sábado, 24 de junho de 2017

É muito duro estar a cavar a cova para pessoas que eu conhecia - diz Maria Joaquina

Maria Joaquina   abrindo as covas para  os que morreram queimados.
Desculpem, amigos,  mas creio que ainda é tempo de "falar daquilo de que o coração está cheio".
Não podemos esconder que estamos profundamente tristes, e solidários com os que sofrem.
Partilho convosco o que li ontem no Observador

«Cinco homens e  mulheres preparam o cemitério onde serão sepultadas perto de 40 pessoas. Porque é preciso ajudar o único coveiro da terra, fechar o ciclo e enterrar os mortos.

O cemitério de Vila Facaia, pequena aldeia a oeste da vila de Pedrógão Grande, é o único pedaço de branco numa área de muitos quilómetros quadrados. À volta, tudo ficou negro depois da passagem do incêndio, que devastou particularmente aquela freguesia: morreram perto de 40 pessoas naturais dali. Durante todo o dia de terça-feira, cinco funcionários da Junta de Freguesia, comandados pelo coveiro José Francisco, conhecido como Chico, iam cavando inúmeras sepulturas, para as dezenas de funerais que se vão suceder nos próximos dias. “Nunca tive de abrir tantas covas de uma vez”, desabafa José Francisco, 57 anos, que contou com a ajuda do coveiro da freguesia vizinha da Graça para a empreitada.

 À entrada do cemitério, local isolado no meio da floresta, a 500 metros da pequena aldeia, uma carrinha da Proteção Civil denuncia o aparato que ali se vive. Ao fim da tarde, José Francisco oferece bebidas frescas a quem esteve a trabalhar durante o dia todo. Às 18h30 realizam-se os dois primeiros funerais, mas neste primeiro dia foram abertas mais sepulturas do que apenas essas duas. “Só na nossa freguesia morreram à volta de 40 pessoas, mas não quer dizer que venham todas para aqui, porque há uns que vão para fora. Estamos a abrir covas porque, quando os corpos forem libertados, vai ser tudo muito rápido. Estamos a abrir covas para ficar à espera”, explica José Francisco, de boné na cabeça e copo na mão, sentado num murete à sombra da única árvore que ali permite evitar o calor.

 Num dia normal, entrar no cemitério significa entrar num local de silêncio rodeado de floresta. Mas, neste dia, passar por aquele portão e atravessar o estreito corredor empedrado leva-nos ao único sítio movimentado da aldeia. Os funcionários da junta de freguesia vão trabalhando um pouco por toda a área do cemitério — muitas das campas têm de ser levantadas, porque grande parte das vítimas vão ser enterradas junto de familiares.

 Do lado direito do corredor, Maria Joaquina, 49 anos, trabalha apressada sob um sol escaldante — a cova que está a abrir tem de ficar pronta a tempo do funeral desta tarde, agendado para as 18h30. Baixinha, de boné na cabeça e vestindo uma t-shirt transpirada e suja de terra, com o logótipo da junta, vai falando dos que morreram como se ainda cá estivessem — talvez para se lembrar deles, ou talvez para não se deixar ir abaixo. “Além vai ser marido e mulher. E a nora e o filho também, mas esses têm de ficar ao lado, porque não há espaço para todos ali”, conta, com a pá na mão. “Ó João Paulo, tenho que tirar esta terra daqui agora, não é?”, pergunta ao coveiro vizinho, que vai ajudando a orientar os funcionários da Junta de Freguesia, muitos deles pela primeira vez a fazer um trabalho daqueles.

 Maria conhecia todos os que morreram, mas nem isso lhe tira o afinco com que vai preparando o local onde vão ser sepultados os seus amigos. Não chora. Não é resignação ou derrotismo. É vontade de fechar um ciclo e de contribuir para um funeral digno para os que estimava. “O que é que a gente há de fazer? Não podemos deixar de fazer isto, temos de fazer alguma coisa”, diz, enquanto vai contando o trabalho feito. “Já temos uma, duas, três ali, quatro, cinco. Isto agora é abrir covas.”»

 (Observador  - 23/06/2017)

2 comentários:

Rosa disse...

Olá viviana.


Espero e desejo que tudo vá correndo bem convosco.

Depois de ler todos os textos, que nos deixam com nó na garganta e lágrimas nos olhos, só respondo com um versículo lido atrás.

" Quando algum dos vossos estiver em sofrimento, recorra à oração...



É o que nos compete fazer.


Viviana, bom resto de Sábado e um bom Domingo ...

(tenho passado por aqui quase só para ler os mails (oração) diários.
A Sereninha apanhou a varicela e toda a semana tem ficado comigo, para não ir contaminar as outras crianças (se bem que foi lá, por outra criança, que ela apanhou)


A maior parte do tempo tenho de fazer o que pede (anda avó bincai com a xeeta) lá tenho de brincar com a serena :)) mas é muito bom e eu fico toda feliz


Um abraço à Eduarda

Viviana disse...

Querida Rosa

Então a Sereninha apanhou varicela?
A minha Luz pequenita, também.
É muito contagiosa mas não grave, graças a Deus.
Estou a imaginar a avó Rosa sentada no chão a brincar com a netinha...
É uma bênção sim...
Ainda ontem fiz o mesmo com as duas mais novas - Clara e Luz. A Luz fazia-me papa e servia-ma nas minhas tacinhas "bibelot"...e comi com uma colherinha de Londres e com outra da Irlanda...imagine.

Mas é mesmo muito bom!

Desejo-lhe um abençoado dia do Senhor
O meu abraço

viviana