Participando de um culto na Igreja das Boas - Novas -Amadora |
O dicionário da língua portuguesa diz, acerca da palavra multiforme, o seguinte: "Que se apresenta de várias formas."
A Palavra de Deus, na I Epístola de S. Pedro cap.4 e versículo 10, diz-nos:"Cada um administre aos outros como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.
Esta "graça", no conceito Bíblico, significa "favor não merecido".
Posto isto, eu, como serva de Deus, que caminho com Ele pelas estradas da vida...desde pequena, posso afirmar com garantia, que tenho recebido Dele - Deus, ao longo da minha já um tanto extensa vida, "muitas gracinhas", as quais me enchem de um enorme gozo (grande alegria) espiritual.
Hoje, vou partilhar uma delas:
Há cerca de vinte anos, sendo membro da Igreja Ev. Baptista das Boas Novas - na Amadora, cuja foto acima mostra, teve lugar um acontecimento que ainda hoje, e, cada vez mais, me enche de alegria.
Estávamos na altura, sem ninguém contratado para limpar a casa de Oração. Decidiu-se então, que um grupo de senhoras se encarregaria dessa função. Fez-se uma escala e, cada sábado vinha uma senhora. Eu, era uma delas.
Então, aconteceu o seguinte:
Estando a fazer o trabalho e, tendo a porta da rua aberta, surgiu uma jovem que fez a seguinte pergunta:
"Aqui é uma Igreja?" Respondi que sim, que era uma Igreja Evangélica Baptista. Então, ela perguntou o horário dos cultos, eu informei-a e ela, agradecendo, retirou-se.
Apercebi-me que morava no primeiro andar do prédio ao lado.
No Domingo seguinte ela entrou, e participou do culto. Nunca mais deixou de vir. Contou-nos depois, que era da Guiné e que tinha fugido a pé para o Senegal, quando tinha 13 anos, porque a família queria casá-la com um tio de 55 anos, que tinha ficado viúvo. No Senegal, foi trabalhar em cada de uma família de portugueses que tinham casa no Borel - Amadora, ao lado da Igreja. Quando estes regressaram a Portugal, trouxeram-na com eles para continuar a trabalhar na casa deles.
Não sabia ler, nunca tinha andado na escola e, manifestou ao pastor da Igreja, que gostaria muito de aprender. Até porque pretendia deixar o trabalho actual e arranjar um emprego, talvez numa fábrica ou empresa. O pastor da Igreja, que já tinha experiência de levar adultos ao exame da quarta classe, prontificou-se para dar-lhe as aulas necessárias. E, assim foi. A Quinta Sanca, asim se chamava, aprendeu facilmente e, passados poucos meses fez o exame da 4ª classe e foi trabalhar numa fábrica.
Juntou dinheiro e com um empréstimo bancário, comprou uma casa em Mem.-Martins - Sintra.
Entretanto, enamorou-se de um jovem também guineense, o Fernando Cabi. Casaram na nossa igreja e eram muito felizes. Nasceram duas meninas, que hoje são mulheres.
Sempre, sempre, houve uma relação muito amiga entre eles e nós. A Quinta cozinha muito bem...e fez, vezes sem conta, "uns pastéis", deliciosos, para nós e para os crentes na nossa igreja. Entretanto "veio a crise" de emprego no país e a Quinta e o Fernando emigraram para Manchester, onde ela foi trabalhar num hotel e ele como motorista de pesados (camiões).
Num Natal, há alguns anos, o Fernando Cabi veio a Portugal tratar assuntos relacionados com
a casa em Mem-Martins. Era inverno, a "luz estava desligada", por não viverem cá. O Fernando acendeu uma braseira para se aquecer e colocou-a no quarto.
Foi fatal. O Fernando morreu.
Uma tristeza enorme.
Recebia a Quinta na minha casa e acarinhei-a . Deitada, com a cabeça no meu colo, no sofá da sala, chorava, chorava..Recordo que lhe disse: Chora, chora, minha filha...porque precisas de chorar.
Já nessa altura, ela me tratava por mãe, e ao Jorge, meu marido, por pai.
Assim continuou, e cada vez mais, ela é a minha filha e eu sou sua mãe. Como o Pastor Leal, meu marido, é pai..
Habitualmente, telefona-me de Manchester e diz-me coisas muito belas... Uma dessas coisas.. é que a minha voz e a minha gargalhada lhe dão muita paz.
Pois bem, a Quinta esteve ontem aqui em casa.
Como uma filha muito querida.
Trouxe-me tantos presentes bonitos! E, encheu-me o frigorífico de comida. Trouxe carne, muita carne. Lavou a loiça e não me deixou fazer nada.
Na véspera, convidou-nos para jantar num restaurante de renome, perto de Sintra
Com que alegria o fez!
Ontem, antes de sair daqui de casa, enquanto eu repousava das minha dores ósseas, chamei-a para junto de mim e li, para ela, o Salmo 20 da Bíblia Sagrada. Depois unimos as nossas mãos e orámos.
Entreguei-a ao cuidado do Senhor, a ela e as suas filhas Isabel e Madalena.
Saiu. Foi apanhar o auto-carro para ir para casa. Fui à janela dizer-lhe "adeus" e, reparei que chorava. Foi chorando até desaparecer no passeio.
Fechei a janela e, chorei eu.
Vai apanhar o avião amanhã ás 5 da manhã, para mais uma etapa da sua vida.
Acabei de chorar e, orei. orei , com muito fervor, ao nosso bondoso Deus, para acompanhar e cuidar da minha filha Quinta Sanca.
Eu sei...que Ele continuará a tomar conta dela.
Medito, e reflicto...na maravilhosa "MULTIFORME GRAÇA DE DEUS" para comigo.
Obrigada Senhor!.