio,
Sob as azas geladas do _nordeste_;
Interrogo na vala a sombra do cipreste
Rumorosa d'um funebre desgosto,
Com gestos espectraes ás horas do sol-posto...
E n'um doido, febril deslumbramento,
Vejo-me sepultado em pensamento
E durmo, durmo, durmo a Eternidade...
...
8 comentários:
Bom dia!
Tem selinhos lá para vc.
beijooo
obs: depois volto para ler seu texto.
olá Viviana.
E num dia como o de hoje, cinzento, frio e tristonho,
ler um poema como este de Teixeira Pascoais ajuda-nos a meditar e a lembrar quantos quiseram ser santos como o Mestre,
"Sede santos como santo é o Pai celeste" (Mt 5,48).
Só depende de cada um ter como meta a santidade e deixarmos que Ele nos guie respondendo assim ao desafio que o Senhor nos faz.
O poema leva-nos também a pensar nos ente queridos que repousam nos nossos cemitérios sob o mármore e há sombra dos ciprestes.
Tem muito de verdade.
É lindo.
Viviana, obrigada por mais esta boa lembrança.
Beijos, e as melhoras do neto Nuno.
Olá Ana linda,
Obrigada amiga.
Nem sei como lhe agradecer...
Já sei!
Um beijo
Viviana
Com o meu carinho e amizade!
Olá querida Rosa,
Gosto mesmo, do poeta Teixeira de Pascoaes.
Identifico-me com ele , em muitas coisas.
Ele diz em palavras belas e simples... o que sente por exemplo quando olha um pôr - do - sol.
Eu sinto o mesmo mas não dizer..
Ele ficou conhecido como o poeta da SAUDADE.
SAUDADE!... tem a ver comigo.
Um dia talvez aqui fale um pouco sobre "A MINHA SAUDADE".
Quanto "Aos nossos queridos que repousam á sombra dos ciprestes"...
Não foi de propósito, mas foi grande a coincidência... hoje foi o dia de Finados.
Enfim...Coisas da vida!
Desejo-lhe uma boa noite de descanso.
Um beijo
Viviana
teixeira de pascoaes tem poemas lindíssimos que até foram musicados para fado, alguns deles,
e este é bem lindo!
desejo já um santo domingo em paz e com muita luz para ti minha linda amiga
beijinhos
Olá Gaivota linda,
Não sabia.
Mas gostei de saber.
De ficar simplesmente belíssimo!
Tenha uma boa noite de descanso.
amiga linda
Um beijo
Viviana
Gostei...Parabens!
Carla
http://www.arte-e-ponto.blogspot.com
Olá Carla,
Obrigada pela visita e pelas suas palavras.
Foi muito bom recebê-la aqui,
neste humilde cantinho.
Volte sempre que quiser e poder.
Tenha um lindo domingo.
um abraço
viviana
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