quinta-feira, 28 de março de 2013

O Gato á beira do carreirinho

                            O Chorão (Salgueiro) sob o qual está enterrado o gato.

Há já muitos, muitos dias, que  o tempo por aqui é cinzento e com muita chuva miudinha. A minha Serra de Sintra envolta em neblina dia e noite, noite e dia. Não me lembro de tantos dias seguidos assim, nos anos anteriores.
A Terezinha veio buscar-me para irmos  á aldeia, sobretudo para levar comida para os gatos que habitam por ali e que esperam sempre por nós. Mal estacionamos a carro no páteo fronteiriço á casa, eles conhecem já tão bem o ruido do motor que aparecem de todos os lados para comer.Quando entrei no carro falámos sobre a hipótese de chover como nos dias anteriores. Porém, assim que estacionámos diante da cancela do jardim, de repente sirgiu um sol radioso e quentinho. Comentámos as duas que muitas vezes o Senhor nos oferece estas gracinhas, como eu costumo dizer. Enquanto ela proporcionava alimento aos gatos, eu, como faço sempre que chego, dou a volta a todo o jardim a ver  como as coisas estão. O longo tempo de chuva aliado á força da Primavera, fez com que milhares de sementes espalhadas pelo vento, germinassem e crescessem, de tal modo que inundam os próprios canteiros  e o seu redor. Olhei um canteiro de lírios  floridos, na parede,  junto ao portão da empena da casa, onde por a parede  até lá acima ao telhado da casinha do pátio traseiro, a parede está coberta por verdes e refulgentes heras que alegram  a alma e nos fazem sorrir. Em baixo, junto ao chão há um canteiro com violetas, alegrias de casa e uns arbustos tipo cactos.  Havia tantas urtigas e tanta erva de mercúrio, que eu, decidi arrancá-las e limpar assim o canteiro. A mão direita ainda permanece sob o efeito das urtigas. Quando acabei de limpar o canteiro endireitei-me para descansar as costas e foi então que os meus olhos pousaram sobre um cadáver de um gato, que veio morrer ao lado de um carreirinho por onde passam as pessoas que vivem na casa mais abaixo. Estava deitado sobre o seu lado esquerdo, esticado e virado para o carreiro. Estava molhado, sinal de que apanhara chuva e por isso foi difícil identificálo, mas seria, provávelmente, um gato macho que habitualmente ali vinha comer. As primeiras moscas estavam a visitá-lo. Fiquei calma e serena, mas com o coração mirrradinho de tristeza por o animal acabar assim,  possívelmente foi morto; há lá um vizinho que não se livra da fama de atrair os pobres bichos, que não fazem mal a ninguém, com pedaços de comida envenenados. O ano passado morreram vários, e este ano, em pouco tempo são dois que eu enterro. A Terezinha não consegiu ver. Pedi-lhe para me trazer "a enxada de pontas" que era do meu pai cavar, e com ela, numa cerimónia  recolhida e sentida, iniciei o trabalho, não sem primeiro ter elevado os olhos ao céu e agradecer a Deus a vida daquele gato, e ao mesmo tempo pedir desculpa por a maldade humana contra os animais. Por cima do local, está um enorme chorão, (salgueiro)  com os ramos caídos para o chão, floridos, muito belos, num tom dourado, lindo. Cada enxada de terra sobre o gato, como que me fazia estremecer. De repente, veio um passarinho, creio que um pisco de peito ruívo, e pousou por cima do local no chorão e cantou, cantou. Olhei para ele, e reparei ainda em duas borboletas brancas que alegremente rodopiavam entre si, penso que  num vôo nupcial.


Ficou e enterrado no local onde morreu, á beirinha do carreirinho, onde as pessoas irão passar. Fui depois buscar duas pedras mármore, brancas que coloquei sobre a terra para lembrar que ali, naquele local, morreu e foi enterrado um gato. Gostaria que quem por ali passar, possa de alguma forma pensar e reconhecer que todos os seres criados por Deus, devem ser protegidos e amados.

5 comentários:

dilita disse...

Olá Viviana.

Eu sinto que se fizermos algo de bom, mesmo que seja só um pouquinho mas que proporcione bem estar a alguém, nós nos alegramos, e só lamentamos por ser pouco.
Esta gente que maltrata animais indefesos, que lhes tira a vida e aqueles que incendeiam florestas, o que sentirão? Que prazer mórbido,mas também hediondo. Que mentes tão deformadas,que se alimentam do sofrimento de animais e da destruição de florestas onde tanta vida habita.
A Viviana corajosa como sempre!
Um abraço.
Dilita.

dilita disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
manuela pacheco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
manuela pacheco disse...

Viviana,

Quase consigo estar lá a ver tudo.
A Viviana tem um tal poder de narrativa, que me consegue transportar para os locais. Lindo.
Abraço,

Manuela

Lilasesazuis disse...

Viviana, fiquei aqui chorando, pelas suas palavras...

Você é uma alma maravilhosa.

Sabe..nessa vida acredito na lei do retorno...aqui se faz, aqui se paga...triste!!

Querida, tenha uma linda semana,

beijinhos.

Lígia e turminha:)