Ainda, do blogue - Pensamentos para um Viver Feliz - http://arrazmaz.blogspot.pt - do meu irmão e amigo Orlando Arraz Maz - trouxe este texto, que gostei muito de ler, para partilhar aqui com os amigos.
DESABAFO
Desculpem-me o desabafo.
Estou cansado de ver tanta
coisa ruim e de morar nesta terra.
Vejo caos por toda a parte,
desde a cidade grande até a pequena.
É gente matando em pleno
estádio de futebol, atirando lança-foguete, tendo o adversário de time como inimigo de guerra.
Vejo pais que estupram filhas
e meninos violentados por religiosos.
Vejo políticos recebendo
propina que descaradamente agradecem a Deus por ela.
Vejo mães descartando seus
filhos recém-nascidos em latas de lixo, caçambas ou lixões.
Vejo crianças que chegaram
para as aulas, alegres, sorridentes, e logo em seguida executadas. O sorriso
que esboçavam foi apagado para sempre.
Estou cansado mesmo.
Tenho saudades da terra dos
meus antepassados, que por um tempo gozaram das suas delícias.
Aliás, não era bem uma terra,
mas era conhecida como um jardim, um lugar encantador.
Os campos floresciam, as
árvores davam frutos saborosos, e a terra era regada pelo orvalho que caia
mansamente sobre ela.
O céu era limpo, sem nuvens
escuras, e milhares de estrelas vistas a
olho nu, brilhavam num firmamento de uma beleza extraordinária.
A água dos rios era
cristalina, sem poluição, e eles a bebiam com as mãos em forma de conchas.
Neste aprazível lugar meus
antepassados eram felizes. Viviam sem medos, sem sustos, dormiam bem, sem
qualquer doença, lágrimas ou tristezas.
Caminhavam por entre lindas
árvores e comiam seus frutos. No meio do jardim o Criador plantou uma árvore
especial extremamente maravilhosa, e deu-lhe o nome de árvore da vida. Bem ao seu lado plantou outra árvore, não
menos bela chamada árvore do conhecimento do bem e do mal. Esta era a única
árvore cujos frutos não podiam ser saboreados. Era ordem do Criador.
E o melhor de tudo, o Criador
tomava forma humana, e todo o cair da tarde vinha visitar meus antepassados. E
havia uma comunhão plena entre eles, uma conversa de olho no olho, sem medo de
acusações ou mal entendidos.
Até que um dia, uma fatalidade
aconteceu naquele jardim de delícias. Uma serpente apareceu para meus primeiros
pais, falando normalmente com eles, mostrando-se amiga, os quais nem sequer se assustaram, o que me leva a crer que era
algo normal entre eles.
Uma conversa até certo ponto interessante, ou melhor, uma
sugestão de que eles poderiam ser iguais ao Criador, quais deuses poderosos. E rapidamente caíram nesse conto.
Desobedeceram as ordens do Criador,
saborearam o fruto da árvore proibida, e logo depois foram
expulsos daquele lindo jardim. E aí começou um caminho de miséria e de dor.
Entre meus antepassados instalou-se um clima bastante carregado, e iniciou-se uma série de acusações entre
ambos. Um atribuía culpa ao outro, uma coisa horrível.
E Deus, o Criador, tomou algumas providências: fez vestidos de pele de animal para ambos,
substituindo pelo vestido de folhas que trajavam, tão precário e inútil; depois deu-lhes a
conhecer a sentença que viria a transformar suas vidas em grande sofrimento que
até então desconheciam: a expulsão daquele lindo jardim. E mais: para evitar a
retomada da posse do jardim, Deus colocou querubins, e uma espada flamejante
que se volvia por todos os lados, para guardar o caminho da árvore da vida.
Fora
do jardim a vida se tornou difícil. Entre tantos dissabores,
o pior aconteceu: não tardou uma desavença entre os dois filhos dos meus
antepassados, que resultou em morte, o primeiro assassinato. E
através dos anos mais
tragédias aconteceram, até chegar a meus angustiantes dias.
Quem não sonha morar em um jardim de delícias como aquele ?
Pois bem, embora minhas
lembranças daquele jardim sejam saudosas, e sofra como muitos as consequências
da desobediência dos meus antepassados, minha esperança é que um dia aquele
jardim será restaurado, e habitado por mim e por todos os que confiaram e
lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro. E será infinitamente melhor, pois Jesus, a luz do mundo, brilhará para
sempre, sem necessitar da luz do sol.
E lá não terei mais tristes lembranças.
Que assim seja
Orlando Arraz Maz
http://arrazmaz.blogspot.pt