Ao ler ontem este Testemunho, no blogue da minha linda amiga Neli - "E o pensamento voa" - pude compreender melhor o que acontece quando num casal se separa e a família fica apenas a cargo de um deles, habitualmente a mulher.
Eu já era sensível a este tema, mas depois de ler este testemunho, fui despertada para a dura e brutal realidade que milhares e milhares de mulheres como a minha amiga Neli enfrentam.
Decidi então publicar aqui o seu testemunho por dois motivos:
Primeiro, como preito de homenagem e solidariedade para com toda essa multidão de mulheres que tal como a Neli vivem este pesadelo.
Segundo, porque creio que este exemplo poderá servir de ajuda e encorajamento para outras mulheres na mesma situação.
TESTEMUNHO
“Quando o coração se me amargou e as entranhas se me comoveram, eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à tua presença. Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita. Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória”Salmo 73:21 a 24.
1988
“...Um dia a pessoa que a gente ama vai embora, levando junto nossos sonhos e projetos de vida. A gente chora, esperneia, se descabela, se arrasta...A gente nega, não quer acreditar no que está acontecendo. Nesta hora, a esperança é a primeira que morre! (por favor, não me venham dizer que é a última!!!). Mas a gente sobrevive. A princípio, como um zumbi, talvez robô; lê tudo que é literatura sobre separação, reconstrução de vida, auto-estima, sucesso; como se pudesse descobrir alguma fórmula mágica para sair de tamanho buraco.Três filhos pequenos (bem pequenos!) para criar; sem profissão, sem perspectivas, sem nem ao menos saber como movimentar uma conta bancária, ou fazer um pagamento. Deu pra sentir o clima?A essa altura percebe-se que já se está com 35 anos, e que durante os últimos 19 anos desempenhou muito bem o papel de companheira (com mestrado e Phd no assunto) e repentinamente se vê destituída do cargo. A única solução é ir à luta. A gente finge que o outro morreu; enterra, manda flores, “reza missa” e faz uma placa pedindo a Deus para conseguir esquecer...
2000
Já se passaram quase 12 anos desde o tempo em que escrevi as palavras acima, e o que me lembro daquela época foi o descomunal sentimento de raiva que se instalou em minha vida.De todos os meus relacionamentos na época, só conhecia um casal que havia se separado definitivamente, o que me chocara e entristecera muito, pois sempre acreditei no casamento e no amor.Sabia que todo casal tinha suas diferenças, mas achava que eram só fases provocadas pelo desgaste natural que ocorre em todos os relacionamentos, e que logo seriam superadas.Acho que só quem já passou por um divórcio pode entender o verdadeiro estrago que ele faz em um lar, e o sentimento de raiva que custa a ir embora.O dicionário “Aurélio” define a palavra raiva como: ódio, ira e rancor, e eu realmente sentia um misto destes sentimentos.Gosto muito de um livro infantil (Raul da Ferrugem Azul) que fala sobre um menino que “enferrujou” em várias partes do corpo por não conseguir expressar sentimentos como indignação, raiva, revolta. Da mesma forma, nossa raiva quando “engolida” pode se disfarçar de muitas formas como dores de coluna, pressão alta, enxaquecas, complicações gástricas, taquicardia, etc. Nossa ferrugem só muda de nome, mas corrói da mesma forma.Descobri ao longo destes anos, que posso, sim, sentir raiva quando sou humilhada; quando sou desprezada por pessoas que são importantes para mim, ou quando a necessária pensão alimentícia de meus filhos não vem (todos temos nossos próprios motivos para sentir raiva). Porém posso deixar Deus transformar esta raiva em mansidão. Isto não depende do meu domínio próprio, mas é fruto do Espírito em um coração transformado pelo amor de Deus.Tenho aprendido que é necessário fazermos a nossa parte. Quando estou passando por alguma crise, faço exercícios físicos, ando muito até oxigenar melhor meu cérebro e minhas idéias. Ao mesmo tempo busco a Deus, medito em cima de um versículo que seja importante para mim, canto hinos de louvor a Deus; às vezes choro, até a raiva sair e minha alma voltar ao seu sossego. Só assim consigo ouvir a voz de um Pai misericordioso, e me certificar de que as misericórdias do Senhor não têm fim, e renovam-se a cada manhã (Lamentações 3: 22 a 23).Penso que, quando estamos por demais envolvidos com nossos afazeres e nos afastamos de Deus, Ele fica com muitas saudades e permite que certas coisas aconteçam em nossas vidas para que O busquemos de todo coração.Nunca estive tão perto do Senhor como nestes anos em que tenho sido mãe, pai e provedora. Fui à luta, entrei no mercado de trabalho, passei a ser gerente financeira do meu lar e estamos sobrevivendo. Se dissesse que tem sido fácil, estaria mentindo, mas estou bem certa de que Ele está me segurando pela minha mão direita. Tem abençoado a mim e a meus filhos com familiares e amigos queridos que nos apóiam com muito amor e carinho, de forma concreta e emocional.
2008
Pois é, hoje, 5 de Agosto, completo 20 anos de carreira “solo”; (o texto acima foi uma palavra de testemunho que escrevi para a revista “Lar Cristão” em 2000) e o mais interessante, é que apesar de ainda sentir vontade de encontrar um companheiro, minha vida vai muito bem, graças a Deus!Voltei pra faculdade, me formei, construí uma carreira que me sustenta, e estou em paz comigo mesma.Os filhos criados, formados, começam a dividir despesas comigo, deixando a vida mais leve, menos assustadora.Hoje já tenho outros sonhos e novos projetos de vida, e senti vontade de compartilhar esta experiência com vocês que me visitam aqui.
“Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio do nosso Senhor Jesus Cristo.” 1 Coríntios 15.57.
Amém!