Há pessoas que o bom Deus coloca no nosso caminho e que acabam por nos marcar profundamente. São como que estrelas reluzentes, que lançam luz e alegria na nossa vida, e com as quais aprendemos coisas muito belas, que nos enriquecem e nos ajudam a perceber melhor, o que na verdade é importante na nossa caminhada aqui.
Quando essas pessoas partem para a eternidade, o desprendimento é muito doloroso e fica em nós um vazio do tamanho do mundo.
Nunca saem da nossa vida. Viverão dentro de nós sempre… creio que por toda a eternidade. E, conforme vamos avançando no nosso caminho, e concomitantemente na nossa idade, temos tendência a lembrá-las mais, e ter ainda muito mais saudades… do que já tínhamos.
Eu estou a viver essa fase da minha vida. Aos 67 anos, tenho tantas e tão belas coisas para recordar! E tantos e tão extraordinários amigos e irmãos que de algum modo fizeram parte e marcaram a minha jornada aqui.
O bom Deus foi pródigo comigo neste aspecto e em muitos outros.
Nestes últimos tempos, vem constantemente á minha memória, uma querida, doce amiga, e irmã... chamada Márcia Venturini, com quem convivi de muito perto e com quem trabalhei para o Senhor.
Aprendi tantas coisas com ela! Coisas que ainda hoje recordo tantas vezes... e que procuro pôr em prática na minha vida.
Há muito cânticos que dela me fazem lembrar. Saliento um: "Eu quero ser Senhor amado, como um vaso nas mãos do Oleiro, quebra a minha vida e faze- a de novo, eu quero ser, eu quero ser, um vaso novo." Nunca o canto, sem me lembrar dela. Ensinou-o num Acampamento da Uinão Feminina Missionária, que eu dirigi em Àgua de Madeiros, e para o qual eu a convidei para apresentar o tema do Acampamento - "Minha vida nas mãos de Deus" -.
Recordo que estávamos reunidas, sentadas debaixo daqueles enormes pinheiros do pinhal de Leiria... quando ela o ensinou. Nessa altura o meu Zè tinha 4 meses, e, como eu era dirigente do Acampamento e estava sempre com responsabilidades, então ela, oferecia-se para me cuidar do bébé. Dava-lhe a papa, o biberão, mudava-lhe as fraldas e adormecia-o. Quando ele estava acordado, e eu estava a apresentar, debaixo dos pinheiros, as minhas palestras, ela lá estava com ele ao colo, muito feliz. e conforme eu falava, o menino, julgando que eu estava a falar para ele... sorria para mim e palrava. Ela divertia-se com isso.
A última vez que a encontrei foi numa esquina de uma rua na Amadora.Ela ia com uma grande mala para o combóio e eu para o trabalho no Centro de Saúde. Claro que ela me perguntou imediatamente pelo Zézinho! Que tinha muitas saudades dele. Disse-lhe que ele estava na Universidade e ela sorriu muito feliz. Perguntei-lhe pelos filhos e ela disse-me que estavam longe, muito longe... e que sentim a casa vazia. Disse-me que eu é que tinha feito bem, ao ter um filho aos 41 anos... ela achava que deveria ter feito o mesmo. porque assim ainda teria um filho em casa e não estariam sózinhos.
Nunca mais a vi. Soube mais tarde que tinha ido para o Brasil por motivos de saúde.
Há uns meses atrás, ao abrir a Revista do Lar Cristão, vejo a sua fotografia numa página e, imediatamente, o meu coração deu um pulo de alegria, julgando que seria uma motícia anunciando a sua vinda a Portugal... e eu poderia voltar a vê-la e abraçá-la! Afinal, era a notícia da sua passagem para a eternidade. Imaginem como eu fiquei! Chorei tanto, tanto... o meu coração ficou destroçado.
Hoje, aqui, quero lembrá-la e falar um pouco sobre ela para que os que me lêm , possam conhecer um pouco desta mulher extraordinária que marcou aminha vida.
Márcia Venturini, nasceu em S. Paulo em 20/11/45.
Aos 9 anos foi baptizada e bem cedo começou a sua preparação frequentando diversas organizações, a fim de dedicar a sua vida á obra do Senhor. Logo que casou, com o querido Pastor Francisco de Sousa, rumaram para o sertão no Ceará, onde em circunstâncias bem difíceis anunciaram a Palavra.
Em 1974, segue como marido e os dois filhos pequenos para os Açores onde desenvolve um trabalho excelente. São organizadas as Igrejas de Horta e Praia da Vitória.
Ficam ali 9 anos, ao fim dos quais rumam a Portugal, e trabalham em Barcelos, Viana do Castelo e mais tarde em Santarém.
Enquanto isso, foi líder de várias organizações como por exemplo: A união Feminina Missionária e a Organização de crianças, Infantes do Rei. Também dirigiu muitos Acampamentos e encontros especiais.
Em 1996 vai para Cabo Verde onde ao fim de sete meses de estadia, organiza com seu marido a Igreja da cidade da Praia.
Ao fim de um ano, tem que regressar a S. Paulo por motivos de saúde, pois sofre de cancro do pulmão para alem das complicações de uma diabetes que a acompanhou desde criança.
No dia 27/02/07, é chamada á Glória a fim de receber a coroa da vida.
Tinha 61 anos e uma vida repleta de serviço cristão.
Os seus dois filhos: Joede e Lília, são ambos missionários. Ele é médico e Pastor na Guiné - Bissau. e ela missionária no Paraguai.
È desta linda, e grande mulher, minha amiga do coração, que eu me tenho lembrado com uma imensa saudade. Mas não só saudade… também com uma imensa e enorme gratidão a Deus, por Ele a colocar no meu caminho e por tudo quanto ela realizou, com tanto amor, para que o mundo pudesse ser um pouco melhor.
A ela, Márcia Venturini, aqui presto a minha sentida homenagem e eterna gratidão.